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OPINIÃO

No Rio e Salvador, candidatas policiais tentam endurecer sem perder ternura

25 out. 2020 - Martha Rocha (PDT) faz caminhada pela praia de Copacabana - ANDRE MELO ANDRADE/ESTADÃO CONTEÚDO
25 out. 2020 - Martha Rocha (PDT) faz caminhada pela praia de Copacabana Imagem: ANDRE MELO ANDRADE/ESTADÃO CONTEÚDO

Matheus Pichonelli

Colunista do UOL

29/10/2020 12h19

Cerca de 6.700 policiais e militares concorrem a cargos de prefeito, vice-prefeito ou vereador nas eleições em 2020. A maioria é filiada a partidos de direita, conservadores e/ou alinhados ao governo federal.

Mas em duas das maiores cidades do país partidos de esquerda apostam em mulheres policiais para o comando do executivo. No Rio, o PDT lançou Martha Rocha, primeira mulher a comandar a Polícia Civil no estado. Em Salvador, Major Denice é a candidata do PT.

Nos vídeos levados à TV e nas redes sociais, as duas candidatas têm como estratégia endurecer o discurso sem perder a ternura jamais.

Em uma de suas primeiras inserções, a candidata petista diz que sempre é questionada sobre qual versão dela pretende governar a capital baiana. "A major da polícia que é séria, de cabelo preso e tal, ou essa Denice aí, mais solta, alegre e sorridente?", descreveu.

A resposta é que "com certeza a major estará lá". Ela então se descreve como uma mulher que foi aos estudos e soube se impor em um ambiente dominado por homens.

Mas a candidata também promete levar à administração seu lado "menina lá da periferia" e "mãe que sabe o que é criar um filho sozinha".

Em sua página no Facebook, a versão sorridente da major responde a questionamentos sobre como lidar com a violência policial contra pessoas negras. No vídeo, ela diz que a PM é uma "instituição belíssima formada por homens e mulheres, pais e mães de família, como eu". Pede para não haver generalizações, defende que os maus policiais sejam penalizados por seus erros e promete constituir uma guarda municipal atenta a direitos e que cuide da vida.

Major Denice - Reprodução - Reprodução
Major Denice Santiago
Imagem: Reprodução

Já no Rio, o lado sisudo tem prevalecido nas aparições da Delegada Martha Rocha, como ela se apresenta aos eleitores. "Pulso firme" e "Chama a Delegada" viraram slogans de campanha.

Nas redes a pedetista promete ações de combate à milícia, diz que os adversários têm medo dela e afirma ser a única capaz de vencer Eduardo Paes (DEM) no segundo turno.

Nesta semana, a levou à sua propaganda na TV a declaração de apoio de uma mulher trans e destacou sua atuação, como deputada, em projetos contra a homofobia e a violência doméstica.

Com imagens de pulsos para o alto, uma voz em off diz que "a mão que comanda, fiscaliza e cobra é também a mão que acolhe".

Na propaganda, o vermelho só aparece na simulação de distintivo envolto no número da legenda. Com camisa e cenário azuis, ela diz que com ela "direitos humanos é na ação".

Tanto a Major quanto a Delegada têm concorrência de outros nomes ligados à segurança nas disputas municipais.

Em Salvador, Pastor Sargento Isidorio (Avante) é hoje a maior ameaça aos planos de Decide de chegar ao segundo turno. Na última pesquisa Ibope, eles estavam tecnicamente empatados — ele com 10% das preferências e ela, com 6%.

Na capital fluminense, o atual segundo colocado nas pesquisas, Marcelo Crivella (Republicanos), tem como candidata a vice a tenente-coronel Andréa Firmo, primeira mulher do Exército a comandar uma base militar em missão da ONU. Sua participação na campanha, porém, tem sido discreta até aqui. Ao menos na propaganda da TV.