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Dos cultos ao crime: Hello Kitty posava com fuzil e é exaltada em proibidão

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio

16/07/2021 15h38

Rayane Nazareth Cardozo da Silveira era conhecida no mundo do crime como Hello Kitty e Dama do Comando Vermelho. Apontada pela polícia como uma das criminosas mais procuradas do Rio, a jovem de apenas 21 anos —morta hoje em ação policial em São Gonçalo (RJ)— abandonou os louvores em cultos evangélicos para praticar assaltos e gerenciar o tráfico de drogas.

Criada no Morro da Conceição, em Niterói, na região metropolitana do Rio, Hello Kitty se envolveu na adolescência com traficantes locais e, em pouco tempo, começou a atuar no tráfico. Com fama entre criminosos, ela foi citada em um funk proibidão —gênero que faz apologia ao crime.

Rayane Silveira, conhecida como Hello Kitty e Dama do Comando Vermelho - Reprodução/Instagram e Facebook - Reprodução/Instagram e Facebook
Rayane Silveira, conhecida como Hello Kitty e Dama do Comando Vermelho
Imagem: Reprodução/Instagram e Facebook

Antes disso, era possível encontrá-la em cultos cantando louvores. Em publicação nas redes sociais, a traficante segura um fuzil com a inscrição "fé em Deus" tatuada no braço.

As postagens eram inclusive uma das marcas de Rayane que nas redes sociais ostentava armamento pesado e provocava a polícia dizendo que nunca seria presa.

Rayane Nazareth Cardozo da Silva, traficante de São Gonçalo (Rio), conhecida como Hello Kitty - Reprodução/Redes Sociais - Reprodução/Redes Sociais
Rayane da Silva atuou como segurança armada do tráfico, segundo a polícia
Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Em 2018, ela começou a participar de assaltos em Niterói junto com um comparsa. Após a morte dele, Hello Kitty passou a atuar como segurança armada do tráfico em uma comunidade.

Ao se mudar para São Gonçalo, foi apadrinhada por Alessandro Luiz Vieira Moura, o Vinte Anos, apontado pela polícia como o chefe do tráfico do Complexo do Salgueiro, uma das comunidades mais violentas do município. O traficante e outros dois suspeitos também foram mortos hoje na mesma operação policial.

Funk proibidão e mudança de tatuagem

Hello Kitty tornou-se o braço direito de Vinte Anos, ganhando o respeito de traficantes mesmo com a pouca idade. Ambos pertenciam ao Bonde do Vinte Anos e eram conhecidos, segundo a polícia, por já terem participado de roubos e até mesmo de homicídios.

A dupla chegou a ter os rostos estampados em cartaz do Portal dos Procurados, do Disque Denúncia, com recompensa de R$ 1.000 para quem desse pistas sobre o paradeiro deles.

O major Ivan Blaz, porta-voz da Polícia Militar, afirma que outros grupos criminosos podem agora tentar tomar o Salgueiro. "Ela era o terror. A morte desses dois criminosos impacta diretamente no status quo dessa região. Temos que lidar com as possibilidades de outras quadrilhas quererem invadir o Complexo do Salgueiro."

Blaz também afirma que a dupla possuía uma atuação violenta na região. "Ela gostava de ostentar com emprego de armas de fogo, fuzis, nas redes sociais. Os dois eram lideranças extremamente beligerantes da região, que investiam contra outras áreas, atuavam causando o terror."

Com grande fama entre traficantes, Hello Kitty chegou a ser exaltada em um funk chamado Tropa da Nova Grécia —a música tem mais de 38 mil visualizações no YouTube. Além da apologia ao tráfico de drogas, a letra fala de planos do Comando Vermelho para invadir outras comunidades de São Gonçalo. "É tropa do Vinte Anos, da Hello Kitty, RV e também o LC", diz a música.

A Nova Grécia é uma comunidade de São Gonçalo, onde Hello Kitty era gerente do tráfico.

HK2 - Divulgação - Divulgação
Cartazes de procurados de Hello Kitty e Vinte Anos
Imagem: Divulgação

Segundo a Polícia Civil, ela chegou a mudar a tatuagem que tem na perna para dificultar sua identificação. Rayane tinha um desenho de um dragão e mudou para uma gueixa. Quando ia para outras áreas, só usava calça jeans para não chamar a atenção.

Em 2018, ela chegou a ser presa por suspeita de envolvimento com o tráfico, mas foi solta para responder em liberdade. Desde então, Hello Kitty acumulou sete processos criminais no Tribunal de Justiça do Rio por tráfico e roubo majorado —por ter sido empregada violência e arma de fogo. Rayane foi condenada por roubo em ao menos duas dessas ações e tinha seis mandados de prisão preventiva em aberto.

A reportagem do UOL não localizou a família ou representantes legais de Rayane.