Lula faz promessas, mas diz que bravata é coisa de oposição
19h51 - 27/03/2003
Por Carmen Munari
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a fazer promessas em discurso dirigido a empresários nesta quinta-feira, mas garantiu que não é possível realizar bravatas para quem está no governo, apenas para quem é de oposição.
Lula prometeu enviar os projetos de reformas previdenciária e tributária ao Congresso ainda em abril, afirmou que vai conseguir reduzir os juros, resolver a questão social e combater o crime organizado.
"Há gente muito apressada. A gente quer fazer as coisas com cautela", disse Lula em uma repetição do seu recado aos "apressadinhos".
"Quando a gente é de oposição pode fazer bravata porque não vai ter de executar nada mesmo. Agora, quando você é governo tem de fazer e aí não cabe a bravata", disse Lula.
Mas alertou que neste primeiro ano "o governo vai fazer o que pode, para fazer o que precisa ser feito no segundo ano".
O presidente discursou para uma platéia de 1.300 empresários na cerimônia de posse do novo presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos.
Outros mil convidados ficaram do lado de fora do salão clube Monte Líbano, em São Paulo, e assistiram o discurso em um telão. Estavam no evento o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva; Mário Amato, ex-presidente da Fiesp; o vice-presidente da General Motors, José Carlos Pinheiro Neto, além do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Mesmo arrancando aplausos da platéia, Lula não deixou de dar cutucadas. Dirigindo-se a Mario Amato, afirmou que já se reuniu com mais empresários do que todos os governantes nos últimos 10 anos. Em 1989, quando Lula concorreu pela primeira vez à Presidência, Amato afirmou que milhares de empresários abandonariam o país se ele fosse eleito.
No final, afirmou que é preciso disposição política para realizar as mudanças. "Um país que tem a gente que nós temos, com a disposição que nós temos só não dá certo se os governantes atrapalharem."
A seguir, outros trechos do discurso do presidente:
REFORMAS
Lembrou que prometeu, como candidato, enviar ao Congresso os projetos de reforma tributária e previdenciária no segundo semestre, mas afirmou que será em abril.
"A coisa andou tão bem até agora, que não vamos mais esperar o segundo semestre, nós vamos dar entrada nas duas reformas agora no mês de abril".
Pediu aos empresários que exerçam a política e façam "lobby sadio" no Congresso pelas reformas. De seu lado, prometeu ir pessoalmente, junto com os 27 governadores, levar os projetos ao Congresso.
JUROS
Lula afirmou que reduzirá os juros, mas que isto não se faz "com o estalar de dedos ou varinha de condão", antes é preciso recuperar a credibilidade da economia. E lembrou a frase da campanha: "Nenhum país do mundo irá se desenvolver se as taxas de juros oferecidas pelo governo em troca de seus títulos for maior do que as taxas de lucros advindas da produção."
Mencionou que a taxa de risco do país e a cotação do dólar caíram depois da posse e confessou que está acompanhando diariamente, em um terminal de computador em seu gabinete, as oscilações da bolsa e do dólar.
"Um vício. Fico olhando direto. Tem gente que até reclama: eu vim aqui para conversar e você não pára de olhar o computador."
DAVOS
"Algum de vocês imaginava que eu pudesse ir a Davos? Imaginavam que eu pudesse ser o presidente mais aplaudido da história de Davos (local na Suíça onde se realiza o Fórum Econômico Mundial)?".
Para o presidente, os países do Terceiro Mundo se colocam como "coitadinhos" e estão sempre procurando culpar os países ricos por seus problemas. Admite que eles têm culpa, como no caso das barreiras tarifárias, mas afirmou que é preciso mudar esta postura e "brigar de verdade" na Organização Mundial do Comércio.
GUERRA
"Para qualquer governante do mundo, o ideal seria governar um país pequeno com PIB (Produto Interno Bruto) norte-americano. Daí ele até pode se dar ao luxo de fazer guerra. Mas poderia gastar com a paz, combatendo a fome no Terceiro Mundo, na África. Os EUA atacariam muito mais o terrorismo fazendo política social."
CRIME ORGANIZADO
Prometeu investir no aprimoramento da polícia, mas lembrou a dificuldade de prender os grandes criminosos.
Dirigindo-se ao político Paulo Maluf (PPB), que estava na platéia, disse: "Quem é pescador aqui sabe que um peixe grande demora mais para pegar. Se o Maluf é pescador sabe que pegar um lambarizinho é mais fácil do que pegar um pintado e um jaú... Tem que se pegar os peixes grandes, em águas profundas."
"Enfrentar isso pressupõe parceria, não é resultado para um governador, um presidente, ou para um prefeito. Tem de ser um compromisso da nação."
De São Paulo, Lula foi para o Mato Grosso do Sul, onde participaria de uma feira agropecuária.