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Boulos pede à Justiça investigação por suposto abuso de poder de Covas

Antônio Molina/Zimel Press/Estadão Conteúdo e Alice Vergueiro/Estadão Conteúdo
Imagem: Antônio Molina/Zimel Press/Estadão Conteúdo e Alice Vergueiro/Estadão Conteúdo

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

23/11/2020 19h11Atualizada em 24/11/2020 11h14

Os advogados do candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, entraram, na tarde de hoje, com uma ação na Justiça Eleitoral em que pedem a investigação de um suposto abuso de poder por parte da campanha de seu adversário, Bruno Covas (PSDB).

A ação tem como base um áudio compartilhado em aplicativo de mensagem pelo secretário da Educação da gestão Covas, Bruno Caetano. O caso foi divulgado pela Revista Fórum. Se a Justiça entender que houve abuso de poder, a chapa do PSDB poderá sofrer cassação do registro e o político pode ficar até inelegível.

A Justiça Eleitoral ainda não havia analisado a ação, de acordo com o sistema eletrônico de acompanhamento processual.

caetano - Reprodução - Reprodução
Em programa eleitoral, Covas aparece em visita a uma CEU ao lado do secretário municipal de Educação, Bruno Caetano (esq.)
Imagem: Reprodução

Creches conveniadas

No áudio, Caetano faz críticas à candidatura de Boulos e comenta a respeito de declarações do candidato sobre creches conveniadas da cidade. "Tem uma declaração do Boulos falando mal da rede de parceiros. Podem espernear, podem tentar o que quiserem, mas 'tá' lá, cravado, a posição", disse o secretário no áudio.

"Agradecer aí a todo mundo que 'tá' ajudando a espalhar a verdade, combater as fake news, e vamos que vamos... Vamos gerar mais informações positivas para serem reverberadas."

O secretário refere-se a um trecho do programa de governo que diz que Boulos pretende "reverter, gradativamente, o processo de privatização, terceirização e conveniamento da educação".

Ontem, Boulos disse que não está propondo cortes. "Nós não só vamos manter todos os empregos das entidades parceiras que fazem seu bom trabalho, como nós vamos ampliar as vagas na creche, porque está no nosso plano de governo zerar a fila", disse. "Eles fazem terrorismo dizendo que a gente vai demitir profissionais da educação."

Boulos ainda diz que não fará "vista grossa" para as conveniadas que fazem "mau uso do dinheiro público".

Há também uma acusação sobre o uso da máquina pública. Segundo a campanha de Boulos, "há, ainda, fortes indícios de que a mensagem de Bruno Caetano tenha circulado em grupos utilizados para comunicação de assuntos internos da Secretaria e para comunicação da Secretaria com as conveniadas".

Reunião para "fazer propaganda de Covas"

Houve uma publicação nas redes sociais pelo FEI (Fórum de Educação Infantil) Conveniadas recomendando que não se vote em Boulos. "Entendemos que, caso este candidato se torne prefeito, haverá um enorme retrocesso na educação."

Escolas conveniadas chegaram a compartilhar mensagens para pais de alunos.

A campanha de Boulos também acusa uma diretora de educação da subprefeitura de São Mateus de ter convocado uma reunião "com funcionários e gestores das entidades conveniadas", autorizada por Caetano, "com o propósito de fazer propaganda de Covas e criticar a candidatura de Guilherme Boulos". No áudio, a diretora trata o candidato do PSOL como "oponente".

Abuso "evidente"

Para os advogados da campanha de Boulos, o caso "denota evidente prática de abuso de poder político e de autoridade".

Por considerar que Covas e Nunes "são no mínimo, beneficiários de todas as condutas descritas", a campanha de Boulos pede que, se a Justiça considerar que houve abuso de poder, seja declarada cassação do registro e a inelegibilidade de ambos, com base na Lei Complementar 64, de 1990.

Parlamentares do PSOL, o deputado estadual Carlos Giannazi e os vereadores Celso Giannazi e Toninho Vespoli também pediram que o MP (Ministério Público) investigue o caso.

Procuradas, a secretaria de Educação não se manifestou. Já aA campanha de Covas disse que deve ter "batido o desespero na campanha do candidato do PSOL, já que ele terá que explicar o inexplicável".

"O que importa aqui são as propostas para a educação e o futuro das crianças de São Paulo. Basta ir lá, na página 18 de seu programa de governo, e ler com clareza que o candidato quer reverter o processo de conveniamento na educação. Achamos que ele nem sabe que os convênios em São Paulo existem apenas no ensino infantil para ampliar as vagas em creches. Agora cria uma verdadeira cortina de fumaça, usando a Justiça Eleitoral para espalhar fake news."