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Luxo, grife e boate: A ostentação de grupo preso no RJ por golpe milionário

À esquerda, Angélica de Jesus Albercht, com uma bebida na mão; à dir, tênis da Dolce & Gabbana, de Fernanda Natalina dos Santos - Reprodução/Polícia Civil do RJ
À esquerda, Angélica de Jesus Albercht, com uma bebida na mão; à dir, tênis da Dolce & Gabbana, de Fernanda Natalina dos Santos Imagem: Reprodução/Polícia Civil do RJ

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

14/05/2022 04h00

Os quatro suspeitos de integrarem uma quadrilha de estelionatários de Balneário Camboriú (SC), presos nesta semana no Rio de Janeiro, gostavam de ostentar uma vida de luxo, que levavam às custas de golpes de clonagem de cartão de crédito, segundo a Polícia Civil. Além do Rio de Janeiro, Diego Luís Pereyra Ferreira, Willian Teixeira Chicorsky, Fernanda Natalina dos Santos Lima e Angélica de Jesus Albercht aproveitavam a vida noturna de São Paulo, Mato Grosso, Pernambuco e Bahia.

Dias antes da ação da Polícia Civil que prendeu o grupo, uma das integrantes chegou a publicar nas redes sociais que havia saído e consumido bebidas caras. Angélica Albercht costumava postar fotos em lancha, fumando narguilé, em boates e tietando funkeiros. Além disso, relatava levar uma vida de esforço em prol da família.

"Só Deus sabe o quanto eu amo e tô fazendo o máximo possível pra ver ela [se referindo à mãe] mais feliz ainda", escreveu ela, no domingo (8), Dia das Mães.

angelica lancha - Reprodução/Polícia Civil do RJ - Reprodução/Polícia Civil do RJ
Angélica de Jesus Albercht em passeio de lancha
Imagem: Reprodução/Polícia Civil do RJ

Quem também aparecia em posts com ostentação era Diego Luís Pereyra Ferreira, apontando como o chefe da quadrilha. No momento em que foi preso, Diego usava um tênis da Versace avaliado em mais de R$ 8 mil. Ele ainda teria tentado subornar os agentes que o prenderam, oferecendo R$ 150 mil e apartamentos, segundo a polícia.

'Tropa do arranca'

Nas redes sociais, Diego Ferreira descreve na própria bibliografia "tropa do arranca", ao lado de uma imagem de fogo e de saco de dinheiro — aparentemente se referindo ao grupo criminoso.

Segundo a delegada Camila Lourenço, que também participou da ação, esse é o nome criado por Diego para representar a quadrilha. Em um dos celulares apreendidos, os agentes encontraram um grupo de conversa em que os integrantes da quadrilha participam, em um aplicativo de mensagens.

"Nesse grupo eram compartilhados dados de terceiros, que seriam empregados nas fraudes. É muito, muito dinheiro envolvido, cifras milionárias", disse a delegada em entrevista ao UOL.

As investigações apontam que Diego Ferreira chegou ao Rio de Janeiro há 3 meses. Depois, os demais integrantes da quadrilha se mudaram para a capital fluminense. O chefe do grupo morava em um condomínio de luxo, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade. O aluguel do apartamento gira em torno de R$ 5 mil por mês.

Quem também ostentava nas redes sociais era Fernanda Natalina dos Santos Lima. Segundo a Polícia Civil, ela costumava publicar fotos em lanchas e durante viagens pelo Brasil. Em uma das postagens, Fernanda mostra um tênis da grife Dolce e Gabbana, avaliado em pouco mais de R$ 7 mil.

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Quadrilha clonava cartões de crédito de clientes que tinham conta com limite alto em banco
Imagem: Divulgação/Polícia Civil RJ

Dinâmica dos golpes

De acordo com o inquérito da 14ª DP (Leblon), a quadrilha conseguia dados das vítimas na deep web — uma parte da internet não indexada por mecanismos de busca e oculta do grande público. Em seguida, clonavam cartões de crédito e geravam links para pagamentos virtuais. Por fim, transferiam o dinheiro da pessoa que teve o cartão clonado para contas de "laranjas".

O prejuízo chegou a R$ 1 milhão. A polícia acredita que esse valor pode ser maior já que, exceto Diego Ferreira, os outros suspeitos ficavam com apenas 5% do valor de cada golpe e, mesmo assim, levavam a vida com muita ostentação.

"Era uma quadrilha altamente especializada, eles vivem disso. Eles não permanecem muito tempo nos estados, eles param e voltam a cometer esse tipo de crime. A mesma facilidade que as pessoas têm de adquirir cartões de crédito, eles têm para encontrar os dados das vítimas. Os nossos dados não estão protegidos, as instituições financeiras precisam ter cuidado e invistam em segurança de dados", alertou a delegada Daniela Terra, titular da 14ª DP (Leblon).

Procurada pelo UOL, a defesa dos suspeitos, conduzida pelo advogado Fábio da Silva Manoel, alega entender que a prisão foi ilegal e nega que tenha havido qualquer tentativa de suborno.

"A polícia foi até o apartamento de Willian, sem qualquer mandado judicial, aonde teria encontrado as supostas provas do crime de estelionato. Os valores indicados pela polícia relacionados ao suposto golpe são irreais, pois os indiciados estavam no Rio de Janeiro, há cerca de um mês, à procura de trabalho e não teriam qualquer possibilidade de auferir os valores indicados.

A defesa respeita, mas discorda da decisão que decretou a prisão preventiva e já está preparando o Habeas Corpus. Em relação ao suborno, nenhum policial relatou isso em seus depoimentos."