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Suspeito de compor PCC tenta se eleger vereador na fronteira com o Paraguai

Rafael Santana de Souza, o Rafael Chupim, candidato a vereador em Aral Moreira (MS) Imagem: Reprodução/Facebook

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

09/11/2020 04h00

Candidato a vereador na pequena cidade de Aral Moreira, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, Rafael Santana de Souza, 32, conhecido como Rafael Chupim, exibe em sua campanha nas redes sociais a hashtag "EuSou15".

Num primeiro momento, o 15 faz alusão direta ao MDB, partido pelo qual Chupim participa do pleito deste ano. Para investigadores, no entanto, o 15 pode ser, na verdade, uma referência ao número "1533", como o PCC (Primeiro Comando da Capital) é conhecido. Ele nega veemente qualquer ligação.

"Olha, não tenho nada ver com essa facção. Não sei o que é isso. Sou trabalhador. A cidade me conhece, pode puxar minha ficha, sempre trabalhei com agronegócio, sou classificador de grãos", afirma Rafael Chupim.

Ele não respondeu, no entanto, porque estava, na manhã de 25 de junho deste ano, em uma casa na região da fronteira que foi um de três alvos de uma operação da PF (Polícia Federal) contra integrantes da facção.

Nos locais, a PF tinha como alvos faccionados que prestariam serviços a Elton Leonel Rumich da Silva, conhecido como Galã e apontado como um dos chefes do crime organizado na fronteira. Lá, havia 503 kg de maconha. Chupim foi detido por estar na residência.

De acordo com relatório do MPF (Ministério Público Federal), Chupim foi detido com outros quatro homens em Ponta Porã. Entre os detidos, estavam dois foragidos do sistema penitenciário paulista.

"Foram presos em flagrante por serem, em tese, membros da organização criminosa intitulada PCC, de forte atuação nesta região fronteiriça", diz o documento.

Ainda segundo o MPF, Chupim e os demais detidos com ele estavam "em conhecida rota de tráfico de drogas terrestre com grande quantidade de entorpecente".

À época da prisão, Chupim disse que estava na casa com uma garota de programa. Também argumentou que a casa, na verdade, era vizinha ao alvo da operação, separada por um muro. Investigadores afirmam que, depois da detenção, foi construído um muro no local para ficar de acordo com a versão.

Candidato monitorado com tornezeleira eletrônica

O candidato foi liberado provisoriamente em 14 de julho, mas sob condições de monitoramento constante: Chupim faz campanha com tornozeleira eletrônica, não pode estar na rua entre 19h e 5h, e tem o dever de se apresentar à Justiça a cada dois meses.

O advogado da campanha de Chupim, Fabrício Franco Marques, afirmou que a candidatura "foi deferida pela Justiça Eleitoral sem qualquer recurso do Ministério Público. Ele não tem qualquer ligação com o PCC e vai demonstrar isso em juízo".

De fato, o registro de candidatura de Rafael Chupim foi aprovado TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul) em 19 de outubro deste ano, assinado pela juíza da 19ª zona eleitoral de Ponta Porã (MS) Sabrina Rocha Margarido João.

Está previsto para o dia 13 de novembro o interrogatório de Chupim na ação penal que apura seu suposto envolvimento com a facção criminosa. Dois dias depois, ele pode ser eleito vereador pelos eleitores da cidade.

Onde fica Aral Moreira

A cidade de Aral Moreira está localizada entre as cidades paraguaias de Pedro Juan Caballero e Capitán Bado. Toda a região é, segundo investigadores brasileiros e paraguaios, uma das principais portas de entrada de maconha no Brasil. Normalmente, as drogas compradas pelo PCC entram por Pedro Juan Caballero, e as compradas pelo CV (Comando Vermelho), por Capitán Bado.

Além de Chupim, o prefeito da cidade, Alexandrino Arévalo Garcia (PSDB), que disputa a reeleição, foi preso pela PF em 2016, enquanto era vereador, em uma operação contra o tráfico internacional de drogas. Ele foi condenado, inicialmente, a sete anos de prisão. O STJ (Superior Tribunal de Justiça) reduziu a pena para quatro anos.

O STF (Supremo Tribunal Federal) fixou a pena em regime semiaberto. A candidatura dele está indeferida, mas com recurso. A juíza eleitoral Sabrina apontou que a condenação por tráfico teve efeito suspenso por meio de liminar concedida por Gilmar Mendes. Por isso, não caberia aceitar a impugnação da candidatura. No entanto, o candidato teve contas tidas como irregulares.

Procurado diretamente, o prefeito não atendeu aos telefonemas feitos pela reportagem tampouco respondeu as mensagens via WhatsApp.

Ouça também o podcast Ficha Criminal, com as histórias dos criminosos que marcaram época no Brasil. Esse e outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras plataformas de áudio.

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