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Professora trabalha no Starbucks para garantir plano de saúde nos EUA

Nos EUA, há opiniões contrárias e favoráveis à reforma no sistema de saúde proposta por Obama - Mark Wilson/Getty Images/AFP
Nos EUA, há opiniões contrárias e favoráveis à reforma no sistema de saúde proposta por Obama Imagem: Mark Wilson/Getty Images/AFP

Fabiana Uchinaka

Do UOL, em Chicago (EUA)

06/11/2012 12h00

Quando o relógio marca 12h, ela tira o uniforme e vai pegar sua coisas. Corre para sair do trabalho e anda por vários quarteirões, enquanto fala com a reportagem do UOL. “Você consegue me acompanhar?”, pergunta. E assim vamos pelas ruas do Lincoln Park, bairro mais ao norte de Chicago. A vida de Suzan Mishel, 50, é uma correria. Ela trabalha durante a manhã como atendente em uma das centenas de cafeterias da rede Starbucks na cidade, à tarde dá aulas como voluntária em um estúdio de ioga e à noite leciona inglês na faculdade comunitária da região.

“Eu trabalho no Starbucks porque eles me pagam os benefícios médicos. Se eu pudesse, pagaria meu próprio plano de saúde e viveria de dar aulas, que é o que eu gosto de fazer”, conta ela. “Mas é muito caro ter um seguro-saúde aqui nos Estados Unidos”.

Suzan é uma grande defensora do governo de Barack Obama e teme que o republicano Mitt Romney vença a disputa pela Casa Branca hoje. Ela acredita que o democrata “fez muito” e “está no caminho certo”. “Acho que nem as pessoas que o apoiam conseguem verbalizar o quanto estávamos em má situação quando ele assumiu. Sinto que, se ele perder, vai ser muito ruim para a maioria das pessoas, porque Romney só se preocupa com as pessoas ricas, em deixar as pessoas ricas mais ricas e as pobres mais pobres. Não é mais nem que vamos manter o status quo, a coisa vai piorar”, diz.

Mesmo com seu plano de saúde garantido, ela apoia a reforma da saúde feita por Obama, porque vê nela uma chance de um dia as coisas ficarem mais justas para todos, inclusive para ela, que sonha em se dedicar mais a ensinar.

Para os admiradores do governo democrata, uma das grandes conquistas do presidente nos últimos quatro anos foi a reforma no sistema de saúde, conhecida como Medicare --também chamado de Obamacare--, que ele conseguiu aprovar em 2009 e já está em andamento. Nos Estados Unidos, não existe rede pública de saúde --os hospitais e as clínicas de atendimento são privadas. Para ter acesso aos serviços médicos, a população em geral contrata um plano de saúde, administrado por empresas privadas.

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O governo subsidia um seguro-saúde para pessoas de baixa renda (Medicaid) e para idosos e inválidos (Medicare), mas a saúde no país está longe de ser universal. Uma das principais reclamações é a de que os requisitos para conseguir a cobertura são muito difíceis de serem preenchidos e a pobreza por si só não necessariamente qualifica alguém para o Medicaid. Além disso, mesmo quem consegue pagar --e caro-- por um plano privado, encontra dificuldades como a não cobertura de doenças pré-existentes.

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“Nós já temos um programa de saúde pública, o Medicare e o Medicaid. É o que a gente vem fazendo nos últimos 50 anos, só estamos aprimorando, então porque há tanto protesto?”, questiona Suzan.

O que o Obama fez foi ampliar a cobertura para pessoas sem plano --seriam mais 30 milhões de beneficiados-- e regulamentar de forma mais eficiente a ação das administradoras de planos de saúde. No entanto, os republicanos acreditam que o governo não deve bancar programas sociais, porque a dívida pública do país é muito alta (está em US$ 16 trilhões). Além de cortar gastos, os conservadores também querem cortar impostos e tornar o Estado menos intervencionista. 

Outro ponto de resistência para reforma diz respeito ao próprio jeito com que a população em geral enxerga as coisas. Enquanto os europeus, por exemplo, costumam achar que o governo deve garantir que todos tenham acesso à saúde, os americanos acreditam que cada um deve ser responsável por si.

Questionado sobre o que pensava do Medicare, um senhor, que se diz democrata e eleitor de Obama, respondeu: “As pessoas devem ser responsáveis por fazer algo por sua saúde. Eu nunca precisei usar o sistema de saúde, porque eu me mantenho saudável. Acho que o melhor jeito é ensinar as pessoas a ficarem saudáveis também. Por isso, dou aula de budismo de graça no centro comunitário daqui do bairro”, disse Allan Jones.

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“A questão é: quem vai pagar pela sua despesa médica? Não é de graça, nós vamos pagar com nossos impostos. Haverá aumento nos impostos? Não sabemos ainda. Mas acho que todas as pessoas responsáveis devem pagar pelo seu próprio seguro e não esperar ganhar de graça”, afirma Karl H. Riehn, dono da Riehn Insurance, uma empresa que vende seguros privados em Chicago.

Pela lei, todos os hospitais são obrigados a tratar qualquer pessoa que chegue ao pronto-socorro, independente de sua condição ou seu status de imigração. “O problema é que a conta fica para o hospital, que depois vai tentar recuperar este dinheiro com o paciente. Por isso, ouvimos histórias de pessoas que foram à falência por causa de uma cirurgia ou de um tratamento. É raro, mas acontece”, diz o vendedor.

Para se ter uma ideia, um plano simples para uma mulher de 30 anos, saudável e sem doenças pré-existentes, como a repórter, ficaria em torno de US$ 300 por mês (cerca de R$ 600), calcula Riehn, quase o valor de um salário mínimo no Brasil hoje.