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Governo de Franco ironiza Lugo por gestão paralela e diz que ele pode responder judicialmente

Renata Giraldi

Da Agência Brasil, em Assunção

25/06/2012 12h16Atualizada em 25/06/2012 12h45

O novo governo do presidente do Paraguai, Federico Franco, reagiu nesta segunda-feira (25) com ironias à decisão do ex-presidente Fernando Lugo de instaurar um governo paralelo para fiscalizar e monitorar a equipe que o sucedeu. Para o ministro das Relações Exteriores paraguaio, José Félix Fernández Estigarribia, a iniciativa de Lugo é uma “piada” e se ele levar adiante sua decisão poderá responder judicialmente.

“É uma piada isso”, disse Fernández Estigarribia. “Ele [Lugo] é um ex-presidente. Não tem função administrativa alguma. Se ele falar como presidente, será submetido às sanções previstas nas leis paraguaias”, acrescentou.

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Pela manhã, antes de Franco empossar toda a equipe ministerial, Lugo fez uma reunião denominada Gabinete de Restauração da Democracia e anunciou a decisão de instaurar o governo paralelo. Segundo ele, seu gabinete vai fiscalizar a equipe de Franco.

“Os ministros [do governo paralelo] se converterão em fiscais e vão monitorar todas as instâncias do governo [de Federico Franco]”, disse Lugo, em entrevista coletiva, concedida depois da primeira reunião do governo paralelo, marcada para começar às 6h. Duas horas depois, Franco empossou os novos ministros do seu governo.

Lugo ainda declarou que iniciou um processo de "resistência pacífica" e de "não reconhecimento" do governo de Franco. "Já começamos a resistência pacífica e um não reconhecimento da presidência que se instalou depois do golpe de Estado parlamentar."

O agora ex-chefe de Estado agradeceu pelo "grande movimento de solidariedade internacional" em seu apoio, depois que o Mercosul suspendeu a participação do Paraguai da reunião de cúpula de sexta-feira na Argentina, em sinal de rejeição à sua deposição.

No último dia 22, Lugo foi destituído do poder. O processo de impeachment, permitido pela Constituição do Paraguai, foi aprovado pela Câmara e pelo Senado e, em menos de 24 horas, foi dada a decisão em favor da destituição do então presidente. Para a comunidade internacional das Américas, faltou tempo para Lugo se defender.

Veja as cinco acusações que levaram ao impeachment de Lugo

Mau uso de quartéis militaresA primeira acusação é o ato político ocorrido, com a autorização do Lugo, no Comando de Engenharia das Forças Armadas em 2009. Grupos políticos da esquerda se reuniram no local, usaram bandeiras e cantaram hinos ideológicos. Segundo o deputado José López Chávez, no ato, as Forças Armadas foram humilhadas, além de terem sido hasteadas outras bandeiras, num desrespeito a um símbolo nacional.
Confronto em CuruguatyNum dos piores incidentes sobre a disputa de terras no Paraguai, Lugo mandou 150 soldados do Exército para desocupar uma propriedade rural numa área de fronteira com o Brasil. No confronto com agricultores, ocorrido na última sexta-feira (15), ao menos 17 pessoas morreram. Das vítimas, sete eram policiais.
ÑacundayOutro ponto está relacionado às invasões de terras na região de Ñacunday, distrito localizado no departamento (equivalente a Estado) do Alto Paraná, a 95 quilômetros da fronteira do Brasil com o Paraguai. O deputado Jorge Avalos Marín acusa Lugo de gerar instabilidade entre os camponeses na área ao incentivar os próprios “carperos”, como são chamados os que acampa sob lonas pretas, as ditas “carpas”, encarregados da demarcação de terras.
InsegurançaOs parlamentares acusaram ainda o presidente Lugo de não ter sido eficaz na redução da insegurança que assola o país, embora o Congresso Nacional tivesse aprovado mais recursos financeiros. Além disso, eles criticam os gastos com a procura por foragidos do grupo criminoso EPP (Exército do Povo Paraguaio). Segundo o deputado, nunca na história o EPP (Ejercito del Pueblo Paraguayo), o braço armado do Partido de Izquierda Patria Libre, fez tantas vítimas entre integrantes da Polícia Nacional. Apesar disso, a conduta do presidente teria permanecido inalterada, o que teria dado mais poder ao grupo.
Protocolo de Ushuaia 2A assinatura do polêmico documento Protocolo de Usuaia 2 é visto como um atentado contra a soberania da República. Segundo a acusação dos parlamentares, o presidente não foi transparente sobre a assinatura desse documento já que até a presente data não havia encaminhado uma cópia do Congresso. A oposição a Lugo afirma que a assinatura do protocolo poderia resultar no corte do fornecimento de energia ao Paraguai, além de atentar contra a população e ter um claro perfil autoritário. Eles alegam ainda que Lugo tentou incluir medidas para fechar as fronteiras.