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Número de explosivos em Araçatuba é o maior do 'novo cangaço', diz entidade

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

01/09/2021 04h00

O número de explosivos encontrados ontem em Araçatuba, a 519 km da capital paulista, foi o maior da história do país, aponta levantamento inédito feito pela Associação Mato-Grossense para o Fomento e Desenvolvimento da Segurança, a pedido do UOL.

A entidade foi criada para estudar ações criminosas cometidas por grupos fortemente armados que aterrorizam municípios do interior, com assaltos a agências bancárias e instituições financeiras, o que ficou conhecido como "novo cangaço". A PM-SP (Polícia Militar de São Paulo) diz que a ocorrência teve a maior quantidade de detonadores instalados por criminosos no estado.

O assalto em Araçatuba, que deixou ao menos três pessoas mortas e outras quatro feridas na madrugada de segunda (30), é apontado como o mais violento do tipo nos últimos dois anos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Um dos explosivos chegou a ser acionado, levando à amputação dos dois pés de um homem que passava de bicicleta. Após mais de 24 horas, policiais militares localizaram e desarmaram 98 detonadores espalhados por vias públicas, veículos e uma agência bancária da cidade. As buscas terminaram ontem (31) à tarde. A partir de hoje, serão retomadas as aulas da rede pública de ensino e a vacinação contra a covid-19.

31.ago.2021 - Policiais militares retiraram 98 explosivos espalhados por Araçatuba pelos criminosos - Divulgação/PM-SP - Divulgação/PM-SP
31.ago.2021 - Policiais militares retiraram 98 explosivos espalhados por Araçatuba pelos criminosos
Imagem: Divulgação/PM-SP

Sensor de movimento e acionamento à distância

O tenente-coronel Lucélio Ferreira Martins Faria França, presidente da Associação Mato-Grossense para o Fomento e Desenvolvimento da Segurança, destacou o aprimoramento da tecnologia empregada pelos criminosos na instalação de artefatos explosivos.

Segundo ele, alguns dos detonadores possuíam sensor de movimento e até celular acoplado para acionamento à distância.

"O método utilizado pelos criminosos foi mais sofisticado. Nunca tinha visto uma equipe policial ficar mobilizada tanto tempo para desarmar explosivos. Isso demonstra a evolução do planejamento do grupo envolvido na ação", disse.

Ataque em Araçatuba

'O estrago poderia ter sido grande', diz tenente-coronel

O tenente-coronel Valmor Saraiva Racorti, comandante do Batalhão de Operações Especiais de São Paulo, que coordenou as ações de neutralização dos explosivos em Araçatuba, se surpreendeu com a ousadia e a tecnologia empregada pelos criminosos.

Encontramos recipientes de metal usados para detonação de rochas com alto potencial explosivo. Também havia explosivos com lanterna de LED para causar efeito psicológico na população e com possibilidade de acionamento remoto. O estrago poderia ter sido grande. Espero que não precise ocorrer aqui um 11 de Setembro para que as forças de segurança atuem de forma integrada.
Tenente-coronel Valmor Saraiva Racorti

"O que preocupa é a grande quantidade de explosivos. Foi a maior apreensão da história da PM de São Paulo de explosivos instalados por criminosos dessas ações catalogadas como 'domínio de cidades'. Se aconteceu em Araçatuba, é porque já estamos atrasados", complementou.

O oficial foi acionado logo após a ação em Araçatuba, dando início a uma operação com deslocamento pela estrada e por aeronave. Um grupo de 35 policiais atuou na ação —sete deles eram especialistas em explosivos.

A operação ainda contou com o apoio de atiradores de elite, que garantiram a segurança dos agentes focados na desativação de cerca de 100 kg de detonadores espalhados pela cidade.

Procurada pelo UOL, a Polícia Federal, que investiga o caso, não deu detalhes sobre os equipamentos usados pelo grupo criminoso.