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"Anti-Bolsonaro", Orlando vê França rompendo com campo progressista em SP

Marina Marini, Nathan Lopes e Rafael Bragança

Do UOL, em São Paulo

27/08/2020 12h40

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB) criticou hoje o ex-governador paulista Márcio França (PSB), seu concorrente na disputa pela Prefeitura de São Paulo, pelos acenos ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). "O Márcio França rompe com o campo progressista e repete o Bolsodoria", disse ele durante o UOL Entrevista, comandado pelos colunistas do UOL Diogo Schelp e Maria Carolina Trevisan.

Ao lembrar a aliança entre Bolsonaro e o atual governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em 2018, Silva fala em "uma atitude oportunista daqueles que fazem qualquer coisa pelo poder". "E não é assim. Eu apresentarei um projeto para a cidade."

Hoje, Doria e Bolsonaro estão rompidos, com o tucano tendo como representante na disputa municipal o atual prefeito, Bruno Covas (PSDB). Em busca do anti-Doria, França tem feito acenos a Bolsonaro, que estaria disposto a apoia-lo em um eventual segundo turno.

De olho no PDT

Márcio França hoje tem aliança com o PDT. Orlando Silva, do PCdoB e que gostaria de ter um acerto com esse partido, diz lamentar o acordo dos pedetistas com o ex-governador. "Eu só lamento porque o campo de esquerda perde de ter um dos principais partidos", citando a aliança com uma candidatura que "flerta com o que há de mais reacionário na política brasileira".

Nos bastidores, o PCdoB tem se alimentado de expectativa por atrair o PDT. Na entrevista, porém, Silva diz que batalha "para conquistar voto dos eleitores progressistas e de esquerda". "A base social do PDT é progressista. A decisão do PDT manter ou não o apoio a Márcio França é partidária. Não me cabe nutrir esperança".

A minha candidatura é anti-Bolsonaro pelo risco que ele representa à democracia e pela forma como ele conduz temas da política internacional. Eu tenho a minha linha, meu discurso e tenho mais identidade com a base do PDT do que dos eleitores do Bolsonaro.
Orlando Silva (PCdoB), pré-candidato a prefeito de São Paulo

O fim de PT vs. PSDB

Para o deputado, a polarização entre PSDB e PT acabou e hoje o país vive um novo ciclo político. Silva diz que o anterior, iniciado com a redemocratização, acabou com a eleição de Bolsonaro. "Essa disputa PSDB versus PT foi datada e o que vai haver no próximo período é um novo ciclo".

E, por considerar "que o Brasil vive a renovação de um ciclo político", ele diz que cabia ao PCdoB abandonar uma aliança história com o PT para lançar uma pré-candidatura a prefeito de São Paulo em primeiro turno. "A nossa decisão corresponde a uma leitura do pais."

Sobre a separação dos partidos de esquerda para o pleito paulistano, Silva diz que "nós não conseguimos amadurecer um programa em torno de uma alternativa". "O diálogo existe, mas não foi possível produzir uma convergência."

Para ele, a esquerda precisa ouvir críticas. "Essa perspectiva de construir laços já foi mais presente no campo da esquerda", diz. "Temos que aprender com os erros e avanças na construção de um projeto."

PCdoB na presidência

Mais distante do PT nesta eleição, o deputado defende que o PCdoB tenha candidatura à Presidência da República em 2022. "Ter uma candidatura a presidente é uma necessidade do PCdoB", diz. "Mas, passada a eleição, seria importante redesenhar o sistema político e eleitoral do Brasil."

Em sua campanha a prefeito, o parlamentar diz que a pauta contra o racismo estará presente, lembrando o caso de George Floyd, que foi morto por policiais nos Estados Unidos. "Todo dia morre um George Floyd na periferia de São Paulo. Temos que enfrentar a violência policial. E eu falo, nós por nós. Nós, os negros, que temos a responsabilidade central para romper o racismo."

Silva também promete tratar a questão das drogas como um problema de saúde pública. "É desumano tratar essa situação nos termos que o PSDB tratou. Temos que gerar possibilidade de de reagrupamento e de renda, e tem que ser com paciência. Vamos ter uma política que combine saúde publica e serviço social."