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Três anos após terremoto, Chile tem 20% menos estações que medem movimento sísmico por falta de recursos

Bia Rodrigues

Do UOL, em Santiago (Chile)

27/02/2013 06h00

Três anos após o terremoto de magnitude 8,8 na escala Richter e tsunami de fevereiro de 2010 que deixaram centenas de mortos, o Chile trabalha para melhorar seu sistema de alerta, mas a rede de monitoramento da Universidade do Chile (UCh), fundamental para as informações sobre o movimento sísmico no país, possui 20% menos estações de medição. Em 2010, eram 74 estações e, atualmente, são cerca de 60.

Relembre

Mais de 500 pessoas morreram e 800 mil ficaram desabrigadas após o terremoto e o tsunami que devastaram grande parte do centro e sul do Chile em 27 de fevereiro de 2010.

A tragédia devastou seis regiões litorâneas e foi a pior da história recente chilena. Além das mortes, há ainda cerca de 25 desaparecidos.

O governo chileno estimou os prejuízos causados pelos tremores em US$ 30 bilhões.

Enquanto o sistema de monitoramento enfrenta problemas, o governo de Sebastián Piñera, que assumiu o país poucos dias após o terremoto --em 11 de março de 2010--, anunciou que até o momento 65% das casas do plano de reconstrução estão prontas. Segundo o balanço do Ministério de Habitação, 144.565 casas das 222.418 previstas foram entregues para as famílias afetadas. O prazo definido pelo governo para entregar todas as novas construções é março de 2014.

Segundo o Serviço de Sismologia da UCh, o sistema enfrenta “problemas de comunicação entre algumas estações e a central, os quais não conseguimos solucionar por falta de recursos”. “Algumas de nossas estações necessitam de manutenção e, por isso, temos um número menor funcionando”, disse o diretor científico do Serviço Sismológico, Sergio E. Barrientos, ao UOL.

No final de janeiro deste ano, os responsáveis pelo serviço da universidade publicaram um aviso alertando sobre a fragilidade do sistema e a possível descontinuidade do monitoramento por falta de recursos, que estariam com o Escritório Nacional de Emergência do Ministério do Interior (Onemi, sigla em espanhol). “Antes do comunicado, já estávamos conversando com a Onemi sobre as mudanças necessárias no sistema de monitoramento. Agora temos um acordo firmado, que está sendo avaliado pela Controladoria da República. Acreditamos que em março serão feitas as primeiras transferências de fundos para que possamos melhorar o nosso atual sistema”, informou Barrientos.

Convênio

Segundo a imprensa chilena, o diretor nacional da Onemi, Ricardo Toro, afirmou, durante evento realizado nesta segunda-feira (25), que a universidade deve seguir desenvolvendo a rede atual, já que o Chile é um dos países mais sísmicos do mundo. “O convênio vai sair esta semana e vai melhorar a rede. Não vamos seguir fazendo correções, vamos dar um upgrade definitivo”, disse Toro. O acordo firmado prevê o repasse de cerca de R$ 15,9 milhões.

O diretor científico do Serviço Sismológico informou ainda que há 600 novos instrumentos adquiridos pelo governo chileno que devem ser instalados nos próximos meses. “Esses novos instrumentos, que são aparelhos de GPS, sismógrafos e acelerógrafos [dispositivos para o registro de vibrações sísmicas de diferentes intensidades] medem diferentes dados. Temos 130 aparelhos GPS, 65 sismógrafos que medem a velocidade do movimento e cerca de 300 medidores de movimentos fortes, que só funcionam quando há um forte sismo. Estes instrumentos vão ajudar o trabalho de monitoramento”, disse Barrientos.

Vídeo: Relembre como foi

Monitoramento

Desde o terremoto de 2010, o sistema de monitoramento funciona 24 horas por dia, com revezamento das equipes na central que fica em Santiago, capital chilena. Os dados recebidos e processados pela central são entregues para o Serviço Hidrográfico e Oceânico da Marinha do Chile (SHOA, sigla em espanhol) e para a Onemi em tempo real.

O SHOA é responsável pelo monitoramento para determinar a possibilidade de tsunami. Durante os últimos três anos, o centro trabalhou na instalação de um novo Sistema de Alerta de Maremoto. Segundo o órgão, a determinação da ocorrência de um tsunami depende de informações do sismo (profundidade, magnitude e epicentro), que são repassados pelo Serviço Sismológico da UCh, pelo Centro de Alerta de Tsumani do Pacifíco (PTWC, sigla em inglês) e pelo Centro Nacional de Informação de Terremoto (NEIC, sigla em inglês).

“Usamos diversas fontes para as informações sobre profundidade, magnitude e epicentro de um terremoto, então, conseguimos determinar a ocorrência de um tsunami”, disse o capitão de navio e diretor do SHOA, Patricio Carrasco Hellwig, durante conferência para jornalistas nesta terça-feira (26), ao ser perguntado se a fragilidade do Serviço Sismológico da UCh era um problema. Carrasco disse ainda que com os investimentos feitos “temos como meta que em um prazo de cinco minutos se informe a população se há a possibilidade de ocorrência de um tsunami”.

O SHOA informou ainda que agora possui 37 marégrafos (17 a mais que em 2010), que detectam alterações no movimento e altura do mar, e implementou telefones e internet via satélite, para permitir a comunicação entre autoridades, polícia, bombeiros e outras instituições, caso ocorra um terremoto. Foram investidos R$ 18,5 milhões na modernização.

Tanto o diretor do Serviço Sismológico quanto o diretor do SHOA disseram que a população chilena não pode esquecer que “vivemos em um país sísmico” e que pode haver um terremoto em qualquer momento e lugar. “A população precisa se autoproteger e estar preparada para deixar o local porque não há nenhum sistema no mundo infalível. Os chilenos precisam saber o que fazer caso ocorra um sismo forte, sem esperar um alerta por parte das autoridades”, disse Carrasco.

Para Barrientos, foram feitos avanços em relação a simulação de terremotos e na construção civil. “As simulações ajudam muito, principalmente as pessoas que vivem nas zonas costeiras. As autoridades locais e os chilenos conhecem muito mais ao que estão expostos. Hoje se edificam obras de infraestrutura que suportam melhor o movimento produzido por um terremoto. O terremoto de 2010 afetou grande parte do país e ficou claro que precisamos participar do processo de cuidado de maneira mais responsável”, concluiu o diretor do Serviço Sismológico da UCh.