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Réus do 11 de setembro se recusam a responder perguntas e oram durante julgamento

Do UOL, em São Paulo

05/05/2012 14h08Atualizada em 05/05/2012 20h49

O homem apontado como cérebro dos ataques de 11 de setembro, nos Estados Unidos, se recusou a ouvir e a responder as perguntas do juíz durante o julgamentos dos cinco acusados de envolvimento no atentado de 2001.

O terrorista Khalid Sheikh Mohammed tirou os fones de ouvido, que permitiriam a ele escutar a tradução do julgamento do inglês para o árabe e, assim como os outros quatro acusados, recusou-se a responder as perguntas do juiz, o coronel militar James Pohl. Eles evitaram confirmar se queriam ser representados pelos atuais advogados, não responderam quando o juiz leu as acusações, o que acabou prolongando a audiência. 

"Uma pessoa não pode se recusar a responder a atrasar todo o procedimento", declarou o juiz. Como os réus não voltaram atrás, o juiz interrompeu a audiência rapidamente e, em seguida, retomou com um intérprete fornecendo tradução que era audível por todo o tribunal.

A audiência tem como objetivo iniciar a preparação de um novo julgamento contra Sheikh Mohammed e seus supostos cúmplices: Ali Abdul Aziz Ali, seu sobrinho; Walid bin Attash, ex-guarda-costas do falecido líder terrorista Osama Bin Laden; Ramzi bin al-Chaiba, treinado para pilotar um dos aviões envolvidos nos ataques e membro da célula de Hamburgo (Alemanha), e Mustafa Ahmed Adam al-Hawsawi, suposto encarregado do financiamento dos ataques.

Os cinco ouviram as acusações contra os réus, entre elas a morte das quase 3 mil pessoas nos atentados terroristas de Nova York, Washington e Pensilvânia. Eles ainda são acusados de terrorismo, sequestro de aeronaves, conspiração e violação da lei da guerra.

Em um determinado momento do julgamento, dois dos acusados se ajoelharam ao lado das mesas onde estavam os advogados de defesa e começaram a orar, vigiados atentamente por soldados americanos.

O advogado de Mohammed, David Nevin, disse acreditar que seu cliente não estava respondendo às perguntas por considerar o julgamento "injusto".

Mohammed, natural do Paquistão e capturado em 2003, é réu confesso dos atentados. Ele já se declarou ser responsável pelos ataques às Torres Gêmeas "de A a Z", além de outros 30 atentados. Ele também disse ter matado o jornalista do "Wall Street Journal" Daniel Pearl, sequestrado por terroristas e morto em 2002.

Já o advogado de Bin al-Chaiba, Jim Harrington, declarou que seu cliente não faria nenhuma declaração "se não fosse abordada a questão do confinamento" ao qual o réu vem sendo submetido. O juiz disse que ele poderia falar sobre isso depois, em outra audiência. Bin al-Chaiba levantou a voz e disse: "Talvez eu não esteja aqui mais tarde. Talvez eles me matem e digam que eu cometi suicídio".

O chefe da promotoria, general Mark Martins, indicou que as comissões militares de Guantánamo protegem os direitos de defesa dos prisioneiros e que as críticas da equipe de defesa sobre a legitimidade desta fórmula legal não estão fundamentadas.

As estritas medidas de segurança na Base Naval de Guantánamo foram elevadas para esta primeira audiência. O presidente americano, Barack Obama, queria que o julgamento ocorresse em Manhattan,mais perto de Nova York, local do atentado em 2001, mas foi impedido pela oposição republicana no Congresso, que barrou a transferência dos réus para território americano.

Alguns poucos jornalistas, observadores e familiares de vítimas foram autorizados a ficar na sala. Um desses familiares é Cliff Russell, irmão do bombeiro Stephen Russell, 40, morto enquanto tentava resgatar vítimas em meio aos destroços do World Trade Center. Ele disse que sentia-se confortável ao saber que os acusados podem ser condenados à pena de morte. Cliff, que também é bombeiro, ajudou no resgate de 23 vítimas nas Torres Gêmeas e disse que sentiu "a morte de perto, literalmente".

"Acho que tenho todas as evidências que preciso", disse ele, que desejou aos réus "a pior morte possível".

O processo será transmitido por circuito fechado de televisão a outras partes do país. O "julgamento do século", como é chamado por alguns, pode se prolongar durante anos. (Com Efe, AFP e Associated Press)