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Católico fervoroso, novo presidente paraguaio vai à missa em local que foi palco de protestos

Guilherme Balza

Do UOL, Em Assunção

23/06/2012 18h27

O novo presidente do Paraguai, Federico Franco, acompanhou uma missa no final da tarde deste sábado (23) na área externa da catedral de Assunção, localizada na praça do Congresso. O local é o mesmo onde milhares de pessoas protestaram contra a deposição do ex-presidente Fenando Lugo, que aconteceu ontem. Cerca de mil pessoas participaram da cerimônia.

O núncio (embaixador do papa junto de um governo estrangeiro) da Igreja Católica no Paraguai, Eliseo Antonio Ariotti, disse neste sábado (23) que Franco pode contar com o apoio dos católicos para exercer os 11 meses de governo que tem pela frente. Segundo ele, o país viveu momentos delicados, mas agora é tarefa de todos contribuir para a normalização da situação. No país, cerca de 90% dos 7,3 milhões habitantes são católicos.

No entanto, o novo presidente enfrenta uma contradição desde o seu primeiro dia de governo: embora tenha assumido o cargo com amplo apoio dos parlamentares, sua gestão já nasce sem o respaldo da maioria dos vizinhos sul-americanos.

Franco não é reconhecido como presidente para a maioria dos países vizinhos, como Venezuela, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica. Cristina Kirchner, presidente argentina, qualificou o impeachment de “golpe de Estado”. "É um ataque definitivo às instituições que reedita situações que acreditávamos absolutamente superadas na América do Sul e na região, em geral", disse Kirchner. “A Argentina não vai convalidar [o impeachment].”

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, considerou ilegal e ilegítimo o governo de Franco. "O Estado venezuelano, não reconhece a esse inválido, ilegal e ilegítimo governo que se instalou em Assunção", declarou Chávez no palácio de Miraflores (sede do Executivo). O mandatário boliviano, Evo Morales, também disse não reconhecer um governo que não tenha sido eleito pelo voto. Rafael Corrêa, presidente do Equador, seguiu a mesma linha e sugeriu a saída do Paraguai da Unasul.

Brasil

Ontem (22), no final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, Dilma disse que acompanha de perto e com atenção as mudanças no Paraguai. Porém, vários ministros manifestaram dúvidas sobre o processo de impeachment movido contra Lugo pela rapidez e a forma como ocorreu. Em apenas 24 horas, ele foi destituído do poder.

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse ontem que a impressão inicial que o governo brasileiro tinha era que havia ocorrido um golpe de Estado no Paraguai, pois o processo “foge do senso de procedimento geral de Justiça".

População

Internamente, Franco também deverá encontrar resistência: lideranças políticas dos partidos de apoio ao governo Lugo, organizações camponesas, sindicais, estudantis e de sem-teto criaram uma “frente em defesa da democracia”, que pretende iniciar uma série de protestos contra o novo governo, incluindo uma greve geral e ocupações de terra. Integram a frente setores dos partidos Liberal e Colorado que não concordaram com o impeachment.