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Obama e Romney focam debate em estratégias de defesa e não ajudam eleitores indecisos, aponta especialista

Barack Obama (à esq.) e Mitt Romney recebem suas mulheres, Michelle e Ann, no palco ao final do debate - Saul Loeb/AFP
Barack Obama (à esq.) e Mitt Romney recebem suas mulheres, Michelle e Ann, no palco ao final do debate Imagem: Saul Loeb/AFP

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

23/10/2012 01h58Atualizada em 23/10/2012 02h15

Ainda que tenham dedicado cerca de um terço do debate para falar sobre assuntos domésticos --principalmente economia--, mesmo que o tema central fosse política externa, o presidente Barack Obama e o candidato republicano Mitt Romney usaram o restante do tempo do confronto realizado nesta segunda-feira (22), na Universidade de Lynn, situada em Boca Raton, Flórida, para abordar estratégias de defesa norte-americana e não ajudaram os eleitores indecisos a escolher em quem votarão no próximo dia 6 de novembro. Foi o que apontou Leandro Consentino, professor de sociologia e política do Insper (Instituto de Pesquisa e Ensino).

"O tema comércio exterior foi explorado muito pouco no debate", criticou ele, que também lamentou a falta de espaço para as discussão da relação dos Estados Unidos com a América Latina. "Neste quesito, Romney saiu na frente por ter feito ao menos uma menção à região. Mas Obama, que é tão admirado pelos brasileiros, não fez qualquer menção ao Brasil, que é um player importante por ser a sexta maior economia do mundo, tampouco ao México, que faz fronteira com o país."

Por outro lado, Consentino afirmou que o debate deixou bem claro as diferenças entre as estratégias de defesa republicana e democrata. Enquanto Romney, segundo ele, aposta na política de intervenção e do uso da força, Obama adota uma postura de conquistas baseadas em ideias e valores. "As discussões, no entanto, foram bem mornas. Parecia inclusive que os candidatos estavam lendo o mesmo teleprompter [equipamento acoplado às câmeras de filmar que exibe o texto a ser lido pelo apresentador]", relatou.

Estratégia que, de acordo com o especialista, foi usada pelos candidatos na tentativa de atraírem eleitores indecisos mais propensos à oposição. "Um estava tentando acenar para o eleitor do outro", explicou ele, que também relacionou a monotonia do debate à similaridade de opiniões em alguns casos, entre eles ao apoio incondicional a Israel e à cautela com o Irã.

E nem mesmo a questão da China, que prometia ser o ponto de maior embate entre republicanos e democratas, esquentou o último confronto dos candidatos. "Era o momento em que Romney tinha para, provavelmente, se colocar à frente de Obama, mas que acabou não se encontrando", relatou ele. "Mas a própria temática em si se torna um destaque. Até porque a existência de um bloco dedicado à ascensão da China mostra a preocupação que os Estados Unidos têm com o crescimento do país asiático."

Ao contrário dos debates anteriores, o confronto de hoje foi bem equilibrado entre os candidatos. Obama, no entanto, ganhou por pontos, conforme avaliou Consentino. "Não nocauteou o republicano, como no segundo embate", comparou ele, que disse que o presidente Obama se aproveitou da inexperiência do adversário no trato com política externa. "Ainda assim, Romney se aproveitou do atual calcanhar de Aquiles do democrata, que é o caso da morte do embaixador americano na Líbia, para questionar a efetividade da política adotada por ele nos últimos quatro anos."

O professor do Insper atribuiu esse equilíbrio entre os candidatos à permanência da indecisão dos eleitores que ainda não sabem em quem votar. "É importante ressaltar que a política externa não é uma questão que está movendo paixões, como nas eleições de 2004. A maior preocupação do eleitorado americano é com a economia. Por isso os candidatos tentaram a todo custo entrar nesse campo", comentou.

Diante deste empate, o desafio que fica para os dois candidatos é ainda maior nas próximas duas últimas semanas de campanha. "Ambos tentarão focar suas ações nas mulheres e na classe média, que são maioria entre os eleitores indecisos. Obama vai ainda apostar no voto antecipado, como na eleição passada, que o ajudou a vencer John McCain", concluiu o especialista.