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Quando renunciar, Bento 16 vai perder condição de infalibilidade

No Vaticano, papa Bento 16 acena para os fiéis, em 2011 - Alessandro Bianchi/Reuters
No Vaticano, papa Bento 16 acena para os fiéis, em 2011 Imagem: Alessandro Bianchi/Reuters

Da Agência Brasil

14/02/2013 14h23

Quando renunciar, no próximo dia 28, o papa Bento 16, de 85 anos, perderá a condição da infalibilidade, poder do qual se investe o pontífice para decidir questões de fé e moral da Igreja Católica Apostólica Romana e sobre o qual há presunção de não haver erro. Ao deixar o pontificado, Bento 16 perderá a possibilidade de não falhar. O papa só assume a condição de infalibilidade em situações específicas. Bento 16 não fez uso desse dogma.

"A infalibilidade está presente na figura do papa quando ele se dirige aos fieis sobre questões de fé e moral. O papa Bento 16 não usou o dogma. Há mais de 60 anos, os papas não usam esse dogma", ressaltou à Agência Brasil o padre jesuíta Luís Corrêa Lima, professor doutor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

Corrêa Lima disse que a infalibilidade foi usada em meados dos séculos 19 e 20. No século 19, o poder foi utilizado para estabelecer o dogma da Imaculada Conceição, que se refere à concepção do Menino Jesus pela Virgem Maria sem a mácula do pecado original. Pelo dogma, Maria foi preservada por Deus desde seu nascimento, por ser cheia da graça divina, e viveu uma vida livre de pecado.

O professor ressaltou ainda que a última vez que houve estabelecimento de um dogma por meio da infalibilidade papal foi sobre a interpretação a respeito da Assunção de Maria, a crença de que a Virgem foi levada em corpo e alma para os céus após sua morte. O papa Pio 12 foi quem definiu esse dogma.

A doutrina da infalibilidade do papa foi estabelecida pelo Concílio Vaticano 1º (1869-1870), durante o pontificado de Pio 12. Para os religiosos, o papa pode errar, mas não quando se dirige aos fieis na condição denominada de ex cathedra – expressão latina que significa “da cadeira ou do trono”. Na prática, o pontífice usa o poder na condição de sucessor de São Pedro, em nome da Igreja.

A renúncia 

O papa Bento 16 anunciou sua renúncia na última segunda-feira em um discurso pronunciado em latim durante um encontro de cardeais no Vaticano. Ao justificar sua decisão, o pontífice de 85 anos alegou fragilidade por conta da idade avançada.

ENTENDA O PROCESSO SUCESSÓRIO DO PAPA

Quando o chefe da Igreja Católica renuncia a sua função ou morre, seu sucessor é eleito pelos cardeais reunidos em conclave na Capela Sistina, onde ficam isolados do mundo exterior.

Cinco cardeais brasileiros deverão participar do conclave que se reunirá para eleger o sucessor do papa Bento 16. Segundo a última lista do Vaticano, há um total de 116 cardeais aptos a votar no conclave.

Para poder votar na escolha do papa, o cardeal precisa ter menos de 80 anos. O Brasil tem um total de nove integrantes no Colégio Cardinalício do Vaticano, mas quatro deles já ultrapassaram a idade limite.

"Após ter examinado perante Deus reiteradamente minha consciência, cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino", disse o papa.

O pontífice afirmou ainda que "no mundo de hoje (...), é necessário o vigor tanto do corpo como do espírito, vigor que, nos últimos meses, diminuiu em mim de tal forma que eis de reconhecer minha incapacidade para exercer bem o ministério que me foi encomendado". "Por esta razão, e consciente da seriedade deste ato, em completa liberdade, eu declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro", acrescentou Bento 16.
 
O Vaticano negou que uma doença tenha sido o motivo da renúncia. Mas, segundo o jornal "O Estado de S.Paulo", uma disputa interna de poder praticada por ex-aliados nos últimos meses pode ser uma das razões para a tomada de decisão do pontífice. Esta é a primeira vez na era moderna que um papa da Igreja Católica renuncia ao pontificado. 
 
A renúncia de bento 16 será oficializada no dia 28 de fevereiro. E o cargo ficará vago até a eleição do próximo papa. A expectativa é  que o Conclave de cardeais, eleja um novo papa ainda em março, antes da Páscoa. O Vaticano anunciou que a eleição deve começar entre 15 e 20 de março.
 
Cinco cardeais brasileiros deverão participar do conclave. Segundo a última lista do Vaticano, há um total de 116 cardeais aptos a votar no próximo papa. Para participar da papa, o cardeal precisa ter menos de 80 anos. O Brasil tem um total de nove integrantes no Colégio Cardinalício do Vaticano, mas quatro deles já ultrapassaram a idade limite.
 
Em sua primeira aparição pública desde o anúncio da renúncia, o papa Bento 16 disse que tomou a decisão "pelo bem da igreja". Bento 16 agradeceu pelo "amor" e apoio dos fieis.
 
"Queridos irmão e irmãs, como sabem, decidi renunciar ao ministério que o Senhor me confiou em 19 de abril de 2005. Faço isso em plena liberdade pelo bem da igreja, depois de ter rezado muito e após examinar minha consciência diante de Deus, ", declarou Bento 16 diante de um salão lotado com cerca de 10 mil pessoas no Vaticano, onde foi ovacionado.

'Hipocrisia religiosa' 

Leia mais sobre a renúncia

  • Filippo Monteforte/AFP

    Raio atinge a basílica de São Pedro no mesmo dia em que Bento 16 anunciou a renúncia

O papa Bento 16 denunciou durante a homilia da missa da Quarta-Feira de Cinzas "a hipocrisia religiosa" e a busca por "aplausos e aprovação".
 
Ainda no sermão, o pontífice defendeu que o "caminho penitencial" da Quaresma não deve ser feito pelo cristão sozinho, mas "juntos, irmãos e irmãs, na Igreja". Em seguida, citou as "divisões no corpo eclesial", a necessidade de fortalecimento da Igreja e defendeu que "viver a Quaresma numa mais intensa e evidente comunhão eclesial, superando individualismos e rivalidades, é um sinal humilde e precioso para aqueles que estão distantes da fé ou indiferentes".
 
Em referência ao apóstolo Paulo, lembrou que ele "denuncia a hipocrisia religiosa, as atitudes que buscam aplauso e aprovação" e pediu que o testemunho mais incisivo do cristão é o de quem "não serve ao mesmo e ao público, mas ao Senhor". Ao final da homilia, Bento 16 pediu que os católicos iniciem a Quaresma "confiantes e alegres". (Com agências internacionais)