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O antiantipolítica: França abraça discurso de centro para ir ao 2º turno

Márcio França (PSB) visita a Galeria do Rock, no centro de São Paulo, durante a campanha - Ettore Chiereguini/AGIF - Agência d Fotografia/Estadão Conteúdo
Márcio França (PSB) visita a Galeria do Rock, no centro de São Paulo, durante a campanha Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF - Agência d Fotografia/Estadão Conteúdo

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

14/11/2020 21h00

Márcio França, 57, interrompe a conversa para cumprimentar uma criança que anda de triciclo na calçada. Ele a chama pelo nome que ouviu da mãe e elogia a camisa laranja, cor de sua campanha, antes de voltar a responder os jornalistas. Mais tarde, tira selfie com apoiadores, grava vídeos por WhatsApp e repete frases como "eu defendo o servidor público!".

É desse jeito quase bonachão às antigas, mas especialmente político, que o candidato do PSB à Prefeitura de São Paulo tem levado a campanha. França foca na experiência de anos de vida pública para, sem um posicionamento ideológico forte, chegar ao segundo turno e derrotar o prefeito e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), líder nas pesquisas.

O antiantipolítica

Contra a corrente antipolítica que carregou as eleições em 2018 e ajudou a eleger tanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) quanto o governador do estado, João Doria (PSDB), França não quer se postar como um forasteiro. Pelo contrário: na campanha, tem falado como político, contando histórias antigas como político, tirando fotos como político, usado metáforas como político.

"As experiências que nós tivemos de novidade desses outsiders foram muito ruins. Em Santa Catarina, o governador está sendo cassado. Rio de Janeiro está tendo problema, Amazonas tendo problema. São Paulo, nem se fala, com o Doria. E o próprio Bolsonaro, é inegável", diz França.

O ex-governador, no entanto, foi dos maiores fiadores de Doria. Trouxe seu "bloquinho" —formado por partidos tão diferentes quanto o seu PSB, o PV, o DEM e o então PPS (hoje Cidadania)— para dar um latifúndio de tempo na TV que ajudou na eleição do ex-aliado para a Prefeitura de São Paulo em 2016. O discurso contra o hoje governador só apareceu mesmo quando os dois viraram adversários diretos no pleito de 2018.

Seu histórico também não traça sinais muito claros de qual caminho segue. Fez alianças tão diferentes como as com o ex-governador Orestes Quércia e petistas —o PSB paulista apoiou as chapas paulistas do PT até 2010, quando desembarcou da coalizão de esquerda. Em 2013, foi o fiador de Marina Silva no PSB, quando o partido da ex-senadora, a Rede, não obteve registro a tempo de disputar as eleições do ano seguinte.

Hoje, França não fala em novo, mas em mudança, e repete ações tomadas como prefeito da litorânea São Vicente (1997-2005) e governador paulista (2018, ao assumir o lugar de Geraldo Alckmin, PSDB, de quem foi fiel aliado).

Nem tanto à terra, nem tanto ao mar

Nesta eleição, França também está mais moderado. Depois de um segundo turno combativo contra Doria em 2018, do qual ele gosta de relembrar dos debates ("virou até meme!"), ele tem sido cordial com adversários, distribuído afagos a diferentes lideranças, da esquerda à direita, e tenta não se prender a um posicionamento político —se apresenta como alguém "verdadeiramente de centro".

O candidato tem usado o exemplo de Joe Biden, que derrotou Donald Trump na disputa pela presidência dos Estados Unidos. De tom mais moderado e político, o democrata conseguiu conquistar votos com um discurso em prol da união. Essa é a receita, avalia França, para derrotar Covas num eventual segundo turno.

"É uma questão de pragmatismo. É muito pouco provável que alguém suponha que, no padrão dos extremos, a gente consiga ter uma maioria formada para segundo turno. Os extremos costumam ter uma posição importante, mas não de maioria. É assim no mundo todo", afirma o candidato.

E onde ele se coloca? "No centro, mas mais ao centro, porque o Covas também é de centro. O segredo é quem tira um pedaço do outro lado. É difícil explicar isso para o jovem, mas, se não tirar do outro lado, você não ganha."

Nem tanto à terra, nem tanto ao mar, França presta atenção para não acabar à deriva. Depois de uma subida nas pesquisas no começo da campanha, ele estagnou em um empate técnico no terceiro lugar, segundo levantamentos divulgados neste sábado (14).

Citando de Biden aos ex-governadores Mario Covas (PSDB-SP) e Miguel Arraes, figura histórica de seu partido, ele se diz confiante com votos da periferia ("lá, a disputa sou eu e PT, mais ninguém") e relembra que, em 2018, as pesquisas o colocavam atrás de Paulo Skaf (MDB).

Ele chegou ao segundo turno, mas acabou derrotado por Doria. "Vai haver um resultado que vai surpreender todo mundo, só não a nós", afirma o peessebista.