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Para especialistas, negar pandemia atrapalhou Bolsonaro na eleição

Presidente Jair Bolsonaro coloca máscara de proteção em Brasília - Adriano Machado/Reuters
Presidente Jair Bolsonaro coloca máscara de proteção em Brasília Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/11/2020 20h08

A forma como se comportou ao longo de toda a pandemia do coronavírus até aqui pode ter sido uma das razões pelas quais o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teve tão pouco sucesso nas eleições municipais deste domingo. Para especialistas ouvidos na live do UOL sobre as eleições, o negacionismo em relação à crise sanitária prejudicou Bolsonaro. Isso porque, em eleições municipais, as pessoas percebem mais diretamente o efeito dos discursos políticos na vida prática delas.

"Quando tem crise sanitária, que coloca holofotes a gestão municipal, o papel dos prefeitos ganha popularidade e cenário para se promover. A pandemia é um ponto crítico para o Bolsonaro inclusive na base bolsonarista. A palavra irresponsabilidade é a que mais escuto quando faço entrevistas, pelo fato do Bolsonaro estar negando a pandemia. Outra ideia que aparece nas nossas pesquisas é a desumanidade. Bolsonaro estaria sendo desumano porque estaria debochando das dores das famílias com frases brutais que falou", analisa a cientista política Esther Solano.

"Para um sujeito que foi eleito na onda da moralização da política, supostamente era um homem com valores e de fé, debochar dos mortos é um impacto muito negativo em uma base bolsonarista consolidada. Foi um fato negativo para a gestão dele", continua Solano.

Marco Antônio Teixeira, professor da FGV, lembra casos de prefeitos que tiveram alta de popularidade com a pandemia. "Tem pesquisas mostrando que a reviravolta na administração Bruno Covas (PSDB), que sofreu melhoria de avaliação com a campanha, teve a ver com a postura dele na pandemia, com as posturas fortes que ele teve com o setor econômico, do comércio, quando tentou pressionar para abrir antes do momento. Acredito que a rejeição do Crivella tem a ver com as idas e vindas em relação à Covid", opina.

Também participando da live do UOL, o colunista Reinaldo Azevedo também avalia que o discurso de Bolsonaro o atrapalhou. "A ideia de que o 'Covidão' não passou de uma grande tramoia para roubar dinheiro público chegou a ser muito forte num dado momento. E também nisso o bolsonarismo se deu mal. Porque as pessoas estão de fato morrendo, o numero de mortes é ainda maior do que o que se contabilizou, todo mundo conhece gente que morreu ou está próximo de alguém que da família que se foi. Houve uma tentativa de jogar a questão da Covid para a PF e isso também deu errado, felizmente, porque aí sim seria um grau de brutalização do processo eleitoral que nós nunca tivéssemos conhecido."