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Advogada presa acusada de levar bilhetes do CV a presídio será transferida

16.jun.2021 - Policial penal entregava e recolhia bilhetes com a cúpula do CV em presídio federal de Catanduvas (PR), segundo a PF - Reprodução/PF
16.jun.2021 - Policial penal entregava e recolhia bilhetes com a cúpula do CV em presídio federal de Catanduvas (PR), segundo a PF Imagem: Reprodução/PF

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

21/06/2021 20h50

A advogada Luceia Alcântara de Macedo, presa preventivamente desde o dia 15 deste mês em uma operação da Polícia Federal e apontada pela investigação como a responsável por organizar um esquema de envio de bilhetes entregues à cúpula do CV (Comando Vermelho) no presídio federal de Catanduvas (PR), irá para uma Sala de Estado Maior, prerrogativa para advogados.

O UOL teve acesso à decisão de hoje da Justiça Federal do Paraná, que determinou a transferência imediata da defensora, detida em um presídio em Toledo (PR). A expectativa da defesa de Luceia é que a transferência ocorra amanhã (22) de manhã.

"Defiro o pedido da defesa determinado que a autoridade policial observe imediatamente o recolhimento da investigada em Sala de Estado Maior ou local que observe as prerrogativas da classe dos Advogados", disse um dos trechos da decisão.

"É um primeiro passo para desfazer as ilegalidades já demonstradas. Garantir direitos é a principal função da advocacia e do Judiciário", disse ao UOL o advogado Thiago Minagé, que representa a defensora.

A Justiça Federal contudo negou o pedido de conversão de prisão preventiva em domiciliar, já que Luceia tem uma filha de 4 anos, por entender que ela não é a única responsável pelos cuidados da criança. A defesa da advogada irá recorrer da decisão.

A advogada Luceia Aparecida Alcântara de Macedo é acusada de coordenar um esquema de repasse de bilhetes do tráfico de drogas para a cúpula do CV no presídio federal de Catanduvas (PR) - Reprodução - Reprodução
A advogada Luceia Aparecida Alcântara de Macedo é acusada de coordenar um esquema de repasse de bilhetes do tráfico de drogas para a cúpula do CV no presídio federal de Catanduvas (PR)
Imagem: Reprodução

Advogada presa movimentou mais de R$ 5 milhões

Apontada pela PF como a responsável por organizar a entrada e a saída de bilhetes na penitenciária federal de Catanduvas (PR) e de fazer pagamentos a mando do CV, a advogada movimentou R$ 5 milhões em transações bancárias em menos de dois anos, segundo a investigação. Mais de R$ 500 mil das movimentações se deu em dinheiro vivo.

"Chama atenção o fracionamento dos depósitos, todos inferiores a R$ 10 mil, a fim de evitar transações suspeitas que podem ser objeto de análise dos órgãos de inteligência financeira", diz um dos trechos do inquérito da PF.

Ela também é acusada de fazer pagamentos a parentes de integrantes do CV detidos no sistema penitenciário federal.

Com base na quebra de sigilos bancários, a investigação verificou a movimentação de valores na conta da filha de 4 anos da defensora. A PF também acusa a advogada de participação em crime de lavagem de dinheiro para ocultar a origem ilícita do seu patrimônio com a aquisição de veículos, imóveis e até de seis cavalos de corrida no Rio de Janeiro.

Como funcionava o esquema

A PF deflagrou no dia 15 deste mês uma operação para cumprir os mandados de prisão preventiva decretados pela Justiça Federal dos 24 envolvidos no esquema, suspeitos de participação em crimes como corrupção, organização criminosa, lavagem de dinheiro e associação para o tráfico.

O UOL teve acesso aos detalhes da investigação, que conta com interceptações telefônicas, quebras do sigilo bancário, fiscal e financeiro dos investigados. No inquérito, há imagens de mais de 30 entregas de bilhetes feitas pelo policial penal Docimar Pinheiro.

Ele foi flagrado por câmeras de segurança do presídio federal de Catanduvas (PR) enquanto entregava esses bilhetes aos chefões do CV. Entre eles, Fabiano Atanásio da Silva, o FB, acusado de ser o principal responsável pela ação atrás das grades. Imagens mostram ainda um detento lendo um bilhete para Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, apontado como o principal chefão da facção criminosa.

O que dizem os investigados

A advogada Paloma Gurgel, que representa Marcinho VC, nega as acusações. "Em nenhum momento foi demonstrado pelas provas anexas nos autos que ele era o destinatário ou emitente dos bilhetes", disse.

A defesa de Fabiano Atanásio da Silva, o FB, e de outros integrantes da cúpula do CV apontados como integrantes do esquema pela PF, não se manifestou alegando não ter tido acesso ao inquérito. A reportagem não localizou a defesa do agente penal Docimar Pinheiro.