Topo

Kathlen: OAB diz que ação policial foi ilegal; PM fala que reagiu a ataque

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

10/06/2021 14h13

A Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ afirma que há elementos para classificar como ilegal a ação policial que resultou na morte na terça-feira (8) da designer de interiores Kathlen Romeu, no Complexo do Lins, zona norte do Rio. Para a comissão, a ação desobedeceu decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).

Já os policiais militares sustentam ter reagido a um ataque criminoso. A jovem de 24 anos caminhava com a avó, Sayonara Oliveira, por uma rua da comunidade quando foi atingida por um tiro de fuzil. Ela estava grávida de três meses.

O advogado Rodrigo Mondego, procurador da comissão, diz que os relatos de moradores e de familiares de Kathlen apontam que os PMs aplicaram um método chamado de "troia" —quando agentes ficam escondidos em uma casa para surpreender traficantes.

Conforme essa versão, policiais dispararam em direção a um ponto de venda de drogas e um dos tiros atingiu Kathlen.

Essa ação, na avaliação da OAB, descumpre a decisão da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 635, que restringe operações durante a pandemia. Por essa decisão do STF, polícias do Rio só podem agir dentro das favelas em casos excepcionais e aplicando medidas para reduzir mortes.

Entretanto, a Polícia Militar afirma que não houve operação policial. A versão sustentada pela corporação é de que houve revide à ação de homens armados, que teriam atacado uma equipe da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) Lins.

Mondego diz acreditar que a investigação da Polícia Civil vai esclarecer o fato. Ele afirma que os policiais têm a presunção de inocência garantida, mas que a versão da família não pode ser desconsiderada.

"Tem que se garantir também a 'presunção de verdade' da família, de uma avó que viu a neta praticamente morrer em seus braços. O Estado não pode, imediatamente, tratar essa avó como se ela estivesse mentindo."

Jakelline de Oliveira, mãe de Kethlen, responsabilizou a PM pelo trágico desfecho da ação.

"Minha filha foi executada. [Os policiais estavam] dentro de uma casa, viram os bandidos e atiraram. Eles tinham que ter cuidado, na favela não mora só bandido. Ela [Kathlen] morreu nos braços da minha mãe, foi ver a avó, pois estava com saudade."

Avó pediu socorro a policiais militares

A Delegacia de Homicídios da Capital investiga o caso. Foram apreendidas 21 armas usadas pelos policiais —12 fuzis e nove pistolas.

A PM informou que a Coordenadoria de Polícia Pacificadora, responsável pelas UPPs, instaurou um procedimento interno para investigar a morte de Kathlen. Esta investigação é paralela à da Polícia Civil.

Em um primeiro depoimento, ainda no momento de reconhecer o corpo da neta, a avó de Kathlen diz não ter visto o deslocamento de policiais militares ou outras pessoas armadas atirando.

Ela disse ter ouvido alguns disparos —em seguida, viu a neta caída no chão. Ainda de acordo com a avó da vítima, algumas pessoas correram após os disparos, mas ela não sabe afirmar se eram traficantes armados ou se eram moradores se protegendo de tiros.

Após perceber que a neta foi atingida, Sayonara pediu para que policiais parassem de atirar e ajudassem a jovem, de acordo com relato feito a jornalistas no IML (Instituto Médico-Legal).

A Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ se disponibilizou a acompanhar familiares de Kathlen e testemunhas da ação durante depoimento à Polícia Civil. Ainda não há data prevista para esses depoimentos.