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"Fui dar um rosto aos imigrantes", diz brasileiro convidado para discurso de Obama

O brasileiro Lucas Codognolla mostra convite ao lado do congressista Jim Hines - Arquivo pessoal
O brasileiro Lucas Codognolla mostra convite ao lado do congressista Jim Hines Imagem: Arquivo pessoal

Thiago Varella

Do UOL, em São Paulo

30/01/2014 15h47

Na última terça-feira (28), o brasileiro Lucas Codognolla, 22, foi um dos convidados a assistir em Washington DC ao discurso "Estado da União" feito anualmente pelo presidente americano. O jovem, que vive no Estado de Connecticut, é um ativista pelo direito dos imigrantes indocumentados nos EUA e acompanhou tudo a apenas alguns metros da primeira-dama Michelle Obama.

"Foi um orgulho para mim. Eu não fui lá representar a mim mesmo, mas minha comunidade e os imigrantes indocumentados", contou.

O convite para participar do evento partiu do congressista democrata Jim Himes, também de Connecticut. O político tinha apenas um convite e chamou Codognolla como forma de dar "um rosto" à luta dos jovens que vivem há anos nos Estados Unidos e ainda não tem documentos para viver legalmente no país.

"Fui dar uma cara ao problema. É preciso que os políticos entendam que o problema da imigração não se resume a números. Estamos lidando com pessoas. Muitas vidas estão em jogo", disse.

Codognolla, que saiu de Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais, aos 9 anos e foi morar com a família em Stamford,  luta principalmente pelo direito dos "dreamers" (ou sonhadores, em português), como são chamados os jovens estrangeiros que vivem no país desde pequenos.

Eles aguardam que o Congresso americano vote um projeto chamado "Dream Act" (ou Lei dos Sonhos, em português), que legalizaria a situação de quem chegou aos EUA com menos de 16 anos, vive no país há mais de cinco anos consecutivos, estuda ou se formou nos EUA e não tem antecedentes criminais pode permanecer no país

  • Jewel Samad/AFP

    Barack Obama fala no discurso anual do 'Estado da União', em sessão conjunta do Congresso

O nome do projeto vem da sigla em inglês para Desenvolvimento, Ajuda e Educação para Menores Imigrantes.

O projeto tramita no Congresso desde 2001 e, como parte da reforma migratória proposta por Obama, sofre forte lobby democrata para ser votado ainda neste ano.

Apesar de não ter falado diretamente com o presidente, em um dos muitos eventos que ocorrem em Washington no dia do "Estado da União", o brasileiro conseguiu conversar com a líder do partido Democrata no Congresso, Nancy Pelosi.

"Ela é a número um do Congresso. Pelosi me disse que apoia nossa causa e que trabalha dia e noite para que o projeto seja aprovado", contou.

Em relação ao discurso de Obama, Codognolla afirmou que se sentiu um pouco decepcionado em relação ao que foi dito sobre imigração.

"Obama disse que uma reforma imigratória seria algo ótimo e enfatizou os benefícios econômicos da medida. No entanto, ele não mencionou os dreamers e os indocumentados. Mais grave ainda: ele não mencionou as deportações", disse.

O governo Obama está sendo marcado pelo alto número de imigrantes deportados. No primeiro mandato, o presidente deportou o dobro de imigrantes ilegais do que os dois mandatos de George W. Bush.

"Já que este será um ano de ação, como o próprio presidente disse, o que a gente queria é que ele fizesse uma ordem executiva para parar as deportações. Há uma espécie de cota de imigrantes presos diariamente nos centros de detenção. Isso precisa acabar", afirmou o brasileiro.

No fim do ano passado, liderados pelo congressista Luis Gutierrez, 29 deputados democratas pediram o fim das deportações de imigrantes sem documentos nos EUA. Nas poucas horas que esteve na capital americana, Codognolla também conseguiu falar com Gutierrez. "Ele está sempre lá por nós", disse.