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SP: Colaboradora de candidata trans é agredida com mordidas na Av. Paulista

Patrícia Borges, colaboradora da candidata à vereadora Erika Hilton (PSOL), mostrando as marcas da mordida deixada pela agressora - Arquivo Pessoal
Patrícia Borges, colaboradora da candidata à vereadora Erika Hilton (PSOL), mostrando as marcas da mordida deixada pela agressora Imagem: Arquivo Pessoal

Douglas Porto

Do UOL, em São Paulo

10/11/2020 18h56Atualizada em 10/11/2020 21h03

Patrícia Borges, mulher trans e colaboradora da candidata à vereadora Erika Hilton (PSOL), também mulher trans, foi atacada na tarde de hoje durante panfletagem em frente ao Shopping Center 3, na Avenida Paulista, em São Paulo.

Ao ser abordada pelos apoiadores de Hilton, uma mulher que não teve a identidade revelada se recusou a ouvir as propostas e começou a agredir Patrícia verbalmente e fisicamente, com golpes de barra de ferro e mordidas, segundo relato da colaboradora. Ela teria tido ajuda de dois outros homens — um deles seria namorado da suposta agressora.

"Ela foi abordada primeiramente por outra pessoa que estava comigo e fui reforçar a importância de eleger a primeira vereadora transexual, travesti, preta, periférica, e que a gente precisava de alternância de poder", relatou Patrícia em entrevista ao UOL.

Ela me disse 'eu não vou votar em travesti' e começou a me xingar
Patrícia Borges, em entrevista ao UOL, sobre agressão sofrida na Av. Paulista

"Logo depois ela voltou com um 'pau de selfie' de ferro e me agrediu. Eu consegui segurar, e um outro rapaz, que era da banca de jornal de onde ela pegou o objeto, me ajudou. Vieram outros dois homens para ajudá-la a me agredir, um era namorado dela", continuou ela.

Eles vieram para me ferir. Eu acredito que é um crime político por conta da transfobia
Patrícia Borges, em entrevista ao UOL, sobre agressão sofrida na Av. Paulista

O STF (Supremo Tribunal Federal) aprovou em junho de 2019 a criminalização da homofobia e transfobia, agressões que são tipificadas como o racismo, sendo crime hediondo e inafiançável. A pena pode ir de dois a cinco anos de prisão para o agressor.

'Estamos sendo perseguidas'

Ao lado do advogado Pedro Martinez, membro da Comissão de Diversidade da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Patrícia e mais duas assessoras da campanha foram ao 78º Distrito Policial, no bairro do Jardins, na região central da capital paulista, para registrar a ocorrência.

Erika Hilton, também em entrevista ao UOL, afirmou que o caso é extremamente estarrecedor e absurdo. Ela disse que os ataques estavam apenas no campo virtual durante a campanha e essa foi a primeira vez que aconteceu uma agressão física.

Hoje esse fato lamentável e triste mostra exatamente como estamos sendo perseguidas, atacadas e até mesmo agredidas fisicamente. Nossas apoiadoras, pessoas que estão em nossa campanha sendo atacadas, mordidas nas ruas... Essa é uma demonstração aberta do quanto temos caminhado e avançado contra o ódio, contra o fascismo, e o quanto a política institucional calcada no racismo, na transfobia, na misoginia não nos querem ver avançar, não nos querem ver vencer
Erika Hilton, em entrevista ao UOL, sobre apoiadora agredida

"Estou bastante preocupada, é óbvio, diante de todos esses números estarrecedores de ataques na internet, de ataques físicos, mas sabendo que estamos fazendo um belo e grandioso trabalho em prol das vidas negras, das mulheres, das LGBTs. Não aceitaremos ser interrompidas, não aceitaremos ser intimidadas, não iremos nos calar diante dessa barbárie, dessa onda de violência", concluiu a candidata.