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Ex-prefeito condenado por corrupção é encontrado se passando por CEO de app

Santolia estava residindo em Caraguatatuba, onde portava a identidade falsa de Antônio Lima - Divulgação/Polícia Civil
Santolia estava residindo em Caraguatatuba, onde portava a identidade falsa de Antônio Lima Imagem: Divulgação/Polícia Civil

Colaboração para o UOL, em São Paulo

28/06/2021 10h35

O ex-prefeito de Esperantina (PI) Felipe Santolia foi encontrado na semana passada, após passar mais de dois anos foragido da Justiça. Condenado a 12 anos de prisão, em 2019, pelo desvio de mais de R$ 20 milhões dos cofres públicos, o ex-prefeito estava escondido em Caraguatatuba, no litoral de São Paulo, e teve o paradeiro descoberto a partir de uma denúncia anônima, repassada à equipe do "Fantástico", da Rede Globo.

Mandatário da cidade de Esperantina entre 2005 e 2008, Santolia foi condenado pela primeira vez em 2019 após desviar fundos de pensão de funcionários públicos. Foragido da justiça desde então, o ex-prefeito se escondeu no litoral de São Paulo, deixando mais 65 processos em aberto na Justiça.

Na sentença da primeira condenação, que levaria o réu a 12 anos de prisão pela corrupção, o juiz declarou que o dinheiro desviado pelo ex-prefeito era gasto em orgias e que ele expendia cerca R$ 50 mil por mês para manter o estilo de vida.

A repercussão do caso foi motivo de chacota entre os cidadãos e originou o "Dia do Orgasmo" na cidade de Esperantina, comemorado no dia 9 de maio.

Investigação

Uma denúncia anônima revelou que o ex-prefeito estaria escondido em Caraguatatuba, no litoral de São Paulo. A equipe de reportagem da Rede Globo, então, foi até a cidade investigar seu paradeiro e descobriu o endereço do sobrado onde ele supostamente residia.

A rotina do suposto alvo foi acompanhada durante duas semanas. De acordo com a reportagem, ele saía pouco de casa e, na maioria das vezes que era visto, estava fumando cigarros na varanda da residência. O comportamento logo foi tido como suspeito, pois indicava que o alvo se comportava como um foragido.

Nas poucas vezes em que foi visto fora da casa, o ex-prefeito saiu para fazer compras na região da residência, onde interagiu bastante com vizinhos. Entretanto, durante às duas semanas de investigação, ele foi visto apenas uma vez no centro da cidade.

Apesar do comportamento duvidoso, o homem investigado pela reportagem apresentava mudanças corporais em relação com a última vez em que teria sido visto, tendo deixado a barba e o cabelo crescerem.

Assim sendo, o perito em crimes digitais Wanderson Castilho foi consultado pela reportagem de modo a apurar se o homem em questão era, de fato, o ex-prefeito.

Marca na testa utilizada para reconhecer o alvo - Reprodução/Rede Globo - Reprodução/Rede Globo
Marca na testa utilizada para reconhecer o alvo
Imagem: Reprodução/Rede Globo

O especialista logo notou uma marca na testa do ex-prefeito que também estava presente nas imagens apresentadas pelos denunciantes. O mesmo distanciamento entre os olhos e o nariz também deu "um grande indicativo que era a mesma pessoa", conforme afirmado pelo perito.

Também foi apurado que, no litoral de São Paulo, Felipe Santolia vivia com o nome de Antônio Lima. Entretanto, na região, o ex-prefeito era mais conhecido como "Chico Namastê", um suposto CEO de um aplicativo utilizado por empresas de Caraguatatuba.
Após reunir os diversos indícios que apontavam que o homem investigado era efetivamente o ex-prefeito foragido da Justiça, a equipe da Rede Globo efetuou uma denúncia para o Departamento de Capturas da Polícia Civil do Estado de São Paulo.

Abordagem policial

Equipes policiais, então, foram até o sobrado onde o político aparentemente morava, mas ele não estava lá. As buscas logo se estenderam por todo o município, com Felipe Santolia tendo sido encontrado em uma de suas raras visitas ao centro da cidade litorânea.

Durante a abordagem policial, o ex-prefeito tentou persuadir os oficiais de que não era o ex-prefeito de Esperantina. "Meu irmão que foi [prefeito]", afirmou. Todavia, seu depoimento apresentou contradições.

De volta ao sobrado em que se escondia, Felipe Santolia apresentou um documento falso, fabricado pela internet, com o nome de Antônio Lima. A Polícia, no entanto, reconheceu invalidez do papel, confirmou o mandado de prisão emitido pela justiça do Piauí e deteve o suspeito.

Em frente às câmeras, enquanto era escoltado em direção a uma viatura, Felipe Santolia negou novamente ser o ex-prefeito e, em tom irônico, disse que era "lógico" que iria provar isso. "Vou só mostrar o tanto que a polícia pode muitas vezes se equivocar", afirmou, quando já estava no porta-malas do carro policial.

Segundo Ivalda Aleixo, delegada da divisão de capturas do DOPE, Felipe Santolia apresentou "características de uma pessoa muito fria", durante a abordagem policial. "Ele estava seguro de que nos convenceria", afirmou a delegada.

As negações a respeito da verdadeira identidade duraram até a polícia levar Felipe Santolia para um exame de corpo delito. Ao ver o procedimento que seria feito a partir de suas digitais, conforme relatado pela delegada Aleixo, o suspeito desistiu das mentiras e disse: "Tá bom, sou eu".

Mesmo com a confissão do ex-prefeito, o procedimento foi feito e suas digitais comprovaram que ele era o homem foragido.

Resolução judicial

Após a prisão de Felipe Santolia, a justiça concluiu, na sexta-feira (25), mais dois processos de desvio de dinheiro público que, juntos, somam mais 20 anos de prisão à pena do ex-prefeito. Todavia, as dezenas de acusações ainda a serem julgadas pela justiça devem aumentar seu tempo de reclusão.

Apesar da prisão do ex-prefeito condenado por corrupção, Esperantina ainda lida com o legado de sua gestão criminosa. Segundo Santhiago Holanda, procurador-geral da cidade, o prejuízo que a prefeitura teve com a gestão de Santolia é de R$ 23 milhões.

"A gestão de Santolia, ela foi para Esperantina um desastre completo", afirmou o procurador.