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Vídeo mostra agressão a ambulante morto após reclamar de preço de carne

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL

06/10/2021 11h11Atualizada em 06/10/2021 17h56

Um vídeo revela as agressões ao ambulante Wagner de Oliveira Lovato, de 40 anos, que morreu na frente de um açougue, após reclamar do preço da carne, em Alvorada, na região metropolitana de Porto Alegre, no último sábado (2).

Nas imagens disponibilizadas pela Polícia Civil, o cliente é visto entrando no estabelecimento e caminhando até o balcão. Em seguida, o ambulante fala com um atendente, sem se exaltar. "Não aparenta haver discussão, em princípio não houve discussão", afirmou ao UOL o delegado Edimar Souza, da DHPP (Delegacia de Investigação de Homicídios e Pessoas Desaparecidas) de Alvorada.

Lovato é visto caminhando em direção à porta e, já na calçada, passa a conversar com Luciano Monteiro, gerente do estabelecimento, que estava de folga no momento da interação. Em outro vídeo, feito de uma segunda câmera, é possível ver o ambulante na entrada da casa de carnes falando com outra pessoa, que não aparece na imagem. Um homem - de camisa vermelha - fica entre eles e chega a evitar o contato entre ambos com o próprio corpo.

Wagner consegue entrar de volta na casa de carnes, mas, pouco depois, é acompanhado por um indivíduo de camiseta listrada. Conforme o delegado, ele foi identificado como Luciano Ribeiro dos Santos, amigo de Monteiro — ambos estão presos preventivamente. Ele conduz a vítima, com um dos braços sobre seus ombros, para outro ponto da calçada e passa a conversar de costas.

Cerca de 20 segundos depois, Monteiro se aproxima e passa a empurrar Lovato, além de tentar acertá-lo com uma joelhada, sem sucesso. Em seguida, o ambulante leva dois socos de Santos, com quem conversava há pouco. Ele cai no chão de costas, aparentemente chocando a cabeça contra o solo. Mesmo caído, o gerente ainda tenta pisar em seu rosto. O crime é interrompido quando mais pessoas se aproximam, mas a vítima já está desfalecida.

Lovato, um ex-empresário que virou ambulante na pandemia e vendia salgados na rua para ajudar no sustento da esposa, três filhas e uma neta, não resistiu aos ferimentos e morreu no domingo, no Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre.

À polícia, os dois homens alegaram que se defenderam. Porém, segundo o delegado, as imagens não mostram agressão ou mesmo revide por parte da vítima. A dupla, que não tem antecedentes criminais, foi detida ainda no sábado.

Defesa dos suspeitos

Em nota encaminhada à imprensa, o advogado Eduardo Andreis, que defende Luciano Ribeiro dos Santos, autor dos socos vistos no vídeo, disse que o cliente lamentou "profundamente" o óbito de Lovato, "o que nunca foi desejado em nenhuma hipótese".

O advogado classificou o incidente como uma "fatalidade derivada de uma discussão", que terminou com um "acidente fatal". "[Ele] Nunca imaginou que, de seu soco, pudesse resultar o falecimento de outro ser humano, provavelmente causado pela queda. Até porque Luciano jamais teve qualquer passagem similar em seus 47 anos de vida", declarou o advogado, no comunicado.

O homem, segundo seu defensor, tentou socorrer o ambulante e acabou sendo agredido com socos e pontapés por testemunhas. "Ficou para prestar seus esclarecimentos às autoridades policiais e judiciárias, sem fugir de sua responsabilidade culposa. Deseja o esclarecimento total e a realização da Justiça", finaliza a nota.

Já o advogado Gilson D' Ávila Camargo, que defende o gerente Luciano Monteiro, afirmou ao UOL que ingressou com pedido na Justiça para reverter a prisão preventiva. "Ele não tem antecedentes criminais e a própria investigação aponta que não há imagens de agressões do meu cliente contra a vítima. Só houve socos (desferidos por outra pessoa)", disse Camargo.

O advogado reconhece que o gerente tentou aplicar joelhadas e chutes em Lovato, mas que não conseguiu, por estar alcoolizado. "Ele não se recorda do motivo da agressão, depois do fato, só se recorda da Brigada Militar pegando ele."

Monteiro está preso em uma penitenciária em Sapucaia do Sul, também na região metropolitana de Porto Alegre.

O açougueiro que atendeu o ambulante no balcão deve prestar depoimento na polícia hoje. O delegado também aguarda o laudo da necropsia que deve apontar a causa da morte. No atestado de óbito, consta traumatismo craniano.