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Não estamos preparados para voto em celular, diz especialista

Ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), em sessão extraordinária - Carlos Moura/SCO/STF
Ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), em sessão extraordinária Imagem: Carlos Moura/SCO/STF

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/11/2020 17h41

O Brasil ainda não está preparado para o futuro das votações, que daqui a alguns anos vão acontecer pelo celular. É essa a análise do professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e colunista do TILT Carlos Affonso de Souza. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está estudando propostas do projeto Eleições no Futuro, lançado pelo próprio tribunal, e uma delas é ter voto pelo celular ou internet já nas eleições de 2022.

"A gente não tem bola de cristal para saber quando a votação pelo celular vem. Mas que, vem. Estamos preparados hoje para isso? Não", disse o especialista durante live do UOL sobre a eleição.

"O TSE dá um passo importante de tornar nossa votação progressivamente digital. Não vai virar a chave de um dia pro outro. O Brasil não fez dever de casa de ter identidade digital unificado e seguro que permita que esse voto pelo celular não seja atacado e gerar situações de fraude preocupantes. Se a gente tem dificuldades com urna eletrônica hoje, imagina quando cada um puder votar pelo celular. Aí as fronteiras entre tecnologia e magia ficam cada vez mais tênues e abrem fronteiras para imaginação", continuou ele.

"Voto pela internet ou pelo celular é algo que, se não vier como um todo na próxima década, certamente estudos podem entrar no radar. O TSE fez testes com candidatos fictícios em 3 cidades. É um primeiro passo e fica como legado", prosseguiu Affonso de Souza.

Também participando da live do UOL, a doutora em Ciência Política pela UnB Viviane Gonçalves lembrou das dificuldades de acesso de parte da população brasileira à internet. "Em razão da pandemia, a gente teve escolas com problemas com alunos, por falta de acesso. Não pode esquecer que tem percentual muito significativo [da população] que internet não é fator comum e de qualidade. Portanto muitos jovens não têm acesso à educação regular. A gente tem escolas municipais com déficit de educação gigantesco. A internet não é para todos. É um fator de desigualdade que foi aprofundado com pandemia. Quantas matérias saíram dos erros que deram no aplicativo?. A gente tem que pensar nisso quando pensa na possibilidade de voto por celular", comentou a pesquisadora, citando o e-título.

Affonso de Souza também falou sobre como as eleições norte-americanas, e a forma como o presidente Donald Trump contesta os resultados, podem servir de lição para o Brasil. "Tudo que acontece na eleição americana acaba servindo de manual em outros países. Nesse ponto chama atenção a estratégia do Trump de procurar levantar suspeitas com relação à forma como a qual os votos foram contados: mirando em empresas que fabricam as máquinas de apuração nos EUA", comentou.

No entender dele, é preciso começar a criar uma contra-narrativa, explicando para a população sobre a segurança digital. "Tecnologia de informação para grande parte dos eleitores é um grande mistério. As pessoas não entendem como se dá a contagem dos votos. Existe uma rede criptográfica segura, mas quanto as pessoas entendem o que quer dizer isso, o que é uma rede criptográfica? Vale prestar atenção no que está acontecendo nos EUA, ver como os argumentos são colocados pelo Trump, como miram as empresas que fabricam as máquinas, porque isso certamente será exportado, e quais são as evidências, para formar uma contra-narrativa e ir explicando."