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Chope e samba: velório 'festivo' atende último pedido de médico em Londrina

Convite para "velório festivo" em Londrina foi reproduzido por internautas pelo teor inusitado - Arquivo pessoal
Convite para 'velório festivo' em Londrina foi reproduzido por internautas pelo teor inusitado Imagem: Arquivo pessoal

Ed Wanderley

Do UOL, em São Paulo

11/11/2021 21h19

Copos de plástico fazendo brindes, selfies e vídeos sendo publicados nas redes sociais e amigos cantando "O show tem que continuar" (de Arlindo Cruz, Sombrinha e Luiz Carlos da Vila) — poderia ser churrasco de domingo, mas era velório. Foi assim que o médico Mansur Miguel Mitne, de 73 anos, queria que familiares e amigos se despedissem dele, antes de seu sepultamento e assim foi feito, na última terça-feira (9) em Londrina (PR), a 386 km de Curitiba.

Velório, cortejo e sepultamento foram realizados ao som de samba e MPB e regados a refrigerantes e chope da marca escolhida pelo profissional de saúde antes de morrer. Mitne faleceu na noite de segunda-feira (8), no Hospital do Coração, onde estava internado desde outubro e era submetido a hemodiálises e transfusões de sangue.

Apesar da surpresa de funcionários e participantes de outros velórios, conduzidos na capela mortuária da Acesf (Administração dos Cemitérios e Serviços Funerários de Londrina), o chamado "velório festivo" não teve impedimentos para animar a tarde no local, tradicionalmente marcado apenas por lamentos.

Independentemente de religião, as pessoas fazem o velório da forma que preferem, não podemos proibir. Nós locamos para velório, fizeram uma festa de despedida, do lado de fora. Já teve quem trouxe lanche, quem fez jantar... Nós, quando houve uma reclamação [de familiares do velório da capela ao lado], pedimos para baixar o som, o que foi feito. Após as 16h, eles seguiram para o cemitério, ainda cantando.
Péricles Deliberador, superintendente da Acesf

O evento durou duas horas para atender ao desejo do doutor Mansur, como era conhecido. Os participantes ainda deram uma "esticada" nos festejos, interrompida às 18h pela Guarda Municipal para que o cemitério pudesse ser fechado, como informa o Conselho Regional de Medicina do Paraná, em comunicado em que registra votos de pesar da categoria.

Os filhos do médico, Gustavo e Valéria, explicaram que o velório com todos os itens de uma comemoração era um desejo de infância dele e que se reforçou quando adoeceu. [...] Tal experiência ele já tinha exercitado em 2019, quando do falecimento da esposa e que teve homenagem semelhante
CRM-PR

Para o velório, conhecidos de Mansur receberam até convite, musicado e boêmio, a fazer jus à solicitação do protagonista da reunião: "Iremos comemorar os ensinamentos que ele nos deixou, como amigo, médico, pai, ser humano, etc... FELICIDADE é o resumo... Vamos festejar mais esse momento da vida dele. Obrigado por tudo nosso ídolo", dizia a arte, compartilhada nas redes sociais.

Mansur Mitne nasceu em São Paulo (SP), em 21 de julho de 1948, se formou em medicina na Universidade de Mogi das Cruzes (SP) há 46 anos, se especializou em medicina do trabalho e atuava no Paraná desde 1979.

Em vida, ele colecionou amigos e pacientes que se disseram fãs, nas redes sociais. A música "O que é, o que é" (Gonzaguinha), parte do repertório da despedida que virou sensação na internet, diz "há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo"; dr. Mansur, mesmo após a morte, mostrou que essa nem sempre é verdade.