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Em "portunhol", papa dá conselhos sobre leitura de livro a Dilma

Renata Giraldi

Da Agência Brasil, da Cidade do Vaticano

20/03/2013 11h32

Falando uma mistura de português com espanhol, o papa Francisco conversou nesta quarta-feira (20) com a presidente Dilma Rousseff por cerca de 20 minutos no Vaticano. Bem-humorado, o papa recomendou que a presidenta leia um livro sobre a conferência dos bispos sul-americanos, presenteado por ele, mas disse que não há necessidade de ler todos os capítulos, apenas os que a interessem.

"Você não precisa ler tudo, porque pode se aborrecer. Então, você pega o índice e vai nos assuntos que te interessam", contou Dilma, reproduzindo o conselho de Francisco.

Em retribuição, a presidente entregou ao papa azulejos do renomado artista brasileiro Athos Bulcão (1918-2008), famoso pelos seus painéis no Congresso Nacional e diversos outros trabalhos.

Para ela, o fato de o papa ser argentino o diferencia por suas preocupações e sua sensibilidade em relação a temas como o combate à pobreza e o apoio aos mais frágeis. "Ele [Francisco] disse que está com o Brasil e com a América Latina. É um papa muito normal. Ele fala um portunhol e entende o português", disse ela.

E ao descrever detalhes sobre a reunião às portas fechadas com o religioso para os jornalistas, a presidente fez uma brincadeira e disse que o "papa é argentino, mas Deus é brasileiro". 

Mais detalhes sobre a reunião

A conversa com o pontífice, segundo ela, foi "bastante interessante". "Ele é uma pessoa extremamente carismática e, ao mesmo tempo, com um grande compromisso com os pobres, o que torna a relação com o Brasil muito importante para nós, porque o governo brasileiro vem, nos últimos dez anos, a partir do Lula, focando a questão da superação da pobreza". Dilma fez questão de dizer que foi a primeira pessoa a ser recebida pelo papa após a inauguração de seu pontificado.

A conversa com o pontífice abordou, entre outros assuntos, a visita de Francisco ao Brasil. O papa voltou a reafirmar que vai participar da Jornada Mundial da Juventude, que acontece em julho no Rio de Janeiro, e confirmou uma passagem na cidade de Aparecida, no interior de São Paulo. 

No encontro, o papa comentou ainda que ficou muito comovido com a tragédia em Santa Maria (RS) --onde um incêndio em uma boate matou mais de 240 pessoas-- e deu um conselho a ela, recomendando que, nessas situações, demonstre "força e ternura".  "Ele disse: 'Acho que a gente tem na vida que demonstrar força e ternura e, em Santa Maria, o Brasil demonstrou força e ternura'. E eu fiquei muito agradecida".

O combate ao crack também foi discutido. Dilma disse que Francisco ressaltou que é fundamental, para o combate às drogas, reforçar valores e princípios. “Conversamos sobre a questão das drogas e do crack, o reforço de valores, princípios e símbolos para a juventude”, destacou ela. 

A presidente brasileira já havia se encontrado por alguns segundos com o pontífice ontem (19), após a missa inaugural do papado de Francisco, realizada na basílica de São Pedro, no Vaticano.  Na ocasião, ela aparentemente teria dito ser um prazer ter um papa que se dedique aos pobres. 

Segundo o blog do jornalista Fernando Rodrigues, a visita de Dilma ao Vaticano, que inicialmente foi rejeitada pela própria presidente, atende a uma lógica de "marketing eleitoral". O artigo aponta a viagem como uma estratégia para atrair o eleitorado católico nas eleições de 2014.