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Papa pede cuidado especial àqueles que têm "fome e sede"

Fernanda Calgaro

Do UOL, na Cidade do Vaticano

19/03/2013 06h35Atualizada em 19/03/2013 18h59

Durante a missa inaugural de seu ministério petrino, realizada na manhã desta terça-feira (19), o papa Francisco pediu especialmente aos chefes de Estados presentes, e também aos demais fiéis, que cuidem daqueles que têm "fome e sede". 

"Deus quer fidelidade à sua palavra", disse o pontífice. Essa palavra, segundo ele, inclui o respeito a todos e o cuidado por todos e por cada um, "especialmente pelas crianças e pelos idosos" e pelos "mais pobres e mais fracos".

Quem tem fome e sede, segundo ele, está em uma prisão. "E quem serve é capaz de proteger", acrescentou o sucessor de Bento 16. Para o papa, este é o caminho para que os sinais de destruição não acompanhem o caminho "deste mundo".

"Antes de guardarmos os outros, devemos cuidar de nós mesmos. O ódio, a inveja e o orgulho sujam a vida", afirmou o pontífice, que explicou que "guardar" é "vigiar" os sentimentos. "São deles que sai as boas e as más intenções."

No discurso, o papa também pediu maior proteção ao meio ambiente. A vocação de guardião, de acordo com ele, inclui "ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos". 

A missa reuniu milhares de fiéis na praça São Pedro para ver de perto a estreia do pontificado Francisco. "Viemos em um grupo grande, só para ver o papa", disse o aposentado italiano Cesar Sangale, que mora em Como, no norte do país.

A multidão aguardou pacientemente por horas a fio até o início da cerimônia. Quando o papa apareceu, foi uma explosão de emoção, ainda mais quando as pessoas se deram conta de que ele vinha em cima de um jipe aberto, sem o vidro à prova de balas do qual Bento 16 não abria mão. "É uma pessoa muito simples", repetia o argentino Martin Fernandez.

Cada gesto fora do script que o pontífice fazia era acompanhado de comentários e aplausos, como quando fez algumas vezes o sinal de "joia" para o público enquanto passeava de papamóvel, ou quando conferiu o relógio ao deixar a basílica de São Pedro para receber o pálio e o Anel do Pescador na praça, diante de todos.    

Para a freira indiana Aahna Kumar, 42, que está em Roma há alguns meses para estudar italiano, o sermão do papa foi muito comovente. "Foram palavras muito bonitas, pedindo especialmente para que as pessoas sejam guardiães umas das outras."

As freiras Gzifa Agya e Mawusi Agyeman, de Gana, que estavam ao lado da amiga indiana, também se consideravam muito sortudas por estarem na cidade bem na época em que um novo papa é eleito. "É uma benção muito grande participar dessa cerimônia tão especial, algo para não se esquecer nunca", disse Gzifa.

Perfil do novo papa

Primeiro papa latino-americano da história da Igreja Católica, Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, em 17 de dezembro de 1936.

Foi ordenado sacerdote em 13 de setembro de 1969. O jesuíta foi nomeado bispo titular de Auca e auxiliar de Buenos Aires pelo papa João Paulo 2º em 20 de maio de 1992. No mesmo ano, ele foi confirmado como bispo titular da capital argentina em 27 de junho.

Na Argentina, Bergoglio é conhecido pelo conservadorismo e pela batalha contra o kirchnerismo. O prelado também é reconhecido por ser um intenso defensor da ajuda aos pobres.

O argentino costuma apoiar programas sociais e desafiar publicamente políticas de livre mercado.

Bergoglio é considerado um ortodoxo conservador em assuntos relacionados à sexualidade, se opondo firmemente contra o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o uso de métodos contraceptivos.

Em 2010, entrou em controvérsia pública com a presidente Cristina Kirchener ao afirmar que a adoção feita por casais gays provocaria discriminação contra as crianças.