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Kiss: "Em 2009, boate inaugurou e foi um fracasso", diz engenheiro

Engenheiro Civil Thiago Mutti disse que acompanhou reformas em 2009  - Reprodução/TJ-RS
Engenheiro Civil Thiago Mutti disse que acompanhou reformas em 2009 Imagem: Reprodução/TJ-RS

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

05/12/2021 12h01

Em depoimento no julgamento dos réus do caso da boate Kiss, o engenheiro civil Thiago Mutti, 46, disse que inicialmente o local, em Santa Maria (RS), foi considerada um "fracasso", com movimento fraco e com poucas festas. Ele é 14ª pessoa a ser ouvida no Tribunal do Júri que já dura cinco dias em Porto Alegre.

Mutti disse que a família dele investiu cerca de R$ 250 mil para transformar o local em uma casa noturna - antes funcionava um curso pré-vestibular. Porém, sem retorno financeiro, decidiram deixar o negócio - tocado em conjunto com outros dois sócios: Alexandre Costa e Elton Cristiano Uroda.

Mutti negou que fosse sócio proprietário da casa noturna, função que, segundo o engenheiro, era ocupada pela irmã dele. Porém, no começo do depoimento, a promotora de justiça Lúcia Helena Callegari salientou que ele está sendo processado por falsidade ideológica por "colocar laranjas" para tocar o negócio.

Por conta disso, o juiz Orlando Faccini Neto o rebaixou à condição de informante — antes estava como testemunha. O magistrado explicou que, como testemunha, ele tinha a obrigação de falar a verdade, caso contrário responderia por falso testemunho. E justificou que a mudança de testemunha para informante se deu porque o processo ainda está em andamento - sem decisão final.

A ideia de abrir uma nova casa noturna na cidade, explicou Mutti, surgiu após Costa identificar que ainda havia espaço para investir no ramo em Santa Maria. "Minha irmã estava voltando para Santa Maria e tinha uma reserva de dinheiro. E eu incentivei (o negócio)."

Segundo o engenheiro, o outro sócio que iria "tocar o negócio" e que foi ele que encontrou a sala comercial, de cerca de 630 metros quadrados. A família de Mutti não tinha experiência na área.

"Em 2009, a boate inaugurou e foi um fracasso. Como a reforma demorou, minha irmã resolveu fazer prova de mestrado e meu pai assumiu, e tinha até procuração dela. Daí minha irmã disse que ia vender [a] parte [dela]."

O outro sócio não aceitou comprar a parte da família e, por isso, Mutti decidiu procurar outras pessoas para ver se tinham interesse em entrar no negócio. "Ofereci para o Kiko [Elissandro Spohr, um dos réus e sócio da Kiss na época do incêndio]. Perguntei para o Kiko se queria comprar a parte da minha irmã e [ele] disse 'quero'."

Porém, segundo Mutti, Kiko colocou uma condição: só iria comprar a parte quando saísse o alvará da prefeitura. Na negociação, o empresário ofereceu um carro usado - um Volkswagen New Beetle - avaliado em R$ 40 mil e ainda R$ 10 mil.

Mutti disse que a família saiu "totalmente, fisicamente" da Kiss em dezembro de 2009, mas o documento só foi expedido entre abril ou maio de 2010. O incêndio ocorreu em 2013.

Ao ser questionado pelo juiz sobre a entrada de Mauro Hoffmann como sócio na boate, ele disse desconhecer quando isso ocorreu. Ele também é um dos réus.

No dia do incêndio, o engenheiro civil contou que estava em Cruz Alta, a 130 km de Santa Maria. E que o telefone dele "começou a tocar sem parar". Ao atender a ligação, um conhecido disse que havia ocorrido "uma coisa horrível" e, em seguida, detalhou que havia ocorrido o incêndio, com número expressivo de mortes. "Me senti mal, muito mal."

Quase nove anos após a tragédia, quatro réus são julgados por 242 homicídios simples e por 636 tentativas de assassinato - os números levam em conta, respectivamente, os mortos e feridos no incêndio. Devido ao tempo de duração e estrutura envolvida, o júri é considerado o maior da história do judiciário gaúcho.