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Criador do Disque Denúncia, Zeca Borges morre no Rio, vítima de infarto

Zeca Borges, criador do Disque Denúncia, quando o serviço passou a atender por WhatsApp Imagem: Ricardo Borges/Folhapress

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL

03/12/2021 09h07

Morreu na madrugada de hoje, vítima de um infarto, o fundador do Disque-Denúncia, Zeca Borges, aos 78 anos. Ele foi levado para a emergência do Hospital CopaStar, na Zona Sul do Rio de Janeiro, mas não resistiu. Zeca deixa a esposa e dois filhos. "O Rio perde o gaúcho mais carioca e apaixonado por essa cidade. E nós, perdemos um grande líder e um amigo Zeca, seu legado jamais será esquecido. Continuaremos firmes na missão que nos foi dada", afirmou, em nota, a instituição.

"O Hospital CopaStar lamenta a morte do paciente Zeca Borges na madrugada desta sexta-feira (03) e se solidariza com a família e amigos por essa irreparável perda. O hospital também informa que não tem autorização da família para divulgar mais detalhes", afirmou o hospital em nota.

Engenheiro civil formado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Zeca trabalhava no mercado financeiro quando, em 1995, foi chamado pelo empresário Luiz Cezar Fernandes, fundador do Banco Pactual, para criar um serviço telefônico de combate ao sequestro. Topou, mas impôs garantias: do anonimato do denunciante, da não subordinação à polícia e da não ingerência política. "Se o DD fosse público, mudaria de nome a cada eleição", explicou Zeca, em entrevista ao UOL, em fevereiro. O programa desde a sua criação já recebeu mais de 3 milhões de denúncias por meio de ligações e mensagens.

O último post de Zeca em sua página no Facebook foi em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. "Em primeiro lugar, que fique bem claro que o que tem sido feito por nossos governantes e autoridades públicas, por séculos, contra nossa gente, é algo bem pior que um crime. Algo que pode ser chamado de tudo, menos de justiça. No caso de haver alguém que não concorde com isto, ele se encontra no país errado e deveria refletir melhor sobre o assunto", escreveu.

"Agora, se houver alguém tão desolado por causa deste trágico dilema, que coloque entraves à presença do estado em ações de combate à tirania do tráfico e da milícia em pleno território brasileiro, esse alguém, da mesma forma, não está no país correto. Não devemos dar-lhe o nosso apoio a respeito de ações políticas, legais e práticas para corrigir essa dolorosa situação", disse ele na publicação.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio castro, disse em nota que Estado perdeu um dos maiores defensores da paz e da justiça. "Borges criou e coordenou o Disque Denúncia, uma das mais poderosas ferramentas à disposição da sociedade —iniciativa pioneira e inestimável para a segurança pública tão bem sucedida que foi levada a outros estados e países. Expresso minha gratidão pelo trabalho fundamental e pelo legado que Zeca nos deixou e minha profunda solidariedade à família e aos amigos", disse.

Em seu perfil no Twitter, a deputada estadual delegada Martha Rocha também lamentou a morte de Borges.

Legado

Com o sucesso do (21) 2253-1177, que ajudou a apreender 10.000 armas, 20.000 toneladas de cocaína e 9.000 toneladas de maconha, o serviço se expandiu para outros Estados e países, como Chile e Argentina. Até hoje, a maior recompensa foi de R$ 100 mil —paga com doações— por denúncias que levaram à prisão do assassino do jornalista Décio Sá, em São Luís (MA), morto a tiros em abril de 2012. "Paga-se muito pouco em recompensas. A maioria liga por indignação", contou Zeca ao UOL.

Um dos idealizadores do projeto foi o publicitário Roberto Medina. Em 1990, o organizador do Rock in Rio passou 15 dias em poder de sequestradores. Foi liberado na noite do dia 21 pelo traficante Maurinho Branco, depois do pagamento de um resgate de US$ 2,5 milhões. "O Estado é hoje bem menos violento que era em nossa época inicial. Os anos 1990 foram assustadores", destacou Zeca em entrevista, em fevereiro.

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