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Pedreiro negro preso por ter sobrenome de traficante é solto após 88 dias

Família reencontra Sandro Castilho em liberdade Imagem: Reprodução/TV Globo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/06/2021 16h49Atualizada em 15/06/2021 17h24

A Justiça do Rio de Janeiro revogou na sexta-feira (11) a prisão preventiva do pedreiro Sandro dos Santos Castilho, de 44 anos. Negro, ele ficou preso por 88 dias, após ser identificado erroneamente como membro de uma quadrilha que comanda o tráfico da região de Boaçu, bairro da cidade de São Gonçalo (RJ).

Familiares do pedreiro detalharam que ele foi preso durante uma blitz em Niterói, com os agentes alegando que ele teria um mandado aberto em seu nome, quando na verdade ele apenas tem o mesmo sobrenome do homem procurado pela polícia pela comercialização de drogas. Eles não têm parentesco.

Sandro reencontrou sua família após ser colocado em liberdade do Complexo Penitenciário de Bangu, na zona oeste do Rio, na tarde de ontem, segundo a TV Globo. Ele foi recebido com festa no lado de fora da prisão pelos parentes, que chegaram a juntar R$ 8 mil para custear um advogado.

Na audiência de custódia, testemunhas de acusação disseram que as características de Sandro não batiam com as do suspeito e, portanto, não reconheceram o pedreiro como sendo integrante da quadrilha, o que levou à soltura de Sandro. Ele, no entanto, ainda responde ao processo e aguarda a conclusão em liberdade.

O reconhecimento falho de Sandro não é uma ocorrência isolada e problemas do tipo afetam principalmente a população negra. Segundo levantamento publicado pela OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Rio de Janeiro) em outubro de 2020, 70% dos inocentes presos injustamente por falha no reconhecimento são negros.

Entenda o caso

A família de Sandro acredita que a polícia possa tê-lo confundido com um homem acusado de pertencer à quadrilha de Boacu e irmão de Vanderson Pinheiro de Castilho, conhecido como "Branco", que está preso por tráfico e, segundo a polícia, dá informações por telefone de dentro da cadeia para que a família continue operando a organização criminosa.

"Estou desde o dia 20 de março sem ver meu marido, sem ter contato com ele. Nós estamos juntos há 19 anos, ele é uma ótima pessoa, sempre trabalhou, sempre andou de cabeça erguida", lembrou à TV Valéria Costa de Oliveira, mulher de Sandro, no dia 1 de junho, quando Sandro completava 73 dias preso.

"Me trouxeram aqui para fazer averiguação. Aí eu tô fazendo aqui, ver o que que é, tá bom? Mas fica tranquila aí que está tudo bem. Tá bom? Eu sou trabalhador, fazer o quê?", falava Sandro em uma das ligações que tinha com a esposa.

O homem trabalha como pedreiro há três anos para uma empresa de engenharia sediada em Niterói e foi detido em uma parada policial em março, sendo informado pelos PMs que havia um mandado em aberto contra ele.

"O Sandro presta serviços para a gente há 3 anos, estava indo para uma obra e acabou sendo preso. Acreditamos que seja injusto porque é um rapaz bem comprometido, não tem nenhuma falta", defende Rafael Carvalho Beckmann, o dono da empresa em que Sandro trabalha.

Família mandou bordar camisetas com o rosto de Sandro Imagem: Reprodução/TV Globo

A mãe também apelou para a soltura do filho: "Ele é tudo na minha vida, é trabalhador e é honesto. Eu peço à meritíssima que solte o meu filho, porque ele é honesto, é trabalhador. Ele que me sustenta!", pediu Sônia Maria dos Santos Castilho em entrevista à TV Globo.

A Polícia Civil disse que Sandro foi preso em cumprimento de uma decisão expedida pelo Tribunal de Justiça, que informou que o processo corre em sigilo.

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