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Jilmar Tatto: PT tem que cuidar da periferia para combater antipetismo

Do UOL, em Brasília e São Paulo

03/08/2020 13h01Atualizada em 03/08/2020 13h56

Pré-candidato à prefeitura de São Paulo pelo PT, Jilmar Tatto (PT) afirmou hoje que o partido precisa "voltar ao que era" e cuidar da periferia para combater o "antipetismo" na capital paulista. O PT perdeu a prefeitura paulistana para João Doria (PSDB), em 2016. À época, o tucano fez uma campanha focada no antipetismo.

O PT precisa voltar ao que era, cuidar da vida do povo, do povo da cidade de São Paulo, da periferia, fazer com que a periferia esteja no Orçamento. O PT tem que deixar claro que vai inverter prioridades na cidade de São Paulo, combater essa desigualdade, e a partir daí dialogar diretamente com essa população.

Em entrevista ao UOL, Tatto declarou que o PT precisa deixar claro quais são as prioridades para cidade e que a intenção dele é "fazer uma política de moradia para aquelas pessoas que ganham até três salários mínimos, comprando estoque de terra e organizando mutirões".

Na conversa, conduzida pelos colunistas do UOL Diogo Schelp e Leonardo Sakamoto, Tatto disse ainda que o PT foi muito machucado e que, se o partido voltar a governar a cidade, o povo vai melhorar de vida.

Críticas ao prefeito Bruno Covas

Segundo Tatto, o prefeito Bruno Covas não deu o salto que a cidade precisava, principalmente ao comandar a cidade enquanto passa pela pandemia do novo coronavírus. "Ele é um prefeito 'deixa a vida me levar', e deixa o povo se lascar", disse, criticando ainda a decisão de voltar às aulas em 8 de setembro.

"Eles [Bruno Covas e o governador João Dória] não sabem cuidar do povo. O povo está morrendo todos os dias, está sendo contaminado. A preocupação de abrir o comércio é mais em função do lobby dos shopping centers. (...) Evidente que as pessoas precisam trabalhar, sair de casa, mas as pessoas precisam também viver. Continuam mil pessoas morrendo todos os dias. É a banalização da vida. Nós nos acostumamos com as mortes, e quem está morrendo? Pobre, preto da periferia. E quem cuida deles? Que ação que a prefeitura e o Estado está fazendo para salvar essas vidas? Nenhuma", disse.

Mulher como vice-prefeita

Questionado sobre a possibilidade de que Ana Estela Haddad, mulher do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), seja chamada para compor a sua chapa como candidata a vice, Tatto afirmou que a decisão sobre quem ocupará o posto fica a cargo do PT. Ele disse, no entanto, que gostaria que a vice-candidatura seja oferecida a uma mulher.

"Quem vai discutir a chapa vai ser o PT. Eu gostaria que fosse uma mulher", disse. "A maioria das pessoas da cidade de São Paulo é mulher. Mas é um debate que o PT vai fazer mais para frente. Nós estamos naquela fase da elaboração do programa de governo", afirmou.

Tatto também não confirmou ou negou a possibilidade de Marta Suplicy, que já foi prefeita da capital paulista pelo PT e hoje é filiada ao MDB, ser um nome considerado para compor a chapa como sua vice.

"Eu não sei se a Marta vai ser candidata, se vai ser vice, se vai ser nada. O quadro está muito indefinido. E quem vai discutir sobre vice vai ser o PT. Tem que aguardar, ir conversando e respeitar a opinião das pessoas", disse.

O pré-candidato pelo PT disse ainda que, na cidade, há uma parcela dos cidadãos que votaria nos nomes de Marta Suplicy ou de Luiza Erundina, que também governou a cidade quando era filiada ao partido e hoje é pré-candidata a vice na chapa do PSOL, ao lado de Guilherme Boulos.

"Existe ainda uma parcela que vota na Marta, na Erundina, mas são governos do PT", disse. "O PT tem essa característica de um projeto coletivo, e nós vamos falar que [os projetos apresentados à época] foi no governo do PT".

Aliança entre partidos de esquerda

Tatto disse ainda que acredita ser "muito difícil" que partidos de espectro mais à esquerda se unam para formar uma aliança ainda antes do primeiro turno das eleições na capital. Isso porque, segundo ele, cada partido tem sua lógica própria e as siglas também têm preocupações devido à cláusula de barreira —medida que impossibilita o recebimento de recursos caso o partido não atinja um determinado desempenho eleitoral.

"Fui conversar com o Orlando [Silva, pré-candidato pelo PCdoB], tenho uma relação muito tranquila com ele. Ele disse: 'oO problema é o seguinte, preciso lançar candidato, senão o PCdoB vai acabar", afirmou. Tatto não descartou, no entanto, a possibilidade de uma aliança entre os partidos de esquerda no 2º turno.

"De todo o modo, temos que deixar as portas abertas para a gente se juntar no 2º turno. Eu tenho certeza que vamos ganhar, eu vou ser o próximo prefeito da cidade. O clima é pela volta do PT na cidade de São Paulo. Mas não vamos ser desrespeitosos com as outas candidaturas", disse.

Jilmar Tatto venceu as prévias do PT ao derrotar o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. O pré-candidato está com 54 anos, é professor de história e secretário de comunicação da sigla, à qual é filiado desde 1981. Foi deputado estadual e federal.

Em São Paulo, atuou por duas vezes como secretário municipal de Transportes: durante as gestões petistas de Marta Supilcy (2001 a 2004) e Fernando Haddad (2013 a 2016).

Taxação de grandes fortunas

Ainda na conversa, Jilmar Tatto afirmou afirmou que os bilionários da cidade de São Paulo precisam contribuir com o município e que tanto a capital como o Brasil precisam fazer um debate sobre a taxação de grandes fortunas no país.

"Nós temos que fazer um debate público, transparente na cidade, sobre como é que ficam esses bilionários da cidade. Não vão contribuir com a cidade? Só os bancos em São Paulo, essas taxinhas que as pessoas pagam nas casas lotéricas, por ano isso dá R$ 70 bilhões", afirmou.

"O Itaú, no ano passado, teve um lucro de R$ 26 bilhões. Não é possível que a cidade, o Brasil, não vai fazer esse debate sobre a taxação das grandes riquezas, desses bilionários, taxar o patrimônio. Esse debate está acontecendo no mundo. Eu não acredito que o Brasil vai ficar para trás disso", disse Tatto.