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Com 21 mortos, Bahia tem 30% das cidades em situação de emergência

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

28/12/2021 17h12Atualizada em 29/12/2021 12h21

Com a confirmação da morte de um rapaz de 19 anos, que se afogou ao tentar atravessar uma enxurrada em Ilhéus (BA) na noite de segunda-feira (27), subiu para 21 o número de mortos em decorrência das fortes chuvas que atingiram a Bahia nos últimos dias, segundo os últimos dados divulgados na tarde de hoje pela Defesa Civil.

O órgão já contabiliza 77 mil pessoas que precisaram deixar as suas casas —34.163 delas estão desabrigadas e precisam de assistência do governo para ter uma moradia temporária. Segundo a Defesa Civil, mais de 470 mil pessoas foram afetadas pelas chuvas, que deixaram ainda 358 pessoas feridas.

Já são 136 cidades em situação de emergência — o equivalente a 30% dos municípios na Bahia. Foram registrados 17 mil novos casos de pessoas desalojadas ou desabrigadas nas últimas 24 horas —no levantamento anterior, divulgado ontem (27) à tarde, a Defesa Civil havia contabilizado 60 mil pessoas nessas condições.

risco de novas enchentes em ao menos quatro municípios na região sul do estado, segundo alertou hoje o Corpo de Bombeiros do estado. Itambé, Canavieiras, Mascote e Cândido Sales devem ser atingidas pela abertura de comportas de uma barragem de Minas Gerais.

Com isso, a corporação emitiu um comunicado, alertando as prefeituras para a necessidade de retirada imediata de moradores de áreas ribeirinhas.

Os municípios com mortos em decorrência das chuvas são:

  • Itamaraju (4)
  • Jucuruçu (3)
  • Ilhéus (2)
  • Itabuna (2)
  • Prado (2)
  • Amargosa (2)
  • Itaberaba (2)
  • Macarani (1)
  • Ruy Barbosa (1)
  • Itapetinga (1)
  • Aurelino Leal (1)

Com prédios públicos e estoques comprometidos, as prefeituras das cidades baianas atingidas pelas chuvas agora fazem apelo por medicamentos, comida, água e pelo auxílio de voluntários em apoio às vítimas de uma das maiores enchentes do século no estado.

Em meio a esse cenário, Rui Costa (PT), governador da Bahia, se queixou da verba liberada pelo governo federal. O presidente Jair Bolsonaro (PL) editou MP (Medida Provisória) para liberar R$ 200 milhões para reconstruir rodovias prejudicadas pelas chuvas —R$ 80 milhões para o Nordeste.

O texto, publicado hoje no Diário Oficial, abre crédito extraordinário ao Ministério da Infraestrutura, que irá cuidar das obras de rodovias na Bahia, Amazonas, Minas Gerais, Pará e São Paulo.

"Eu queria fazer um apelo porque não é possível recuperar as estradas federais com R$ 80 milhões para o Nordeste", afirmou Costa em coletiva de imprensa em Ilhéus, na presença de Marcelo Sampaio, secretário executivo do Ministério da Infraestrutura. Procurada, a pasta não se posicionou.

A extensão da destruição é o que impressiona. Parece que houve uma guerra. As crateras, as barragens que foram levadas, as pontes, o dano à infraestrutura é enorme. Nossos técnicos estão avaliando os danos, mas ainda não temos esse dado concreto."
Rui Costa (PT), governador da Bahia

"Temos quase 80 cidades com decreto de calamidade. Pelo menos 50 cidades têm casas debaixo d'água e com extensões grandes. E agora, quando a água começa a baixar, a gente vê o grande prejuízo que foi provocado", completou o governador, que está em um gabinete avançado em Ilhéus.

Costa anunciou a criação de um auxílio financeiro do governo destinado às famílias atingidas pelas chuvas e a extensão da tarifa social da Embasa (Empresa de Águas e Saneamento da Bahia) para todos os imóveis que tiveram prejuízos com as enchentes nos municípios em situação de emergência.

Segundo o governador, as casas serão construídas em regiões com menor risco de novas tragédias. "Não construiremos casas na beira do rio. Todas têm que estar longe do rio, em lugares altos. As casas construídas pelo governo estadual serão assim. Se no passado alguém não pensou nisso, nós temos que corrigir esse erro", disse.

Em meio ao caos, há casos de luta pela sobrevivência nas cidades atingidas pelas chuvas. Como a história da então gestante Amanda Santana, 26, que abandonou a casa prestes a ser alagada em Ilhéus na tarde de domingo (26) e foi levada às pressas a um hospital, onde nasceu a sua filha Aysha.

Em Itabuna, o aposentado João Alves Nascimento, 71, foi resgatado de casa quando a água já estava na altura do seu peito só com a roupa do corpo e os documentos. A imagem do resgate viralizou nas redes sociais. Na mesma cidade, os próprios moradores usaram um colchão inflável para resgatar uma idosa de 102 anos da laje da casa onde ela mora.

"Algumas pessoas só estão com a roupa do corpo, nem documentos têm, e têm que recomeçar sua vida inteira", relatou o governador.

Situação das rodovias no estado

Ontem, a Polícia Militar liberou parcialmente oito rodovias. Entre elas, o trecho da serra do Marçal, na BA-263, que liga as cidades de Itambé, Vitória da Conquista, Itapetinga e Itabuna, com a utilização apenas de uma das vias e revezamento de veículos para subida e descida.

Em Uruçuca, o km 27 da BA-262 também está liberado, após o nível de água diminuir. Entretanto, os policiais recomendam que os motoristas reduzam a velocidade e redobrem a atenção. Apesar de estar livre, a BA-549, no trecho entre Apuarema e Gandu, requer cuidado devido a árvores caídas e deslizamentos em diversos pontos da via.

A PRF-BA (Polícia Rodoviária da Bahia) mantém interdições em trechos de quatro rodovias federais: a BR-101, BR-330, BR-420 e BR-349. O trecho da BR-415, em Ilhéus, que estava parcialmente bloqueado, foi liberado mais cedo.

Chuvas mais intensas dos últimos 32 anos

As chuvas de dezembro na Bahia já são as mais intensas desde pelo menos 1989, segundo dados do Inema (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos). Segundo o instituto, Itamaraju foi o município com maior chuva no Brasil neste mês e apresenta o quíntuplo da média histórica para os meses dezembro.

Segundo José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), os índices pluviométricos foram muito altos, mas o maior problema não é o volume acumulado, e sim a quantidade de chuva que cai em um curto espaço de tempo.

"Se a chuva cai em pouco tempo, tem potencial para causar um desastre natural maior. Se essa chuva se concentra em dois dias, por exemplo, as barragens são destruídas pela força dela. Esse é o maior problema", diz.