Suicida palestino mata 20 em ônibus israelense
19h21 - 19/08/2003
Por Barry Moody
JERUSALÉM (Reuters) - Um suicida palestino destruiu na terça-feira um ônibus lotado de judeus ultra-ortodoxos que voltavam de suas orações em Jerusalém, matando 20 deles, inclusive crianças. O atentado é o golpe de misericórdia na trégua do Oriente Médio.
O Hamas e a Jihad Islâmica reivindicaram a autoria do atentado, que também feriu cerca de 100 pessoas e fragilizou ainda mais o plano de paz norte-americano para a região.
O local ficou repleto de braços e pernas amputados. Uma mulher jazia morta, com o peito destroçado, e um cheiro fétido de carne queimada se espalhava. Num canteiro da avenida, uma longa fila de sacos plásticos aguardava os cadáveres, que eram levados em ambulâncias. Muitas das vítimas haviam sido atingidos pelos estilhaços colocados dentro da bomba para torná-la mais letal.
"Parece ser o pior atentado em ônibus que já tivemos", disse Avi Zohar, funcionário do serviço de resgate. O ataque ocorreu no bairro ultra-ortodoxo da cidade, Shmuel Hanavi, perto da linha que separa o lado Ocidental de Jerusalém do lado Oriental, predominantemente muçulmano.
Zohar disse que os judeus voltavam de um lugar sagrado, o Muro Ocidental da Cidade Velha, aonde haviam ido rezar. Ele afirmou que havia crianças no ônibus, mas não precisou quantas.
A explosão representou outro duro golpe para a trégua de três meses declarada em 29 de junho pelos militantes islâmicos que combatem a ocupação israelense na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. O cessar-fogo é considerado essencial para o sucesso do plano de paz norte-americano, que prevê o fim da violência mútua e a criação de um Estado palestino até 2005.
ABBAS CONDENA ATAQUE
O primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas condenou o ataque, dizendo que ele "não atende aos interesses do povo palestino". Ele prometeu investigar o assunto.
Os EUA também condenaram o atentado e exigiram que haja sanções para os grupos militantes palestinos. Abbas, cujos esforços de paz têm o apoio do governo norte-americano, disse que sanções podem levar a uma guerra civil.
Yoni Peled, do Ministério do Exterior israelense, anunciou a suspensão das negociações a respeito da devolução do controle sobre quatro cidades da Cisjordânia aos palestinos, dizendo: "Acho que nunca houve cessar-fogo."
A entrega seria um passo significativo em relação às determinações do "mapa da paz", que depende da trégua, já fragilizada na semana passada, devido a um homem-bomba palestino que matou dois israelenses.
O chefe de polícia de Jerusalém, Mickey Levy, disse que o homem-bomba aparentemente explodiu no meio do ônibus, mas não ficou claro onde ele embarcou no veículo.
Longas hastes de metal retorcidas saíam do teto do ônibus. Um carro prateado, que bateu na traseira do ônibus, ficou abandonado com as portas e o capô abertos.
Um videotape divulgado pelo Hamas na cidade de Hebron, na Cisjordânia, mostrou um homem que se identificou como Raed Abdel-Hamid Mask dizendo que protagonizaria o atentado para vingar a morte de um membro do grupo.
Outro grupo militante, o Jihad Islâmico, informou em comunicado à TV Al-Manar, do Líbano, que executou o ataque, mas os representantes do grupo na Cisjordânia não quiseram confirmar a informação.