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Eleitorado conservador se divide nas redes e Boulos sobra na esquerda em SP

Arthur do Val, Joice Hasselmann e Guilherme Boulos polarizam nas redes - Montagem
Arthur do Val, Joice Hasselmann e Guilherme Boulos polarizam nas redes Imagem: Montagem

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

28/09/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Os candiatos Arthur do Val, Joice Hassemann e Boulos fazem sucesso nas redes
  • Políticos tradicionais publicam e recebem menos interação de simpatizantes
  • Embora o bom desempenho na web não garanta voto, redes serão decisivas neste ano
  • Como pandemia restringirá corpo a corpo, Facebook, Instagram e Twitter ganharão destaque

A última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta (24), colocou o apresentador Celso Russomanno (Republicanos) na liderança e o prefeito Bruno Covas (PSDB) em segundo lugar na corrida pela Prefeitura de São Paulo. Nas redes sociais, porém, o eleitorado se divide entre três candidatos que emergiram na campanha de 2018.

"Se já eram importantes em eleições passadas, as mídias sociais serão ainda mais decisivas em 2020 em razão das restrições às campanhas de rua impostas pela pandemia de covid-19", afirmou ao UOL Marco Iten, especialista em marketing político e redes sociais.

Nesse campo de batalha, as interações nas postagens dos candidatos (curtidas, comentários e compartilhamentos) indicam polarização entre dois políticos da nova direita, Joice Hasselmann (PSL) e Arthur do Val (Patriota), e um candidato da esquerda, o ex-presidenciável Guilherme Boulos (PSOL).

Para avaliar o engajamento dos internautas no Facebook, Twitter e Instagram dos 14 candidatos a prefeito de São Paulo, o UOL utilizou as ferramentas de monitoramento digital Crowdtangle e Torabit entre os dias 16 e 23 de setembro (veja os gráficos ao longo do texto).

Popularidade na internet

Conhecido como "Mamãe Falei", o youtuber Arthur do Val aproveitou sua popularidade na rede para garantir uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo em 2018. Agora postulante a prefeito, ele lidera as interações virtuais em duas das três redes sociais analisadas.

No Facebook, suas postagens foram responsáveis por 40% de todas as interações envolvendo os 14 candidatos. Foi seguido de perto por Boulos, com 34% de engajamento, e por Joice, com 14%.

O comportamento é parecido no Instagram, onde Do Val acumula 44% das interações; Boulos, 36%; e Joice, 11%. No Twitter, quem dispara é Boulos: 79%. Do Val tem 9%. Joice, com 1,3%, é desbancada por Levy Fidelix (PRTB), com 3,7%, e Jilmar Tatto (PT), com 2,4%.

Esse volume de interações —que por restrições do Twitter não incluem os comentários nessa rede— se deve a diversos fatores, como quantidade de seguidores e número de postagens diárias.

Joice, por exemplo, é a terceira mais seguida no Twitter, mas tem média baixa de publicações na rede (1,57 postagem por dia) comparada a Tatto, que, apesar de muito menos seguido, publica 14 vezes ao dia.

De maneira geral, os políticos tradicionais têm índices mais baixos de interação nas três redes. No Instagram, as postagens de Marcio França (PSB) registram 0,57% dos comentários e curtidas totais; Tatto, 1% e Andrea Matarazzo, 0,2%.

Líderes nas pesquisas decepcionam

Primeiros colocados no Datafolha, Russomanno e Covas decepcionam nas redes sociais. Embora seja o terceiro em seguidores no Facebook, o apresentador posta apenas uma vez ao dia, em média, e responde a 2,56% de todas as interações. No Instagram e Twitter, o engajamento também é baixo: 2,9% e 0,08%, respectivamente.

Já o prefeito e candidato à reeleição praticamente abandonou suas redes sociais. No Facebook e Twitter, não há qualquer postagem nos dias analisados.

Para o especialista em marketing político, a estratégia de Covas é equivocada. "Por ser prefeito, provavelmente ele preferiu não se expor a críticas em ano eleitoral", diz Iten.

Redes sociais dão voto?

Para o especialista, "ainda é viável" que um candidato muito forte não seja atuante nas redes, como é o caso de Russomanno, "enquanto Joice é grande nas redes, mas nas pesquisas não está bem".

Com o início da campanha, porém, as redes poderão ser decisivas, por isso as campanhas devem se voltar a elas "a partir das próximas semanas", diz ele.

"Com a restrição da campanha de corpo a corpo, as redes sociais são a forma mais próxima possível do modelo tradicional de campanha", afirma. "E é mais barata: custa o equivalente a 6% de uma campanha de rua com a vantagem de atingir mais gente em curto espaço de tempo."

É possível furar a "bolha"?

De acordo com o especialista, o eleitor brasileiro, cada vez mais posicionado ideologicamente, se agrupa nas redes, formando "bolhas". "Isso explica muito a eleição de Jair Bolsonaro (sem partido) há dois anos", afirma.

"Quantos candidatos de direita existem hoje porque se agruparam nas redes sociais, gerando massa de voto? A bolha pode ser ideológica e por nichos eleitorais: teremos mais candidatos que defendem animais, segmentos profissionais e que vão para os extremos ideológicos", diz.

Para o especialista, "todo candidato terá de sair de sua bolha", e as redes podem ser até mais eficientes do que o corpo a corpo. Ele lembra que qualquer candidato pode solicitar amizade nas redes e ser bem aceito pelo eleitor, "alguns lisonjeados com o convite de uma celebridade política".

"Já a abordagem pessoal será restringida pela pandemia, haverá medo de aglomeração e há sempre os seguranças do candidato, que nem sempre deixam o eleitor se aproximar."

Todos precisam sair da bolha, e essa conquista do voto começa agora. Quem já tem rede social bem montada terá um caminho mais prático, mas também não é garantia de voto
Marco Iten, especialista em marketing político e redes sociais

Eleições à Prefeitura de São Paulo 2020