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Polícia ouviu 17 pessoas e faz buscas em investigação de morte de petista

O bolsonarista Jorge Guaranho assassinou o petista Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu (PR) - Reprodução
O bolsonarista Jorge Guaranho assassinou o petista Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu (PR) Imagem: Reprodução

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

14/07/2022 11h29

Após ouvir 17 pessoas no inquérito do assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda, morto a tiros no sábado (9) pelo policial penal Jorge José da Rocha Guaranho em Foz do Iguaçu, a Polícia Civil do Paraná informou que agora faz buscas complementares. O inquérito foi concluído hoje e será remetido ao Ministério Público amanhã.

Os investigadores já fizeram a análise das imagens do crime, que mostram o momento em que o policial penal invadiu o salão de festas onde a vítima comemorava o aniversário de 50 anos com uma festa temática do PT alusiva ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Apoiador de Jair Bolsonaro (PL), Guaranho, que não era convidado da festa, foi ao local com uma música alta em referência ao presidente. Segundo testemunhas, gritou palavras de apoio a Bolsonaro e críticas a Lula.

Imagens mostram Arruda jogando algo na direção do carro, onde também estavam a esposa do policial penal com a filha de 3 meses no colo, no banco de trás. Cerca de 20 minutos depois, Guaranho retornou ao local onde matou o petista.

Em entrevista à TV RPC, filiada da Rede Globo no Paraná, a esposa de Guaranho nega que ele tenha cometido crime de ódio por motivação política —hipótese investigada pela Polícia Civil. Mas confirma que o marido passou pelo local ouvindo música alusiva ao presidente e que gritou "Bolsonaro mito".

"O que motivou ele a voltar lá foi essa agressão. Ele se sentiu agredido, ele se sentiu ameaçado, a família ameaçada. Então, por ele ter voltado lá, não tem nada a ver com Lula, não tem nada a ver com Bolsonaro", disse.

Após ela e Jorge Guaranho saírem do local pela primeira vez, a esposa do policial teria pedido para o marido não voltar ao local. "Eu implorei para ele, falei para não voltar, não retornar, falei que estava tremendo, muito nervosa com a situação", declarou. Depois, o marido teria dito que Arruda e os convidados "ameaçaram" sua família e que voltaria para tirar satisfação.

Mesmo após ser baleado, o aniversariante, que também estava armado, revidou, atingindo o policial penal nas pernas e no rosto. Guaranho foi agredido a chutes na cabeça dados por convidados da festa quando já estava no chão, como mostram as imagens registradas pelas câmeras de segurança no momento do crime.

Advogados de policial penal alegam legítima defesa

A defesa constituída pela esposa de Guaranho, que está internado em estado grave na UTI do Hospital Ministro Costa Cavalcante e respira com o auxílio de ventilação mecânica, alega legítima defesa.

Segundo os defensores, as imagens mostram que Guaranho desceu do veículo desarmado e só abriu fogo porque Arruda estava com a arma em punho.

"Ele sai de dentro do carro desarmado. Mas já havia uma arma apontada para ele. Só nesse momento, ele saca a arma. Se tivesse intenção de matar, já teria descido atirando", alega o advogado Cleverson Leandro Ortega.

O advogado Daniel Godoy, um dos representantes da família do guarda municipal, rebate a versão. "Guaranho atirou duas vezes para dentro. Então, entrou no local e desferiu mais um tiro quase à queima-roupa. Só depois de atingido e caído no chão é que Marcelo atira. Não foi legítima defesa".

MP pediu sigilo e quer examinar celular de atirador

O Ministério Público do Paraná solicitou ontem à Justiça que seja decretado sigilo no inquérito. No pedido, a promotoria solicitou à investigação uma série de medidas. Entre elas, o exame do conteúdo do aparelho celular do autor do crime e a requisição da ficha funcional de Guaranho junto ao Depen (Departamento Penitenciário Nacional).

O promotor Tiago Lisboa Mendonça solicita o sigilo do inquérito, para evitar interferência na investigação conduzida pela Polícia Civil do Paraná.

"Trata-se de fato grave, de grande repercussão. O acesso indiscriminado aos autos (...) poderá tumultuar e interferir negativamente nas investigações, sobretudo em razão da existência de diversas diligências investigatórias ainda em curso", diz um dos trechos do documento, ao qual o UOL teve acesso.

O Ministério Público solicita, ainda, que o Sindicato dos Agentes Federais de Execução Penal de Catanduvas (PR), onde Guaranho trabalha, não tenha acesso aos autos. A entidade designou uma advogada para representar o atirador, que alegou legítima defesa e pediu exame de embriaguez do petista assassinado pelo policial penal.

"Em relação a estranhos ao feito, tal qual o sindicato ou qualquer outra entidade de representação, por ausência de previsão legal, bem como por entendimento jurisprudencial, requer que sejam desabilitados", cita um dos trechos do pedido da promotoria.