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FHC deixa legado de estabilidade política para o país
16h53 - 30/12/2002


Por Axel Bugge

BRASÍLIA (Reuters) - Fernando Henrique Cardoso deve ser lembrado como o homem que derrubou uma hiperinflação a índices de um dígito, mas seu maior feito como presidente é provavelmente o fato de o Brasil ser hoje uma ilha de relativa estabilidade no mar de turbulência sul- americano.

O ex-líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, três vezes rejeitado pelo eleitorado por não ser considerado talhado para a Presidência, conquistou o cargo em sua quarta tentativa, em outubro passado, e sucederá o atual mandatário brasileiro de 71 anos a partir de quarta-feira.

Ironicamente, é exatamente a derrota do PSDB, de centro, por Lula que confirma de maneira mais categórica o legado que o ex-professor de sociologia deixa para este país de 175 milhões de habitantes.

"A ascensão de Lula ao poder, em sua quarta tentativa, é prova da estabilidade democrática", disse Michael Shifter, analista do Inter-American Dialogue, em Washington. "Há um grau de confiança que se deve a Cardoso."

Referindo-se aos anos de governo Fernando Henrique como uma "minirrevolução", o analista político Ricardo Caldas disse que a ausência de crises institucionais durante os dois mandatos do presidente não tem precedentes no Brasil. Após oito anos no cargo, Fernando Henrique foi o presidente eleito a passar mais tempo no poder.

"Ninguém questiona o direito de Lula assumir o poder, e isso deve-se ao legado de Fernando Henrique", disse Caldas, professor da Universidade de Brasília. "Não houve tentativas de golpe nem crises constitucionais com Fernando Henrique."

Ao contrário do Brasil, a maior parte da América do Sul está em crise, do desastre econômico da Argentina, passando pela guerra da Colômbia contra os rebeles à greve geral na Venezuela contra o presidente Hugo Chávez.

Quarto presidente a assumir após o fim do regime militar, FHC sucedeu Itamar Franco, lembrado por muitos pelo fato de ter sido fotografado durante o Carnaval ao lado de uma mulher sem calcinha, antecedido por Fernando Collor de Mello, destituído da Presidência devido a acusações de corrupção.

O EXTERMINADOR DA INFLAÇÃO

As conquistas de Fernando Henrique se originam, em grande parte, no Plano Real, responsável pela derrubada da inflação. A nova moeda, o real, foi lançado em julho de 1994, quando o atual presidenta ainda era ministro da Fazenda do governo Itamar Franco.

O plano usou o câmbio como âncora em seus primeiros anos, sendo que o dólar chegou a ser cotado a 0,84 real nos meses seguintes ao seu lançamento.

No primeiro semestre de 1994, a inflação estava em torno dos 40 por cento ao mês, mas em 1995 os índices despencaram para apenas 22 por cento ao ano, graças à nova moeda. Isso deu a milhões de brasileiros pela primeira vez a oportunidade de adquirir bens antes inacessíveis, pois a inflação corroía o valor de seus minguados salários.

"Eu diria que os brasileiros, em geral, hoje vivem muito melhor do que antes", disse Cristopher Garman, analista político da consultoria Tendências. "Houve imensos benefícios para a população graças à queda da inflação."

Depois de ter garantido a estabilidade de preços, Fernando Henrique se dedicou a aprofundar as mudanças econômicas introduzidas por seus dois predecessores ampliando o processo de privatização dos monopólios estatais e abrindo a economia ao capital estrangeiro. De repente, os brasileiros descobriram que podiam adquirir um telefone fixo ou um celular que realmente funcionava.

Os avanços econômicos fizeram do Brasil o segundo mercado emergente a receber mais investimento estrangeiro direto, superado apenas pela China, com cerca de 30 bilhões de dólares em 2000. No início dos anos 90, essa cifra estava abaixo de 1 bilhão de dólares por ano.

O presidente gastou quase tanto tempo chamando a atenção do mundo exterior para o Brasil quanto para abrir o país a ele. Liderou uma política externa ativa, fazendo o país assumir um papel de liderança regional e de ator internacional, ao participar, por exemplo, do plano de paz da ONU para o Timor Leste.

Talvez devido à proximidade de pensamento político, estabeleceu relações com o presidente norte-americano Bill Clinton e com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e entrou para o clube de líderes da "nova esquerda".

"Ele certamente projetou o Brasil no cenário internacional muito mais do que outros líderes brasileiros",

Seja usando a influência diplomática brasileira para garantir que a democracia permanecesse intacta em países vizinhos em crise, como o Paraguai, seja permitindo que representantes da ONU investigassem denúncias de desrespeito aos direitos humanos no país, FH conquistou respeito.

Grandes mudanças institucionais no plano doméstico também contribuíram.

Uma dessas mudanças foi o fim do papel independente do Exército na política brasileira, ao colocá-lo sob controle civil em 1999.

UM SEGUNDO MANDATO MENOS BEM-SUCEDIDO?

Mas apesar de tudo isso, o segundo mandato de Fernando Henrique construído depois da mudança na Constituição que permitiu que ele concorresse novamente em 1998, pode ter acabado maculando sua imagem à medida que a economia teve um fraco desempenho de 1999 a 2002.

Após a crise asiática e a moratória russa em 1998, Fernando Henrique foi forçado a deixar o real flutuar poucos dias depois de iniciar seu segundo mandato em janeiro de 1999.

Forçado a diminuir drasticamente o gasto público e a pedir ajuda ao FMI para reconquistar a confiança no país, o Brasil foi atingido por desemprego e criminalidade crescentes. E o crescimento econômico foi em média pouco mais de 2 por cento ao ano durante seu governo.

Houve importantes avanços na área social durante seu governo, no entanto, sobretudo na saúde e na educação. Mas ainda assim vários índices de pobreza permaneceram em grande parte inalterados, com cerca de 55 milhões abaixo da linha de pobreza.

Fernando Henrique parece ter passado seu segundo mandato pulando de uma crise financeira a outra, incluindo uma crise doméstica de energia elétrica, vários empréstimos do FMI e um ressurgimento da inflação nos últimos meses.

"Os avanços institucionais que geram dividendos coletivos no futuro ainda não são totalmente reconhecidos pelo público no Brasil", disse Haroldo Britto, analista político da Goes Consultores.



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