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PT vira coadjuvante na disputa por prefeituras de capitais do Sul

Manuela D"Ávila (PCdoB) e Miguel Rossetto (PT), chapa oficializada em Porto Alegre - Laura Barros/Divulgação
Manuela D'Ávila (PCdoB) e Miguel Rossetto (PT), chapa oficializada em Porto Alegre Imagem: Laura Barros/Divulgação

Hygino Vasconcellos e Vinicius Boreki

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre e Curitiba

17/09/2020 04h00

O PT perdeu o protagonismo na disputa pelas prefeituras das capitais do Sul do Brasil. Em Florianópolis e Porto Alegre, a sigla abriu mão do nome a prefeito e vai disputar como vice. Já em Curitiba, o partido flertou com o PDT por uma coligação, mas acabou anunciando uma chapa pura, interpretada como uma maneira de marcar posição na cidade que representa o berço da Lava Jato e onde o ex-presidente Lula ficou preso até o ano passado.

Em Porto Alegre, é a primeira vez desde a década de 1980 que o PT não vai ser cabeça de chapa. A ex-deputada federal Manuela D'Ávila (PCdoB) —que foi vice na chapa presidencial com Fernando Haddad (PT)— desta vez é a candidata principal com o ex-ministro Miguel Rossetto (PT) de vice.

Foi a própria projeção de Manuela —e sua condição de chegar ao segundo turno— um dos motivos para o partido abrir mão da cabeça de chapa. "Entendemos que, de fato, é um nome forte. Também vimos a necessidade de montar um bloco de esquerda", afirma a presidente municipal do PT, Maria Celeste.

A composição já era cogitada desde o ano passado. "A escolha de Manuela não significa esconder o PT, mas fazer a diferença. É uma candidata com potencial competitivo", ressalta ela.

Além do PCdoB, o PT tentou criar uma frente com PSOL. As negociações não avançaram, porque a sigla socialista exigiu o nome da deputada federal Fernanda Melchionna como vice. "O PT é o maior partido da cidade, teria que compor chapa majoritária", afirma Maria Celeste.

Há dois anos, Rossetto disputou o cargo de governador do Rio Grande do Sul, mas não chegou ao segundo turno. "Na disputa pelo governo do estado, nós fizemos 22% dos votos, é um percentual significativo."

O cientista político e professor universitário Bruno Lima Rocha entende que a situação reflete uma aproximação maior do PT com partidos de centro-esquerda. Para o pesquisador, essa tendência segue o que fez o ex-presidente Lula (PT) durante seu governo. "O lulismo é um giro ao centro. O governo dele não trouxe conflitos sociais, na sua carreira política ele foi orientando no sentido da boa convivência", diz.

No berço da Lava Jato

Em 2012, a aliança com o PDT, tendo Miriam Gonçalves como vice de Gustavo Fruet, sagrou-se vencedora. Também marcou a única vez desde a redemocratização que o PT não lançou candidato próprio para a capital do Paraná.

Em Curitiba, PT lançou o professor de direito Paulo Opuszka como candidato a prefeito - Divulgação - Divulgação
Em Curitiba, PT lançou o professor de direito Paulo Opuszka como candidato a prefeito
Imagem: Divulgação
Desta vez, o professor de direito Paulo Opuszka sai como candidato a prefeito, tendo o delegado Pedro Filipe como vice. O PT chegou a ter conversas com o PDT para ingressar na chapa do deputado estadual Goura, sem sucesso.

Opuszka não nega que o partido tenha tentado buscar alianças até o final: entre os cogitados, estiveram PCdoB, PSOL e MDB. "Cada partido tem a sua idiossincrasia e os seus próprios projetos. Sabemos que uma frente de esquerda empolgaria as pessoas e reuniria várias discussões relevantes: política identitária, a defesa do serviço público e dos sindicatos", avalia.

Curitiba ainda tem o papel emblemático de berço da Lava Jato e sede onde o ex-presidente Lula permaneceu preso por 580 dias. Para Opuszka, a campanha terá o papel "de esclarecimento" a respeito desses assuntos. Outros candidatos como o delegado Fernando Francischini (PSL), que busca o apoio do presidente Jair Bolsonaro, devem trilhar esse caminho.

"Se eu não fosse o candidato do PT, diria que isso [temas nacionais] não importa. Hoje, estamos questionando ícones de um ano atrás Não dava para antecipar que a Lava Jato estaria em crise, que o Moro sairia de sua atuação de ministro, se houve erro ou ideologização do processo do Lula", diz Opuszka.

O advogado e professor Francis Ricken, da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo, diz que o PT teve ganhos eleitorais pequenos em Curitiba. "Apesar de ser um partido de posicionamento na cidade, em sua maioria com candidaturas próprias, nunca conseguiu despontar forte no cenário curitibano."

Frente de esquerda em Florianópolis

Em Florianópolis, o PT vai integrar uma frente de esquerda, organização que não ocorria desde 1992. Até agora sete partidos já aderiram (PSOL, PT, PDT, PSB, PCdoB, Rede e UP) e outros dois ainda estão analisando.

Lino Peres (PT) ficou com a vice e Elson Pereira (PSOL) na cabeça de chapa em Florianópolis - Divulgação - Divulgação
Lino Peres (PT) ficou com a vice e Elson Pereira (PSOL) na cabeça de chapa em Florianópolis
Imagem: Divulgação

Elson Pereira (PSOL) será o candidato a prefeito e Lino Peres (PT) a vice.

A presidente municipal do PT, Eliane Schmidt, espera repetir o sucesso da frente de esquerda da década de 1990, última vez que a sigla esteve à frente do Executivo municipal.

Na época, Sérgio Grando (PPS) assumiu como prefeito e Afrânio Bopré (ex-PT e atual PSOL) ocupou o cargo de vice. "A gente se inspira naquela experiência exitosa que, mesmo em curto período de tempo, implementou políticas públicas que mudaram a vida da comunidade", afirma ela.

"A história já mostrou que o papel do vice é muito importante, para o bem e para o mal. Tem vice que ajuda e tem vice que trai", diz Schmidt.
Para o cientista político Tiago Losso, o fato de o PT aceitar a vice reflete a baixa aceitação do partido: "Historicamente a esquerda é muito fraca em Santa Catarina, nunca teve candidato competitivo para o governo estadual. Além disso, o antipetismo é muito forte".