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"Foi uma saída honrosa", diz ex-embaixador Rubens Barbosa sobre Patriota

Débora Melo

Do UOL, em São Paulo

26/08/2013 21h52

A saída de Antonio Patriota do comando do Ministério das Relações Exteriores após a operação que trouxe o senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil foi descrita como “honrosa” por Rubens Antonio Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Londres (1994-1999) e em Washington (1999-2004), nos governos Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

"Acho que o Patriota não sai desprestigiado. Vai para Nova York, que é um lugar de que ele gosta, onde já serviu, assumir um posto de alto prestígio. Se tivesse sido demitido, não iria para esse cargo. Foi uma saída honrosa”, disse Barbosa, que hoje preside o Conselho de Comércio Exterior (Coscex) da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). 

Entenda o caso envolvendo o senador boliviano Roger Pinto

  • Arte/UOL

    28.mai.2012 - Durante encontro com embaixador, o senador boliviano Roger Pinto, da oposição ao presidente Evo Morales, pede asilo político ao Brasil
    8.jun.2012 - O governo brasileiro concede asilo e é criticado por Evo Morales dias depois
    19.jul.2012 - Governo boliviano sobe o tom e acusa o embaixador brasileiro de fazer "pressão"
    2.mar.2013 - Um acordo bilateral decide criar uma comissão para analisar o caso de Roger Pinto
    17.mai.2013 - O advogado do senador pede que o Supremo Tribunal Federal pressione o Itamaraty
    23.ago.2013 - Por volta das 15h, saem da embaixada brasileira em La Paz Roger Pinto, o diplomata brasileiro Eduardo Sabóia e dois fuzileiros navais, em dois carros diplomáticos oficiais. Eles percorrem mais de 1.500 km por terra em uma viagem de mais de 22 horas
    24.ago.2013 - Na tarde deste sábado, os carros chegam a Corumbá, no Mato Grosso do Sul e, à noite, pegam um jatinho de um empresário amigo do senador brasileiro Ricardo Ferraço (PMDB-ES) rumo a Brasília
    25.ago.2013 - Roger Pinto, Ferraço e Sabóia chegam a Brasília

Em nota divulgada pelo Planalto, Patriota é anunciado como novo representante do Brasil na ONU (Organização das Nações Unidas). Ele irá ocupar o cargo de Luís Alberto Figueiredo, que, por sua vez, foi indicado para o Itamaraty.

Barbosa afirmou ainda que a saída de Patriota “foi um acerto”, pois “resolveu um problema político entre Brasil e Bolívia”. A operação que trouxe o senador boliviano ao Brasil foi conduzida pelo titular interino da diplomacia brasileira em La Paz, Eduardo Saboia. Molina é acusado de diversos crimes de corrupção na Bolívia. Ele é opositor do presidente boliviano, Evo Morales, e estava asilado na Embaixada do Brasil em La Paz havia mais de um ano.

“Tiveram que resolver isso de alguma maneira, precisavam dar uma resposta para a Bolívia e para a opinião pública. Essa saída resolveu um problema político entre Brasil e Bolívia. Foi uma boa saída”, disse o ex-embaixador.

No domingo (25), o Itamaraty informou que não tinha conhecimento da chegada do senador boliviano ao Brasil. Conforme declarou o próprio Saboia, a decisão de trazer Molina ao país foi tomada sem consulta. “Acho que ele [Patriota] sentiu um mal-estar com essa situação. Aparentemente, nem ele nem a presidente [Dilma Rousseff] foram avisados. Eu achava que tudo isso havia sido combinado, mas, aparentemente, não foi”, disse o ex-embaixador.

Barbosa preferiu não comentar a atitude de Saboia, que chegou a dizer que não precisava de autorização do Itamaraty porque havia "risco iminente à vida e à dignidade" do senador. “Essa é uma questão de foro íntimo”, afirmou o ex-embaixador. Saboia foi afastado do cargo na noite desta segunda-feira (26).

O episódio foi o estopim de uma relação já desgastada entre Patriota e a presidente Dilma. Patriota era um dos poucos ministros que estavam no governo desde o início do mandato da presidente, em janeiro de 2011. Após o encontro com Dilma, Patriota reuniu diplomatas, assessores e funcionários do Itamaraty para anunciar a sua saída.