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Operações contra Paes e Crivella favorecem candidatas e tiram foco do Rio

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republcanos) e o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) - Reprodução de vídeo
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republcanos) e o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) Imagem: Reprodução de vídeo

Maria Luisa de Melo

Colaboração para o UOL, no Rio

12/09/2020 04h00

Com três operações policiais em menos de uma semana envolvendo três pré-candidatos à prefeitura, a cidade do Rio de Janeiro vê seu cenário eleitoral mais tumultuado do que nunca. Segundo analistas políticos ouvidos pelo UOL, as ações mexem no jogo de alianças, abrem espaço a um "novo Witzel", fortalecem as candidaturas femininas e afetam o debate eleitoral, tirando o foco das propostas para a cidade e empurrando a discussão para o "plano criminal".

Os favoritos Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Crivella (Republicanos) foram alvo de ações de busca e apreensão em investigações por supostos esquemas de corrupção, e a pré-candidata Cristiane Brasil (PTB) foi presa ontem. Investigação do Ministério Público sobre a tragédia do Ninho do Urubu também pode atingir o pré-candidato Eduardo Bandeira de Mello (Rede), cotado para chapa com Martha Rocha (PDT).

"As operações de busca e apreensão e as prisões têm impacto em todas as campanhas [...] Não há como separar uma ação policial da campanha eleitoral, porque a operação se transforma em ato político-eleitoral, já que acontece no meio do calendário eleitoral", diz o cientista político Paulo Baía.

Para ele, os eleitores também serão afetados à medida que ocorre uma mudança no foco da discussão.

Essas ações envolvendo investigações antigas intimidam candidaturas e geram medo. O processo eleitoral deixa de discutir projetos da cidade e passa a discutir qual candidato é mais ou menos criminoso. Desloca a discussão eleitoral para o plano criminal e não para propostas para a cidade. Não estou criticando as operações, mas o fato de acontecerem durante o calendário eleitoral

Paulo Baía, cientista político

PSL descarta Cristiane Brasil, mas pode fechar com Crivella

Já o PSL viu a possibilidade da candidatura própria crescer após as operações contra Paes e Crivella. No entanto, a legenda diz que pode compor a vice de Crivella se o Republicanos, partido do prefeito, apoiar o PSL em Curitiba.

Na semana passada, o partido divulgou aproximação com Cristiane Brasil. No acordo que vinha sendo costurado, a deputada federal seria a vice em chapa encabeçada pelo deputado federal Luiz Lima. Mas, agora, tudo mudou.

Presidente estadual da legenda no Rio, o deputado federal Sargento Gurgel (PSL-RJ) afirma que a parceria com Cristiane foi descartada. A convenção do PSL no Rio acontece hoje.

Desgaste de Paes e Crivella pode beneficiar candidatas

Para o cientista político Paulo Baía, o atual contexto favorece Martha Rocha.

A pré-candidata à Prefeitura do Rio Martha Rocha (PDT) - Divulgação - Divulgação
A pré-candidata à Prefeitura do Rio Martha Rocha (PDT)
Imagem: Divulgação

"Enquanto Paes e Crivella estão aguardando os desdobramentos das investigações, Martha Rocha se beneficia, se não se juntar com o Bandeira de Mello", pondera. A convenção do PDT acontece hoje.

Reportagem do UOL Esporte mostrou nesta semana e-mails comprovando que a diretoria do Flamengo foi informada à época em que Bandeira de Mello presidia o clube dos problemas que culminaram no incêndio (dez meninos morreram). Ele vinha sendo cotado para ser o vice na chapa de Martha Rocha (PDT), mas as revelações têm potencial para mudar a escolha.

Ricardo Ismael, cientista político da PUC Rio, amplia o leque —para ele, o desgaste de Crivella e Paes servirá para o crescimento de Martha Rocha, Renata Souza (PSOL) e Benedita da Silva (PT).

"A novidade da eleição são três mulheres. Elas têm um bom discurso contra Paes e Crivella. Mas precisam de mais do que isso. Precisam mostrar que conseguem administrar uma cidade como o Rio, repleta de desafios."

Cenário favorável a candidato desconhecido

Para o analista político Guilherme Carvalhido, o panorama também é favorável ao surgimento de um candidato desconhecido, como ocorreu na eleição de Wilson Witzel (PSC) ao governo do Rio.

Ele ressalva contudo que, diferentemente de 2018, não se vê despontar algo semelhante à onda bolsonarista que varreu o país.

Os dois principais candidatos que hoje disputam a preferência do eleitor foram atingidos. Isso é fato. [...] Poderíamos ter um novo Witzel: alguém se apresentando como novidade. Mas não há um discurso correndo por fora como aconteceu em 2018. E o eleitor está muito desconfiado

Guilherme Carvalhido, analista político