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Rio: Polícia confirma 23 mortos em chacina; 3 seriam de outro local

Vítimas de operação na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio de Janeiro, foram encaminhadas para hospital Getúlio Vargas - Jose Lucena/Estadão Conteúdo
Vítimas de operação na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio de Janeiro, foram encaminhadas para hospital Getúlio Vargas Imagem: Jose Lucena/Estadão Conteúdo

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

26/05/2022 14h17Atualizada em 27/05/2022 16h03

A Polícia Civil do Rio de Janeiro revisou hoje o número de mortos na chacina na Vila Cruzeiro, na zona norte da cidade, na última terça-feira (23), durante operação conjunta entre Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e PRF (Polícia Rodoviária Federal).

Segundo a corporação, 23 morreram na região e não 26, como havia sido informado antes. A polícia afirma que outros três óbitos ocorreram em meio a um confronto entre traficantes na comunidade do Morro do Juramento, em outro ponto da cidade.

De acordo com o Instituto Médico Legal, dos 23 corpos, 22 já foram identificados e um aguarda confirmação oficial. Dezoito foram liberados pelo IML e cinco aguardam liberação.

Em todos os corpos foram realizados exames de necropsia e de papiloscopia para confirmar as identificações e esclarecer as circunstâncias das mortes. A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) instaurou inquéritos e está a cargo das investigações, que estão em andamento.

Entre os identificados, há cinco pessoas de outros estados: Bahia (1), Amazonas (1) e Pará (3). Do total, ainda segundo a Polícia Civil, nove tinham passagem pela polícia.

Em coletiva de imprensa realizada no mesmo dia da operação, a PM informou que monitorava 50 homens que sairiam em comboio da Vila Cruzeiro para a Rocinha, comunidade da zona sul do Rio, para se juntar a outro grupo com objetivo de prática criminosa. A corporação informou que lideranças criminosas de outros estados também integravam o grupo.

A Polícia Civil divulgou os nomes e outras informações sobre os mortos:

  1. Anderson de Souza Lopes - Natural da Bahia
  2. Carlos Alexandre de Oliveira Rua - Natural do Pará, responde a um processo por latrocínio do TJPA referente a 2018
  3. Carlos Henrique Pacheco da Silva - Natural do Rio de Janeiro, tinha 25 anos. Não há informações até o momento de anotações criminais.
  4. Denis Fernandes Rodrigues
  5. Diego Leal de Souza
  6. Douglas Costa Inácio Donato - Ex-militar da Marinha e pai de um bebê de dois meses, Douglas trabalhava em uma loja de calçados na Penha e fazia um curso de vigilante. Familiares do rapaz acusam a polícia de ter levado o corpo dele para um matagal. O enterro foi marcado por pedidos de justiça.
  7. Edmilson Felix Herculano
  8. Emerson Stelman da Silva
  9. Eraldo de Novaes Ribeiro - Natural do Pará, aparece em dois processos no TJPA. Um por homicídio e outro por roubo majorado, formação de quadrilha e porte ilegal de arma de fogo
  10. Everton Nunes Pires
  11. Gabrielle Ferreira da Cunha - Natural do Rio de Janeiro, ela tinha 41 anos e morava na Chatuba, favela vizinha à Vila Cruzeiro. Gabrielle foi baleada dentro de casa. Segundo a PM, é possível que ela tenha sido atingida por uma arma de longo alcance.
  12. Izaias Vitor Marques Nobrega - Segundo a família, foi baleado na perna, se escondeu na mata, queria se entregar e foi baleado novamente na cabeça.
  13. João Carlos Arruda Ferreira (Menor) - Chegou sem vida na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Alemão. A família diz que ele foi encontrado morto na mata com um ferimento no peito, compatível com uma facada. Ele tinha 16 anos.
  14. João Victor Moraes da Rocha
  15. Leonardo dos Santos Mendonça - Natural do Rio de Janeiro. Tinha 29 anos. Sem informações até o momento de anotações criminais.
  16. Mauri Edson Vulcão Costa - Ele aparece em processos no TJPA por tráfico de drogas e organização criminosa
  17. Maycon Douglas Alves Ferreira da Silva - Conhecido como "Maiquim", tinha 29 anos. Nascido no Rio de Janeiro, possuía quatro passagens criminais. Em 2019, foi preso em flagrante pela Delegacia de Honório Gurgel, na zona norte, por tráfico de drogas. Em 2021, foi condenado a seis anos, três meses e 18 dias de prisão em regime fechado.
  18. Nathan Werneck Borges Lopes - Pediu socorro por telefone após ser baleado. Ele só foi resgatado mais de seis horas depois e morreu a caminho do hospital.
  19. Patrick de Andrade da Silva - Conhecido como "PT do Jacaré", completou 22 anos no último dia 4. Nasceu em Duque de Caxias, cidade da Baixada Fluminense. Patrick tinha uma passagem por suspeita de tráfico de drogas e associação ao tráfico.
  20. Ricardo José Cruz Zacarias Junior. Tinha 27 anos e trabalhava como mototaxista. Era casado e tinha três filhas. Carioca, foi criado em Vigário Geral e tinha se mudado recentemente para a Penha
  21. Roque de Castro Pinto Junior - Oriundo do Amazonas, foi condenado a regime semiaberto de sete anos por crimes ligados ao tráfico de drogas.
  22. Tiugo dos Santos Bruno

Mapa Rio de Janeiro - Folhapress - Folhapress
Imagem: Folhapress

Vítimas atingidas em casa e ação na madrugada

Os moradores da Vila Cruzeiro relataram que os tiroteios na região tiveram início por volta de 4h (de Brasília) de terça-feira (24) e se repetiram ao fim da manhã e no início da tarde. Ao menos 19 escolas municipais não abriram por causa da ação.

Gabrielle Ferreira da Cunha, 41, moradora da Chatuba, favela vizinha à Vila Cruzeiro, foi baleada dentro de casa. Embora a região onde ela se encontrava estivesse fora da área de atuação das forças de segurança, a PM não descarta a possibilidade de que ela tenha sido atingida por uma arma de longo alcance.

Na nova lista, já consta o nome de João Carlos Arruda Ferreira, 16, que chegou sem vida na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Alemão. A família diz que ele foi encontrado morto na mata com um ferimento no peito, compatível com uma facada.

Outra vítima pediu socorro por telefone após ser baleada. Nathan Werneck, 21, só foi resgatado mais de seis horas depois e morreu a caminho do hospital.

Ex-militar da Marinha, Douglas Costa Inácio Donato, 23, também foi morto durante a ação de ontem. Pai de um bebê de dois meses, Douglas trabalhava em uma loja de calçados na Penha e fazia um curso de vigilante. Familiares do rapaz acusam a polícia de ter levado o corpo dele para um matagal.

"Sabemos que essas operações jamais seriam toleradas em bairros nobres da cidade. É preciso que também não sejam mais toleradas nas favelas do Rio de Janeiro", criticou o ouvidor da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Guilherme Pimentel.

O Ministério Público Estadual e o Ministério Público Federal abriram procedimentos de investigação sobre a chacina.

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24.05.2022 - Policiais na Vila Cruzeiro, após segunda operação mais letal do Rio de Janeiro
Imagem: JOSE LUCENA/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO