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O que a polícia quer saber sobre assassinato de petista por bolsonarista

11.jul.2022 - A deputada federal e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, participa do velório de Marcelo Arruda, assassinado pelo bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho em Foz do Iguaçu (PR) - Christian Rizzi/Fotoarena/Estadão Conteúdo
11.jul.2022 - A deputada federal e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, participa do velório de Marcelo Arruda, assassinado pelo bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho em Foz do Iguaçu (PR) Imagem: Christian Rizzi/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

12/07/2022 04h00

A Polícia Civil do Paraná quer ouvir a esposa do policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho, que matou a tiros o guarda municipal Marcelo Arruda enquanto a vítima comemorava o aniversário de 50 anos com uma festa temática do PT alusiva ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O crime aconteceu na noite de sábado (9) em Foz do Iguaçu, a 636 km de Curitiba.

Os investigadores querem entender o que motivou a ida de Guaranho ao local da festa. Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), ele foi baleado na ação pela própria vítima, que revidou aos disparos. O policial penal federal está internado em estado grave. A Polícia Civil investiga se houve crime de ódio com motivação política.

Dalvalice Rosa, mãe de Guaranho, concorda com a hipótese investigada pelas autoridades. "O que aconteceu tem a ver com extremismo e intolerância política", disse. A Justiça decretou ontem a conversão da prisão em flagrante para prisão preventiva dele.

O UOL teve acesso aos depoimentos de testemunhas e ao boletim de ocorrência, que detalham a ação com base nos relatos e nas imagens das câmeras de segurança.

O primeiro vídeo mostra quando o assassino para o veículo em frente à associação onde Arruda comemorava o aniversário. O aniversariante aparece na cena, aparenta conversar com Guaranho e volta ao interior da festa.

Em seguida, o policial penal federal manobra o veículo com som alto de uma música em alusão a Bolsonaro e parece falar algo em direção às pessoas que participavam da festa. Arruda retorna e joga algo na direção do veículo. Segundo relatos, Guaranho reagiu mostrando a arma.

Jorge [Guaranho] desceu do veículo com a arma de fogo em mãos. E aos gritos dizia: 'aqui é Bolsonaro'"
Trecho do boletim de ocorrência

De acordo com o registro policial, a esposa do policial penal federal estava no banco de trás do veículo com a filha de 3 meses no colo nesse primeiro momento. Ela teria pedido para que o marido parasse com as provocações e fosse embora.

O policial penal federal, que não foi convidado para a festa, deixa o local em seguida. Mas retorna cerca de 20 minutos depois para atirar. Agora, a Polícia Civil quer confirmar essa versão em depoimento e ter mais detalhes do caso.

'Vou matar todos vocês'

O UOL teve acesso ao áudio de um dos convidados da festa, que confirmou essa versão. "Apareceu um cara, que não era convidado, que ninguém conhece. Veio com o carro e começou a gritar: 'É Bolsonaro, seus fdp! É o mito'. Aí nisso, o cara tira uma arma para fora pela janela. Aponta para o Marcelo, aponta para todo mundo", relatou o homem, que não se identificou.

Foi nesse momento que a esposa de Guaranho tentou convencê-lo a deixar o local, ainda segundo essa testemunha. "A mulher dele começa a gritar: 'para com isso, vamos embora'. Aí ele fala: 'Eu vou voltar e vou matar todos vocês, seus desgraçados'".

Nesse momento, revelou como Arruda reagiu à ameaça e como foi o confronto em meio à festa.

Ele fala: 'vou pegar a minha arma'. Foi buscar a arma no carro e a colocou na cintura. Quando o cara [voltou e] apontou a arma, ele falou: 'para, polícia'. Nisso, o cara deu um tiro na perna do Marcelo [Arruda], que caiu. E deu outro tiro. O Marcelo conseguiu se virar e atirou. Se não fosse isso, o cara tinha feito uma chacina no meio da festa"
Relato de testemunha, que não se identificou

A Polícia Civil suspeita que Guaranho tenha descoberto que o tema da festa era em homenagem ao PT devido às câmeras de monitoramento da associação, acessíveis pelo celular dele já que o atirador é integrante da direção da entidade.

O UOL tentou entrar em contato com a entidade por telefone, mas o número constava como inexistente.

O que mostram as imagens

O vídeo mostra Guaranho saindo do veículo com uma arma, cerca de 20 minutos após o desentendimento. A mulher de Arruda tenta dissuadi-lo, mostrando a carteira funcional da Polícia Civil. O atirador desobedece a policial, efetua dois disparos em direção ao salão de festas e invade o local.

Imagens do circuito interno mostram Arruda de pé, caminhando com dificuldade pelo salão, mancando após aparentemente ter sido atingido por um tiro. Segundos depois, ele cai no chão e se abriga atrás de uma mesa. Em seguida, o policial penal federal surge correndo dentro do salão de festas, com arma em punho, e mira em direção ao aniversariante, que tentava se proteger.

A esposa de Arruda tenta impedir que Guaranho atire novamente. Ele se desequilibra e cai no chão, mas consegue disparar. O bolsonarista se levanta e sai correndo, ainda armado. Arruda, já ferido, atira contra Guaranho, que é atingido e cai no chão.

Um homem não identificado aparece e dá chutes no rosto do bolsonarista, que para de se mover. A Polícia Civil agora tenta identificar o agressor para a apuração de um inquérito paralelo que apura as agressões sofridas por Guaranho após ser atingido por disparos.

Dalvalice Rosa, mãe de Guaranho, disse que ele foi atingido por disparos no rosto e nas duas pernas. Segundo ela, o policial penal federal sofreu um edema na cabeça provocado pelos chutes.