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"Quem perde com o desprezo do Brasil?", questiona New York Times após discurso de Dilma

Do UOL, em São Paulo

25/09/2013 15h56

Depois do discurso rígido da presidente Dilma Rousseff na abertura da 68ª Assembleia Geral da ONU, no qual fez críticas ao programa de espionagem dos Estados Unidos, uma série de artigos intitulada “Quem perde com o desprezo do Brasil aos EUA?” foi publicada nesta quarta-feira (25) na versão online do jornal norte-americano The New York Times.

O texto de introdução às análises de cinco especialistas (entre eles brasileiros) afirma que, depois de adiar a visita de Estado que faria aos EUA em outubro, Dilma disse na assembleia que a espionagem viola as leis internacionais e os direitos humanos. Na sequência, o texto afirma que, até então, os dois países estavam focados no fortalecimento da parceria --à medida que cresce o poder econômico do Brasil e os EUA tentam reduzir a influência da China-- e apresenta a seguinte questão: qual deles tem mais a perder com a deterioração das relações?

No primeiro artigo, “EUA têm mais a perder”, Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da unidade de São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas) afirma que a “repreensão severa” de Dilma pode estimular países como Alemanha e México a agirem da mesma forma em relação às denúncias de espionagem. Para Stuenkel, a presidente “preferiu não correr o risco de ser vista como submissa” diante da “corrida eleitoral apertada” de 2014. Quanto às consequências do discurso, o professor afirma que, “apesar do constrangimento temporário, a relação bilateral continuará em ascensão”.

No texto “Brasil tem mais a perder”, Eric Farnsworth, vice-presidente do Americas Society and Council of the Americas, afirma que o adiamento da visita de Estado “é um retrocesso para as duas nações” mas que, no final, “o Brasil vai arcar com um custo maior”. “Golpeando os Estados Unidos publicamente e, em seguida, reforçando a mensagem durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, a presidente Dilma Rousseff tem congelado a agenda bilateral”, disse. Para Farnsworth, é “estranho” que Dilma exija um pedido de desculpas dos EUA por espionagem sem reconhecer que outros países façam o mesmo.

No artigo “O adiamento requer duras verdades”, Julia Sweig, diretora dos programas América Latina e Brasil do Council on Foreign Relations e colunista do jornal Folha de S.Paulo, afirma que Obama ainda precisa pedir desculpas ao povo americano e às empresas do país pela espionagem. “Ele tem sido lento para reconhecer a violação da vida privada e não pediu à NSA [agência de segurança nacional dos EUA] que interrompa a vigilância. É difícil imaginar que o Brasil receba uma resposta mais satisfatória do que o povo americano tem até o momento”, pontuou.

O cientista político João Augusto de Castro Neves, analista do Eurasia Group, afirma, no texto “Há muito em jogo”, que é “improvável que o episódio faça descarrilar a agenda bilateral, embora Rousseff tenha expressado suas preocupações em um discurso na Assembleia Geral da ONU”. Para ele, a lição que fica é que, “independentemente da intenção ou extensão da espionagem americana que levou ao desprezo, o incidente demonstra a máxima de que a espionagem é para conhecer, e não para ser conhecida”.

No último artigo, “Por enquanto o Brasil parece injustiçado”, o cientista político brasileiro Maurício Santoro, conselheiro de direitos humanos da Anistia Internacional Brasil, afirma que o fato de a presidente Dilma ter adiado a visita oficial aos EUA, em vez de cancelá-lá, passa uma mensagem importante. “Ela mantém a porta aberta para o diálogo e, ao mesmo tempo comunica que a espionagem é um problema sério para o seu governo”, disse.