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Óleo que matou casal tinha mesma substância que contaminou cervejas Backer

Polícia exibiu amostra de óleo comprado por casal no Espírito Santo, composto de glicerina e dietilenoglicol - Reprodução/Polícia Civil do ES
Polícia exibiu amostra de óleo comprado por casal no Espírito Santo, composto de glicerina e dietilenoglicol Imagem: Reprodução/Polícia Civil do ES

Do UOL, em São Paulo

06/07/2021 21h06Atualizada em 07/07/2021 10h01

A Polícia Civil do Espírito Santo concluiu o inquérito de investigação da morte do casal Rosineide Dorneles Mendes Oliveiras, de 52 anos, e Willis Penna de Oliveira, de 51.

A mulher morreu em 15 de fevereiro e o companheiro, em 16 de março. Os dois usaram um produto que compraram na internet vendido como "óleo de semente de abóbora". Após perícia, que teve resultado divulgado hoje em coletiva de imprensa, as autoridades descobriram que o frasco continha um solvente altamente tóxico, o dietilenoglicol, mesmo produto que causou mortes no caso da cervejaria Backer.

Segundo o médico legista Leandro Amorim, os sintomas foram semelhantes aos apresentados pelas vítimas em Belo Horizonte, começando por náuseas e fraqueza.

Em um primeiro momento, Rosineide e WIllis não procuraram atendimento médico, e apenas 10 dias depois, quando já estavam sofrendo alterações no sistema nervoso central, com paralisia facial e dificuldade de respirar, eles deram entrada na UPA da Serra, sendo rapidamente transferidos para o hospital Dório Silva, também na cidade capixaba.

Na mesma semana da internação, ainda em janeiro, o filho único do casal procurou o 12º Distrito Policial, na cidade de Serra, para denunciar suas suspeitas em torno do óleo, já que era o único produto que o pai e a mãe consumiam e ele não. Segundo os policiais, a promessa era que a substância poderia controlar o colesterol e impedir doenças degenerativas.

De acordo com as autoridades, os dois começaram a sentir os sintomas 14 dias depois de começarem a ingerir o produto. Mas mesmo suspendendo o uso os problemas de saúde continuaram avançando, incluindo insuficiência renal.

vaso caso sbc - Reprodução/Polícia Civil de SP - Reprodução/Polícia Civil de SP
Produtos vendidos na internet eram armazenados em banheiro ao lado de vaso sanitário
Imagem: Reprodução/Polícia Civil de SP

Rastreando onde o produto era vendido por meio do site na internet, as autoridades do Espírito Santo acionaram um juiz, que expediu um mandado de busca e apreensão na empresa, localizada em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.

Com apoio da Polícia Civil de São Paulo e da Vigilância Sanitária, o proprietário foi preso em flagrante por estelionato. Sem nenhum tipo de licença, ele também vendia produtos cosméticos, armazenando matéria-prima e frascos já embalados ao lado de um vaso sanitário.

Segundo a polícia capixaba, o homem, de 34 anos, confessou que adquiria o óleo e, de maneira ilegal, adicionava corante e um aromatizante, envasava, e colocava os frascos à venda na internet.

A suspeita das autoridades é de que, neste processo, por também vender produtos cosméticos falsificados, ele tenha feito uma confusão na aplicação de rótulos e enviado um produto como se fosse outro.

O suspeito foi preso em 25 de maio. Em audiência de custódia, a prisão já foi convertida em preventiva. Ele deve ser julgado por estelionato, crime contra as relações de consumo e falsificação de produto terapêutico.

Frasco continha 13% de dietilenoglicol; máximo permitido é de 0,1%

A perita oficial criminal Daniela de Paula detalhou na coletiva de hoje qual foi o método utilizado para identificar qual era a substância que intoxicou o casal e a quantidade presente no frasco.

Em primeiro lugar, o suposto óleo usado pelas vítimas tinha um aspecto diferente em comparação ao óleo vegetal certificado, inclusive em tonalidade: o falsificado era transparente, enquanto o produto original seria amarelado.

Os peritos então analisaram a presença de ácidos graxos, que fazem parte dos óleos vegetais. Na amostra do produto usado pelo casal não foram encontradas as substâncias, o que já indicou a falsificação.

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Comparação de óleo original (à esq.) com versão falsificada comprada por casal (à dir.)
Imagem: Reprodução/Polícia Civil do ES

Em novos testes, os profissionais identificaram que o "óleo" era, na verdade, composto de glicerina e o dietilenoglicol.

A Perícia Técnica de Minas Gerais, onde aconteceu o caso Backer, auxiliou a equipe capixaba encaminhando o padrão do dietileno encontrado no estado, para que fosse feito uma comparação, comprovando os primeiros estudos.

A partir daí, foi usada uma técnica para quantificar a porcentagem de dietilenoglicol no produto presente no frasco, já que até 0,10% de solvente é permitido em uma composição com glicerina. Mas, ao final da pesquisa, foi concluído que da totalidade do produto, 13% correspondia à substância tóxica.

Agora, a polícia pretende pedir que o homem responsável pela empresa clandestina também seja acusado de duplo homicídio culposo.

As autoridades destacaram que é importante procurar outras pessoas que possam ter comprado o produto na internet, já que o homem contou ter angariado vários clientes e não deu detalhes sobre desde quando mantinha o negócio ilegal. A plataforma em que o óleo falsificado foi vendido já foi acionada para possível transmissão de dados.