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Tema de série, Pedro Dom teve vida de luxo até morrer em operação policial

Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom - Reprodução
Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom Imagem: Reprodução

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio

14/07/2021 17h26Atualizada em 15/07/2021 12h29

Uma vida de ostentação, com joias, carro de luxo e casa em área nobre do estado do Rio de Janeiro. Era assim que Pedro Machado Lomba Neto, conhecido como Pedro Dom, viveu durante os dois anos em que assaltou residências de alto padrão na capital até ser morto em uma ação policial em setembro de 2005.

"Como era uma pessoa de classe média, ele se infiltrava, transitava bem em festas da zona sul, e era ali que ele conseguia informações, sobre um vizinho não estar em casa, por exemplo, para realizar os roubos. Ele tinha uma boa aparência", lembra o delegado Eduardo Freitas, responsável pela operação que resultou na morte de Pedro Dom.

A trajetória de Dom foi tema de uma série na Amazon, que foi criticada por uma irmã dele. Nas redes sociais, Erika Grandinetti disse nesta semana que a história foi contada pelos olhos do pai, sem o consentimento da mãe.

"Minha mãe, separada de meu pai, desde sempre disse não a esse projeto. Mas, sua voz não foi ouvida. Sua história de vida com seu filho, a morte de seu filho, se tornou um produto, pronto pra consumo. Meu pai nunca internou meu irmão, ao contrário, tirava da internação fazendo cena. Danem-se os efeitos colaterais, leia-se aqui: o sofrimento dos que não concordaram", disse ela.

Violência e drogas

Ao longo dos seis meses de investigação, a Polícia Civil conseguiu traçar um perfil de Pedro Dom. De acordo com o delegado Eduardo Freitas, em praticamente todos os assaltos —ele não soube numerar quantos— Dom usava granadas para amedrontar as vítimas.

"O filme o retrata como alguém que continha os comparsas para não serem violentos, mas muito pelo contrário, ele era extremamente violento com as vítimas dele. A maioria dos roubos era toda sob efeito de muita droga, principalmente cocaína. Podia ser mulher, idoso, criança, para ele era indiferente", diz Freitas.

Erika culpa o pai —morto em decorrência de um câncer— pelo comportamento de Dom. "Toda a intimidação e violência que meu irmão praticou foi aprendida com o pai. Esse pai herói nunca existiu. Meu irmão sempre sentiu dor, mas o pai ensinou que homens não choram", disse a irmã.

O delegado também falou sobre a relação do pai, o também policial civil Luiz Victor Dantas Lomba, com o filho. "O pai dele falava muito com ele. Nos últimos dias de vida do Pedro Dom, eu lembro do pai dele falando: 'Se entrega meu filho ou foge, porque do jeito que tá, não sei como vai acabar'. E o Pedro Dom dizia que não seria pego e que jogaria 'bolinha, abacaxi' [se referindo a granada] na polícia."

Pedro Dom era dependente de drogas, principalmente da cocaína. Segundo a irmã, ele chegou a ser internado sete vezes. Em um momento de desespero, a mãe chegou a amarrar o filho na cama para que ele não usasse a droga, relata Erika. Pedro Dom começou a usar droga ainda criança e chegou a ser apreendido antes de completar 18 anos.

14.jul.2021 - O delegado Eduardo Freitas revê reportagens da época em que Pedro Dom era procurado - Tatiana Campbell/UOL - Tatiana Campbell/UOL
14.jul.2021 - O delegado Eduardo Freitas revê reportagens da época em que Pedro Dom era procurado
Imagem: Tatiana Campbell/UOL

Os assaltos

Entre 2004 e 2005, Pedro Dom invadiu residências de Ipanema, Leblon, Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e também na Ilha do Governador —bairros das zonas sul, oestes e norte do Rio.

Ele pegava a granada e ficava tirando o pino e colocando o pino e ameaçando explodir todo mundo. Com a ponta da faca, ficava espetando os moradores da residência para que eles falassem onde estava o cofre."

Eduardo Freitas, delegado

Vida de luxo

Criado por uma família de classe média, Pedro Dom morava na rua Joaquim Nabuco, em Copacabana. O UOL conversou com uma moradora de Copacabana —cuja identidade será preservada a seu pedido— que conheceu Pedro Dom e Ângela Fanzeres Cerqueira, companheira dele, em um restaurante famoso da região.

"Eles tinham uma casa na Quitandinha, em Petrópolis [Região Serrana]. Ficavam lá com o filho, ele ainda era pequeno. Uma vez a gente estava em um restaurante e os dois chegaram em um carro bem bonito, ela [a companheira de Dom] desceu cheia de joia, toda arrumada, bem vestida. Adorava dizer que era mulher dele, adorava mostrar os colares, as pulseiras."

Nas redes sociais, a irmã de Pedro Dom disse que o sobrinho, hoje com 16 anos, faz tratamento psiquiátrico para ansiedade e depressão.

A morte de Pedro Dom

Em 14 de setembro de 2005, os agentes interceptaram uma conversa de Dom com um motoqueiro da Rocinha pedindo para que o buscasse pois iria dormir na comunidade da zona sul. Ele tinha realizado um assalto a uma casa na Ilha do Governador (zona norte).

"Montei uma operação no Túnel Rebouças, por volta das 23h. Uma equipe descaracterizada ficou na entrada do túnel e nós ficamos na saída. Por volta das 2h45, a moto entrou no túnel, nos avisaram e fecharam o túnel. Ele deu de cara com a nossa equipe, que deu ordem de parada. Nesse momento, ele lançou a granada, um policial atirou no pneu da moto e esse disparo foi fundamental para que ele não fugisse", diz o delegado.

"Ele invadiu um prédio, mas conseguimos prender o motociclista. Uma outra equipe invadiu o prédio que ele estava. No terceiro andar, ele trocou tiros com a equipe e foi atingido. Levamos para o Hospital Miguel Couto, mas ele veio a falecer."

Pedro Dom morreu com um tiro tórax, aos 23 anos. Ele foi encontrado perto de uma lixeira do prédio. Com ele havia uma pistola, carregadores e joias no interior da mochila. Isto porque, horas antes de ser morto, ele havia realizado seu último roubo.