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Terremotos causam danos econômicos de 5 bilhões de euros e levam à ruína norte da Itália

Membro da equipe de resgate observa fábrica de cerâmica destruída na localidade italiana de Sant" Agostino, próximo a Ferrara - Giorgio Benvenuti/Reuters
Membro da equipe de resgate observa fábrica de cerâmica destruída na localidade italiana de Sant' Agostino, próximo a Ferrara Imagem: Giorgio Benvenuti/Reuters

Pablo Ordaz e Lucia Magi

Do El País, em Roma e Mirandola (Itália)

05/06/2012 06h00

Das 24 vítimas do terremoto na região de Emilia Romagna, 18 morreram sob os escombros de suas empresas. É um dado duplamente eloquente. Fala da diligência dessa região do norte da Itália -uma empresa para cada dez habitantes, de vinagre balsâmico ou queijo parmesão a indústrias biomédicas ou de peças para a Ferrari -, mas também de infraestruturas inadequadas. "Morrer em uma indústria porque as paredes desmoronam como folhas de papel não é digno de um país civilizado", diz Mayda Guerzoni, porta-voz do sindicato Confederação Geral Italiana do Trabalho.

Agora, enquanto a terra continua tremendo a um ritmo de 120 abalos por dia, centenas de milhares de atingidos esperam que seu governo e o da UE liberem os primeiros fundos necessários para um plano de choque já calculado. É o que conta o prefeito de Mirandola (província de Modena): "Antes das casas ou das escolas, temos de reconstruir as empresas. Só através do trabalho poderemos seguir em frente".

O primeiro golpe mortal foi recebido em 20 de maio. O segundo, no dia 29. Os números apresentados pelo governo e os sindicatos dão uma ideia da catástrofe: 20 mil trabalhadores ficaram temporária ou definitivamente sem trabalho porque 3.500 empresas desmoronaram. Cerca de 200 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas. Delas, 16.300 permanecem em 35 acampamentos de emergência. O movimento de terras fez que 200 mil hectares ficassem sob risco de aluvião. Por enquanto, calculam-se os danos econômicos em 5 bilhões de euros. Tudo isso sem contar o irreparável: as 24 vidas humanas e a destruição de uma parte considerável do patrimônio histórico de uma das regiões mais belas da Itália.

Os tremores e o medo não acabam. Muitos trabalhadores temem que suas empresas - já atingidas pela crise econômica - decidam fechar definitivamente. Na sexta-feira (1º), em San Felice sul Panaro, os operários da firma Icolor bloquearam os caminhões que pretendiam levar o maquinário para outra sucursal. Mostraram-se dispostos a voltar a trabalhar entre os escombros, mesmo sob o risco de sua integridade física, antes de perder seus empregos para sempre.

"Nos dez povoados afetados da província de Modena", explica Hermes Ferrari, porta-voz da CNA, associação que reúne artesãos e pequenas e médias empresas, "foram exportados para o exterior em 2011 produtos no valor de 10 bilhões de euros: 25% de toda a região, que é a terceira que mais exporta na Itália. Aqui há uma empresa para cada dez habitantes; 92% delas têm menos de 20 empregados. E por causa do terremoto 80% estão fechadas, seja porque sofreram danos, porque esperam a autorização da segurança ou por medo de novos tremores".

O medo do que possa acontecer e o calafrio do que se viveu. Entre esses dois temores sobrevivem os moradores das zonas mais afetadas. Maurizio Morini é de La Cappelletta, uma cooperativa de San Possidonio que perdeu cerca de 30 mil queijos.

"Na terça-feira estava trabalhando fora da queijaria e fiquei paralisado pelo terror. Quando terminou o terremoto, olhei ao meu redor e notei com alívio que a estrutura havia aguentado", ele conta.

Morini gira os olhos sobre as construções de painéis brancos arrematados em azul. "Depois abri a porta do armazém e os queijos rolaram para fora. Caíram todos, os 42 mil que guardávamos", diz, mostrando o arrepio que cobre seus braços ao lembrar daquele momento. La Cappelletta continua aberta, mas das 33 fazendas de leite que forneciam o produto toda manhã seis fecharam.

O governo da Emilia Romagna pede ao Executivo de Mario Monti - com a água da crise até o pescoço - que libere as verbas de ajuda o quanto antes. Há pressa para reconstruir as empresas, para evitar que vão embora.

O governo italiano já destinou uma partida de 500 milhões de euros, que arrecadará através de um novo imposto sobre a gasolina e reduzindo em 80 milhões o financiamento dos partidos políticos.

Espera-se também a chegada de 150 a 200 milhões do Fundo de Solidariedade da União Europeia. Os fundos que foram criados em 2000 não são voltados para particulares, mas para a reconstrução de infraestruturas e a proteção do patrimônio histórico.

Justamente o que desejam os orgulhosos e trabalhadores habitantes da Emilia Romagna. Em vez de esmolas, uma ajuda ágil e rápida para recuperar, primeiro o trabalho e depois a beleza herdada que o terremoto quis roubar.

Arriscar-se para salvar a empresa

Maria Nora Gorni, 65, é presidente da Consobiomed (a associação de empresas biomédicas) e uma empresária muito importante na Emilia Romagna. Diante dos 2.500 metros quadrados de sua empresa, a Ri.Mos, fundada em Mirandola junto com seu marido em 1985, está montando uma barraca: "Faço incursões dentro da fábrica e tiro computadores, telefones e alguns produtos que os hospitais me pedem com urgência".

De fora, a indústria não parece muito danificada. Mas por dentro sim, está: "Caíram todas as paredes divisórias e ainda não tenho aprovação dos bombeiros para entrar". Mas ela o faz. Entra sozinha e sai correndo poucos minutos depois, carregando caixas e sacolas. Depois de esperar um pouco, de olhar com receio a estrutura e o terreno, volta a correr para dentro.

"Os hospitais me telefonam e pedem os dispositivos ginecológicos que produzimos para que as mulheres deem à luz com segurança. O que vou fazer? Fico paralisada esperando que chegue outro abalo até sabe Deus quando, ou corro perigo? Claro que não vou abrir. Não quero pôr em perigo minhas 34 funcionárias. Se tiver que acontecer algo, que aconteça comigo. Para elas e suas famílias isto é um trabalho, mas para mim é minha vida inteira."

Gorni calculou um prejuízo de cerca de 200 mil euros. Propôs que suas funcionárias fossem para outra empresa deles em Brescia (Lombardia), mas elas não querem deixar a região. "Estamos ligados a este território. Pergunto-me se as multinacionais terão a mesma sensibilidade", diz.