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Boulos pede à Justiça retirada de fake news citada por Russomanno em debate

Nathan Lopes*

Do UOL, em São Paulo

11/11/2020 15h45Atualizada em 11/11/2020 20h43

O candidato do PSOL a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos, entrou com uma ação na Justiça Eleitoral para pedir a retirada das redes sociais de um vídeo utilizado pelo candidato Celso Russomanno (Republicanos) para acusá-lo de ter contratado empresas fantasmas.

O vídeo foi divulgado no mesmo horário em que acontecia o debate UOL/Folha por um dos principais acusados no inquérito das fake news que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal), o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio. A publicação aponta para um suposto "laranjal" de Boulos. Eustáquio já foi preso dentro dessa investigação.

O militante, também alvo da ação, é "figura carimbada no mundo da política", diz a petição apresentada à Justiça pelo PSOL. "É conhecido por trabalhar com a 'destruição de reputações' por encomenda", traz o texto, citando reportagem do site The Intercept.

"Houve patente difamação da imagem de Guilherme Boulos e calúnia", diz a defesa de Boulos.

A campanha de Russomanno não esclareceu ao UOL se a acusação contra Boulos foi pautada no vídeo produzido por Oswaldo Eustáquio. A reportagem questionou se o candidato tem conhecimento sobre a disseminação de notícias falsas por parte do blogueiro, mas não houve retorno.

Um assessor do candidato do Republicanos afirmou à reportagem que "independente da fonte, se for verdade é muito grave. A nossa equipe vai levantar esse caso".

'Absurdo'

"A tal da produtora de cinema, que eles dizem que é uma empresa fantasma, tem filmes que foram para mostras internacionais de cinema", disse Boulos em agenda de campanha nesta tarde. "É um absurdo. Russomanno se aproveitou de o endereço estar desatualizado para dizer que a empresa é fantasma. É um nível de leviandade, de desespero."

As duas produtoras são de uma diretora de cinema freelancer e de uma equipe que trabalha remotamente durante a pandemia de covid-19. Ambas estão registradas e foram declaradas nos gastos da campanha.

As empresas em questão são a Kyrion Consultoria e a Filmes de Vagabundo. A primeira foi contratada por R$ 500 mil e a segunda, por R$ 28 mil, de acordo com as despesas declaradas pelo candidato.

Segundo o UOL apurou, a Filmes de Vagabundo continua a prestar serviços normalmente. Em 2018, venceu um edital da SPCine para produzir um vídeo sobre bairros da cidade de São Paulo. A reportagem tentou entrar em contato com as duas produtoras, mas não teve sucesso até a última atualização. Se enviado, seu posicionamento será incluído aqui.

"Sem credibilidade"

Boulos diz acreditar que a fala de Russomanno não terá reflexos na campanha porque o oponente "não tem credibilidade".

No debate, Boulos não se estendeu para explicar o tema quando questionado. O candidato chegou a dizer que foi alvo de uma tentativa de "pegadinha" no debate.

Em nota, a campanha do candidato do PSOL disse que as duas empresas citadas por Russomanno estão atuando em esquema de home office em razão da pandemia do novo coronavírus.

Durante o debate UOL/Folha, Boulos respondeu à acusação perguntando se Russomanno estava fazendo "pegadinha" durante o debate promovido por UOL e Folha.

Investigado no inquérito das fake news

A "equipe de reportagem" que Russomanno cita, na verdade, é uma publicação feita pelo blogueiro Oswaldo Eustáquio, um militante bolsonarista que foi preso pela Polícia Federal em 26 de junho. Ele é um dos principais envolvidos no inquérito das fake news.

A PF alegou que o blogueiro estava utilizando táticas para não ser localizado e o prendeu para amenizar o risco de fuga.

Ele é investigado na Operação Lume, inquérito que apura financiamento, apoio e organização de atos antidemocráticos que defendem o retorno da Ditadura Militar e o fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal).

O blogueiro já apareceu em lives com o ex-deputado condenado no processo do "mensalão" Roberto Jefferson, quando o líder do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) defendeu que haveria uma tentativa de golpe contra Jair Bolsonaro (sem partido). Ele também foi assessor da ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, durante o governo de transição.

Evangélicos

Após o debate, Boulos participou de um encontro com evangélicos no centro de São Paulo. De acordo com o Ibope e o Datafolha, o candidato não tem um bom desempenho entre os seguidores da religião.

O encontro não pôde ser acompanhado pela imprensa. No início do evento, Boulos disse que a eleição de 2018 deixou a percepção de que evangélicos apoiam a linha política de Bolsonaro. "E vocês sabem que isso não é verdade. Muito evangélico não concorda com esse discurso de ódio."

Com o eleitorado mais consolidado entre os jovens, os mais ricos e quem tem maior grau de instrução, a campanha deve apostar em agendas na periferia até sábado (14).

*Colaboraram Alex Tajra e Lucas Borges Teixeira, do UOL, em São Paulo