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Alunos isolados, crateras nas ruas: professor relata impacto da chuva na BA

Juliana Arreguy

Do UOL, em São Paulo

12/12/2021 04h00

"Covid-19, isolamento social e agora as chuvas". Em 26 anos como professor da rede pública, Gustavo Melo, 46, nunca vivenciou tragédia como a enfrentada em Itamaraju (BA), uma das cidades mais afetadas pelas tempestades que acometeram a região após a formação de um ciclone no oceano Atlântico.

O município está em estado de calamidade pública há quatro dias. "A cidade está destruída. Todas as ruas estão de alguma forma danificadas, perderam parte do piso, da estrutura de calçamento, estão com buracos e crateras", relatou Melo ao UOL.

O professor, que dá aulas de matemática nas redes municipal, estadual e em algumas faculdades da região, tem utilizado seu carro —uma picape— para carregar doações e oferecer suporte a cidadãos que foram prejudicados por inundações e deslizamentos de terra.

Melo integra uma rede de apoio às vítimas formada por educadores, pais, estudantes, vizinhos e órgãos públicos como a prefeitura, o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil. O grupo se divide para arrecadar e distribuir doações, buscar pessoas em áreas isoladas e abrigar os desalojados.

Uma das maiores preocupações tem sido auxiliar os alunos, de quem recebem notícias pela internet e pelo boca a boca com os colegas.

Temos usado grupos de WhatsApp para pegar informações e saber dos alunos, da família deles, se estão precisando de algo, roupas, comida, se perderam a casa."
Gustavo Melo, professor de Itamaraju (BA)

As demandas são múltiplas e incluem até pedidos de ajuda para encontrar familiares. Em um dos casos, um estudante relatou o desaparecimento dos pais —um casal de pescadores. Por meio da movimentação nos grupos de WhatsApp e posts nas redes sociais, a Defesa Civil conseguiu localizá-los: estavam a salvo em uma fazenda próxima da cidade.

"Estamos indo até a casa das pessoas buscar os móveis para levá-los até abrigos, e assim não correr o risco de perdê-los. Também estamos levando kits de higiene e roupas para as escolas", conta.

Estamos enchendo vasilhas com água tratada e entregando nas casas."

Segundo o professor, ao menos 500 pessoas que perderam suas casas encontraram abrigo em dez escolas do município. Ele também mencionou que há vizinhos oferecendo suas casas para receber desalojados.

No entanto, a ajuda é limitada apenas à área urbana da cidade. As áreas rurais e aldeias indígenas foram isoladas por deslizamentos em estradas ou pontes derrubadas pela força da chuva. Só é possível chegar até eles por meio de transporte aéreo.

"Não conseguimos contatos com todos os alunos da zona rural. Tivemos notícias de alguns que estão sofrendo com a falta de alimentos", lamenta ele.

A esperança de Melo recai sobre o auxílio do Exército, que chegou à região na tarde de hoje para agilizar no acesso até as áreas que ficaram totalmente isoladas. Mas enquanto professor, lamenta que o ano letivo seja finalizado em meio a tantas interrupções.

"Me preocupo muito com os alunos que perderam tudo e não têm como terminar o ano letivo de forma remota, muitos com dificuldade em acessar a internet por questão de quedas de postes e dificuldades com o sinal."