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Para analistas, "governo paralelo" de ex-presidente Fernando Lugo é gesto simbólico

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

26/06/2012 06h00

Ao não reconhecer Federico Franco como presidente do Paraguai e anunciar "governo paralelo", Fernando Lugo tenta reverter o seu impeachment. Mas analistas entrevistados pelo UOL acreditam que é pouco provável que o ex-presidente consiga voltar ao comando do país. Desta forma, sua decisão de instaurar um 'Gabinete da Restauração da Democracia' tem validade apenas simbólica.

Na opinião de José Aparecido Rolon, professor de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o gesto de Lugo foi uma forma de marcar sua posição. "Com a criação do que ele chamou de Gabinete da Restauração da Democracia, Lugo quer dizer que, embora tenha acatado decisão do congresso, não concorda com a forma como o processo foi conduzido".

No entanto, acrescenta, pouco deve mudar: "Em termos práticos, isso não deve provocar grandes consequências. É algo simbólico".

O professor Do curso de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Geraldo Adriano Godoy de Campos, tem opinião semelhante, mas pondera que a atitude de Lugo talvez possa influenciar as eleições do próximo ano.

"Foi a forma que ele encontrou para organizar as forças políticas que estão ao seu lado. Para saber com quem ele pode contar caso decida apoiar algum candidato à presidência do Paraguai nas eleições de abril".

Depois de ter o mandato cassado na última sexta-feira (22), o ex-presidente sofreu nova derrota nesta segunda (25), depois que a Corte Suprema do Paraguai rejeitou a ação de inconstitucionalidade movida por ele contra sua saída. "Lugo tentou recorrer, mas o Legislativo e o Judiciário paraguaios são ocupados pela oposição. Não há mais espaço para reverter essa situação no âmbito institucional", avalia Godoy de Campos.

De acordo com o especialista, a decisão de Fernando Lugo de criar uma gestão paralela é uma tentativa de articular seus apoios tanto no âmbito nacional como internacional. "Isso é o que resta a Lugo neste momento para tentar reverter essa situação já que ele não tem mais apoio nas esferas institucionais internas".

Apoio

O ex-presidente Fernando Lugo conta atualmente com o apoio dos camponeses que ajudaram a elegê-lo, além de parte da comunidade internacional. Diversos países da América Latina condenaram a saída do ex-bispo e outros nem chegaram a reconhecer o novo governo.

Organismos internacionais como a Unasul (União das Nações Sul-americanas) e o Mercosul (Mercado Comum do Sul) também criticaram a cassação do mandato de Fernando Lugo. Representantes de países-membros dessas duas organizações se reúnem de forma extraordinária esta semana para decidir sobre que atitudes vão tomar em relação ao caso paraguaio.

Eleito em 2008 para comandar o país, Fernando Lugo deixou o cargo depois de ser condenado em um processo de impeachment que durou pouco mais de 24 horas.

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