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Fotógrafo teria filmado a própria morte durante conflito no Egito

Do UOL, em São Paulo

10/07/2013 15h25

O fotógrafo Ahmed Samir Assem, de 26 anos, do jornal egípcio "Al-Horia Wa Al-Adala", foi identificado como um dos 51 mortos pelas forças de segurança do Egito durante confronto com simpatizantes da Irmandade Muçulmana, na segunda-feira (8). Agora, um vídeo divulgado na internet mostra o que seria o fotógrafo filmando o momento da sua própria morte.

No trecho publicado, um soldado atira várias vezes sobre um muro. Em um determinado momento, ele se vira para a direção da câmera e atira antes da imagem escurecer.

Egito em transe

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A câmera e o celular do fotógrafo foram encontrados no local coberto de sangue, segundo o jornal britânico "Telegraph". Colegas de trabalho de Assem disseram que o fotógrafo levou um tiro na cabeça enquanto estava fazendo a filmagem.

Não é possível saber as circunstâncias exatas da morte de Assem. O vídeo teria sido exibido durante uma coletiva de imprensa promovida pela Irmandade Muçulmana.

Na madrugada de segunda-feira (8), ao menos 51 pessoas morreram em uma manifestação  violenta diante da sede da Guarda Republicana no Cairo.

No clima de tensão que prevalece no país, a Irmandade Muçulmana, a qual Mursi pertence, declarou que os soldados e os policiais abriram fogo sem motivo contra os manifestantes e denunciaram um massacre. O exército disse ter respondido a um ataque de "terroristas armados".

Localização do Cairo

  • Arte UOL

A Anistia Internacional e um grupo de ONGs locais denunciaram nesta quarta-feira (10) o uso desproporcional da força na gestão das manifestações islamitas pró-Mursi e exigiram uma investigação independente sobre os confrontos de segunda-feira.

"Embora alguns manifestantes possam ter se mostrado violentos, a resposta (do exército) foi desproporcional e é responsável por mortos e feridos entre a multidão", afirma a Anistia Internacional (AI) em um comunicado.

"Ainda que o exército afirme que os manifestantes atacaram primeiro e que nenhuma criança e nenhuma mulher tenham ficado feridos, os primeiros elementos apontam um cenário muito diferente", disse Hasiba Hadj Sahraui, um funcionário regional da ONG.

"Muitas vítimas foram atingidas (por balas) na cabeça e na parte superior do corpo", afirma a AI, que realizou investigações nos necrotérios e hospitais do Cairo e de Alexandria (norte). (Com The Atlantic e agências internacionais)

ENTENDA A CRISE NO EGITO


O que aconteceu?
O comandante-geral do Exército, o general Abdul Fattah al-Sisi, declarou na TV que a Constituição foi suspensa e que o presidente da Suprema Corte assumiria poderes presidenciais, na prática derrubando o presidente Mohammed Mursi. Com isso, Adli Mansour comanda o governo interino formado por tecnocratas até que eleições presidenciais e parlamentares sejam convocadas. No Twitter, Mursi chamou o pronunciamento de "golpe completo categoricamente rejeitado por todos os homens livres de nossa nação". Soldados e carros blindados rondam locais importantes do Cairo enquanto centenas de milhares de manifestantes protestam nas ruas.

O que motivou a crise?
O descontentamento começou em 2012, quando Mursi, 1º presidente democraticamente eleito do Egito, deu a si mesmo amplos poderes numa tentativa de garantir que a Assembleia Constituinte concluísse a nova Constituição. Desde então, houve uma cisão política no país. De um lado, Mursi e a Irmandade Muçulmana; de outro, movimentos revolucionários e liberais. Quando a nova Constituição, polêmica e escrita por um painel dominado por islamitas, foi aprovada às pressas, as manifestações em massa tomaram as ruas, e Mursi acionou o Exército. Mas enfrentamentos continuaram, deixando mais de 50 pessoas mortas. Diante da pressão, os militares deram um ultimato ao presidente, que tinha 48 horas para atender às demandas populares. Mursi insistiu que ele era o líder legítimo do Egito, e houve intervenção.

Qual o caminho traçado pelos militares?
Após encontro de líderes políticos, religiosos e jovens, o general Sisi disse que o povo clamava por "ajuda" e que os militares "não podiam permanecer em silêncio". Ele disse que o Exército fez "grandes esforços" para conter a situação, mas o presidente não atendeu "às demandas das massas" e era hora de por "fim ao estado de tensão e divisão". Como a nova Constituição era alvo de fortes críticas, ele suspendeu-a temporariamente. O general não especificou quanto tempo duraria o período transitório e o papel que será exercido pelos militares. Ele conclamou a Suprema Corte Constitucional a rapidamente ratificar a lei permitindo eleições para a Câmara Baixa do Parlamento, que está dissolvida, e para a Assembleia Popular. E afirmou que um novo código de ética será expedido.
  • Fonte: BBC Brasil