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Músico que tenta ser pai há 7 anos descobre estar infértil após ter covid

O músico Alessandro e a psicóloga Gisélia tentam há 7 anos ter filhos - Arquivo Pessoal
O músico Alessandro e a psicóloga Gisélia tentam há 7 anos ter filhos Imagem: Arquivo Pessoal

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

27/09/2021 15h58

Há mais de 7 anos, o músico Alessandro Ribeiro Inácio, de 42 anos, e sua esposa, Gisélia, de 39, tentam ter filhos. Ela faz tratamento por conta de uma endometriose severa, o que levou o casal a considerar a fertilização in vitro como única opção. Em setembro, porém, após quase ter morrido ao contrair covid-19, ele se descobriu infértil por conta da doença, problema já observado em alguns estudos sobre o coronavírus.

"Tentamos ao longo de dois anos ter um filho de forma natural. Mas a Gisélia não engravidava. Ela tinha um fluxo menstrual intenso, mas não imaginava que havia algo de errado com ela. Só fomos descobrir que ela sofria de endometriose profunda em 2017, quando procuramos ajuda médica".

A endometriose profunda é uma doença inflamatória que ocorre quando o endométrio, camada que reveste o interior do útero, está presente fora da cavidade uterina e penetra profundamente nos órgãos da região, lesionando-os.

Foi um baque. Mas não desanimamos. Ela fez um tratamento longo, chegou até a passar por uma pequena cirurgia. Apesar disso, o médico nos tranquilizava, dizendo que o aparelho reprodutivo dela estava se adequando. Minha contagem de espermatozoides estava normal. Então, o sonho de ter um filho parecia estar prestes a se realizar"

Foi quando o casal decidiu procurar uma clínica especializada em reprodução humana. O médico fez todos os exames e explicou que, por conta da endometriose de Gisélia, o mais seguro seria fazer o procedimento através da fertilização in vitro, pois a gravidez natural estava descartada. Ele aconteceria em maio último.

Músico está tendo que fazer exercícios respiratórios para recuperar o fôlego - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Por conta da covid-19, Alessandro está tendo que fazer exercícios respiratórios para recuperar o fôlego
Imagem: Arquivo Pessoal

O sonho de ser pai, porém, teve que ser adiado mais uma vez. Apesar de todos os cuidados, como uso de máscaras e isolamento social, Gisélia acabou contraindo a covid-19, três semanas após o retorno ao trabalho presencial.

Após dias da internação dela, Alessandro descobriu estar contaminado.

Nos primeiros dias, não senti nada. Mas depois não consegui mais respirar. Meus pulmões estavam comprometidos, minha saturação estava em 20%. Fui internado, passei 18 dias numa UTI. Senti muito medo de morrer e também de não poder mais atuar como músico. Imagine o trompete, um instrumento de sopro. E se eu não conseguisse mais recuperar o fôlego?"

Nos dias em que ficou internado, o músico sofreu um derrame pleural, uma trombose pulmonar e lutou para se livrar de duas bactérias invasoras, contraídas no hospital. No dia 24 de junho, teve alta. Passou a fazer fisioterapia respiratória para recuperar o fôlego. Aos poucos, seu quadro foi melhorando até que os pulmões se recuperaram. Enfim, poderia voltar a tocar.

"Foi um grande alívio, uma oportunidade, uma nova vida que começou para nós. Quando já estávamos nos sentindo bem, em setembro, decidimos que era hora de procurar novamente a clínica de reprodução, para planejar o nascimento do nosso bebê. Refizemos os exames. E tomei um susto, um choque, ao saber que tinha ficado estéril por conta da covid-19".

'Microtrombose' causada pela covid-19

Segundo explicou ao UOL Condesmar Marcondes, médico ginecologista especialista em reprodução humana que acompanha o casal, a contagem de espermatozoides de Alessandro estava próxima de zero.

O normal, segundo preconiza a OMS, é uma contagem de 15 milhões de espermatozoides vivos. No caso em questão, 99% dos espermatozoides estavam mortos. Existem estudos da USP que começaram a observar resultados alterados em exames de fertilidade e hormonais pós-covid, principalmente em homens"

No caso do músico, elucida o médico, os testículos podem ter sofrido um processo chamado de "microtrombose". Ou seja, a formação de coágulos microscópicos em pacientes que desenvolveram as formas mais graves da covid-19.

"Ele teve derrame pleural e trombose pulmonar quando estava na UTI. O sistema vascular dos testículos é muito delicado. Por isso, a doença acabou provocando 'minitrombos', que reduziram a capacidade de produção de espermatozoides do músico", afirmou o médico.

"Iniciei com ele um tratamento com vitaminas à base de zinco, combinados a antioxidantes potentes, para auxiliar no aumento da produção. Se eu conseguir pelo menos de 5 a 6 unidades de espermatozóides em boas condições, conseguiremos fazer a fertilização in vitro. Em 30 dias, repetiremos o exame de contagem. Estou de dedos cruzados", acrescentou ele.

De dedos cruzados também está o músico. Mesmo depois de tantos anos lutando para tornar a concepção de uma nova vida possível, ele não desanima. "Nossa esperança ainda é muito grande de que o tratamento vai dar certo. Mas, se por acaso, não der, não temos dúvida. A adoção será a nossa escolha. Nosso filho ou filha virá de qualquer maneira", concluiu.